Perfil
Auta de Souza: A voz pioneira e mística de uma poetisa Potiguar na poesia brasileira
Grande poeta, mulher negra, que com coragem e sensibilidade, enfrentou o preconceito contra as mulhres e plantou versos em meio à dor, que ainda brotam luz e inspiram

Por Comunicação do MST no RN
Da Página do MST
“Longe da mágoa, enfim no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais.”
- Auta de Souza
Nascida em 12 de setembro de 1876, em Macaíba, no Rio Grande do Norte, Auta de Souza teve uma vida breve, mas marcante. Filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues, ficou órfã ainda criança, perdendo pai e mãe para a tuberculose, doença que também a acompanharia até sua morte, aos 24 anos. Criada pela avó, Dindinha, foi levada ao Recife, onde recebeu sólida formação intelectual, aprendeu línguas estrangeiras, estudou literatura e logo começou a escrever versos influenciados por autores como Victor Hugo e Chateaubriand.
Aos 14 anos, recebeu o diagnóstico de tuberculose e precisou interromper os estudos formais. Mesmo assim, continuou sua formação como autodidata e, aos 16 anos, iniciou sua produção poética. A partir dos 18, passou a publicar em jornais e revistas do Rio Grande do Norte e de outros lugares, enfrentando o preconceito contra mulheres escritoras. Sua presença constante na imprensa e nos círculos literários, inclusive como a única mulher a publicar na Revista do Rio Grande do Norte, foi um ato de resistência por ser mulher, negra, nordestina e escritora em um tempo em que todas essas identidades eram marginalizadas.
Em 1900, lançou seu único livro: Horto, uma obra que reúne poesias profundamente espirituais, marcadas por lirismo, dor, fé e transcendência.
Auta falava da morte como retorno à luz divina e via na poesia uma forma de oração. Sua escrita romântica com traços simbolistas ganhou reconhecimento em todo o país, sendo elogiada por nomes como Olavo Bilac, que escreveu o prefácio da primeira edição do seu livro “Horto”, elogiando a sua poesia como uma alma que vibra em liberdade e sensações ardentes e tristes, traduzindo a vida em versos com uma “linguagem divina” que encanta.
Auta faleceu em 7 de fevereiro de 1901, em Natal. Foi enterrada no Cemitério do Alecrim e, anos depois, seus restos foram trasladados para Macaíba.
Em 1936, seu legado foi reconhecido pela Academia Norte-Riograndense de Letras, que lhe dedicou a cadeira nº 20. Em sua lápide, repousam os versos eternos de sua própria lavra:
Longe da mágoa, enfim no céu repousa / Quem sofreu muito e quem amou demais.”
“Não vês? Minh’alma é como a pena branca
Que o vento amigo da poeira arranca
E vai com ela assim, de ramo em ramo,
Para um ninho gentil de gaturamo…
Leva-me, ó coração, como esta pena,
De dor em dor, até a paz serena.”
Auta de Souza não foi apenas uma grande poeta, foi também uma mulher negra que, com coragem e sensibilidade, plantou versos em meio à dor. Sua poesia é flor que ainda brota, luz que ainda guia, fé que ainda inspira.
*Editado por Solange Engelmann