Comida de Verdade
“Temos que cumprir uma nova função na sociedade”, afirma Stedile na Feira da Reforma Agrária em PE
Dirigente Nacional do MST, João Pedro Stedile, participou de um debate na feira sobre Reforma Agrária e a produção de alimentos saudáveis.

Por Por Lucila Bezerra
Da Página do MST
Nesta sexta (19), a 2ª Feira Estadual da Reforma Agrária de Pernambuco recebeu o Dirigente Nacional do MST, João Pedro Stedile, em um debate sobre Reforma Agrária e a produção de alimentos saudáveis, realizado na Torre Malakoff, no Recife Antigo. Com a mediação da Deputada Estadual Rosa Amorim (PT), o Dirigente Nacional e economista abordou as mudanças na luta do MST pela Reforma Agrária, a partir da defesa da produção de alimentos saudáveis e da defesa do meio ambiente.
Stédile destacou que o desafio da Reforma Agrária hoje é a produção de alimentos saudáveis através da agricultura familiar camponesa, diante dos agrotóxicos que são a base do agronegócio.
A questão da Reforma Agrária hoje não é só uma questão de terra, mas da soberania do povo brasileiro. Nós vamos usar a terra para produzir alimentos saudáveis ou vai ser para produzir para exportação com veneno? É isso que está em disputa, mas temos a convicção de que o povo brasileiro está com a razão e vamos derrotar o latifúndio, afirmou.
Stedile analisou a conjuntura da produção agrícola no Brasil, entre o que ele chama de “latifúndio predador”, o agronegócio; e a agricultura familiar, praticada pelo MST.
A agricultura familiar é praticada por uma classe social: os camponeses, que existem há milhares de anos. A lógica é que a família primeiro tem que produzir alimentos para si; o excedente daquele esforço familiar, ela vende. E é esse alimento que vocês veem na feira e no mercado. Enquanto o agronegócio produz apenas cinco tipos de alimentos — soja, milho, trigo, algodão e pecuária —, a agricultura familiar produz mais de 600 tipos de alimentos. Isso na época de Câmara Cascudo, na década de 60; hoje deve ser ainda mais, disse.
O evento contou com a presença do deputado estadual João Paulo Lima (PT), da deputada estadual Dani Portela (PSOL), do militante dos direitos humanos e advogado Marcelo Santa Cruz, da militância do MST e da população do Recife que se interessaram em debater a pauta. Para a deputada estadual Rosa Amorim, que é militante do MST, trazer João Pedro Stédile para promover esse debate é fundamental para pensar os desafios da agricultura familiar hoje.

“Na conjuntura que enfrentamos hoje, na qual estamos vivendo uma crise climática, uma política que em sua maioria não representa o povo e um agronegócio que pouco se importa com a fome do povo, a agricultura familiar camponesa se mostra fundamental, alinhando a produção de alimentos saudáveis à preservação do meio ambiente, através do desenvolvimento sustentável”, disse Rosa, que é presidenta da Comissão de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal e coordenadora da Frente de Combate à Fome, à Segurança Alimentar e Nutricional na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE).

O vereador de Caruaru, Edilson do MST (PT), agricultor familiar camponês, militante do Movimento Sem Terra e assentado da Reforma Agrária, destacou a importância da produção de alimentos saudáveis para a soberania nacional. “Ter soberania nacional é garantir que o nosso país tenha autonomia alimentar, porque é isso que faz com que um país resista a ataques externos, como o que vemos hoje pelos EUA. Uma produção própria forte é o que faz com que não sejamos reféns da política externa.”
Stédile concluiu o espaço apontando os desafios que o MST enfrenta hoje, com as mudanças nesses mais de 40 anos de luta e história. “Quando nós nascemos lá na década de 80, nós só enfrentávamos o latifúndio atrasado, os que deviam para o governo, aquelas coisas todas. A luta era para cada família ter um pedaço de terra. Hoje, nós temos que cumprir uma função nova para toda a sociedade: produzir alimentos saudáveis, proteger a água, plantar árvores. Isso significa adotar também a agroecologia, ter as nossas próprias sementes, implantar aqui no Brasil fábricas de maquinários para agricultura familiar, avançar na produção de fertilizantes orgânicos”, elencou.

A 2ª Feira Estadual da Reforma Agrária de Pernambuco vai até este sábado (20), reunindo agricultores familiares camponeses de todo o estado para comercializar seus produtos, participar de debates, oficinas, apresentações culturais e praça de alimentação. O evento é gratuito e aberto ao público.
*Editado por Leonardo Correia