Produção
Assentamento Che Guevara realiza a 1ª Expocasserengue e comemora expansão da Nutrilê na PB
Evento marca a união de famílias do MST em busca de agroindustrialização na Reforma Agrária Popular

Por Carla Batista
Da Página do MST
Nos dias 19 e 20 de setembro, o assentamento Che Guevara, em Casserengue/PB, realizou a I Expocasserengue, um marco histórico para a região. O evento reuniu 101 animais vindos de seis municípios e contou ainda com a presença de expositores do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.
A I Expocasserengue só foi possível porque, há décadas, famílias Sem Terra decidiram enfrentar o latifúndio, ocupar, resistir e transformar áreas antes improdutivas em territórios de vida e produção. O assentamento Che Guevara é fruto direto dessa luta e, hoje, se tornou referência na organização da produção, na agroindustrialização e na construção de alternativas concretas para o desenvolvimento da região.
Entre os grandes destaques do evento esteve a celebração da Nutrilê, a primeira agroindústria de beneficiamento de leite da reforma agrária no Nordeste. Criada a partir da organização coletiva das famílias assentadas, a Nutrilê completou dois anos e já é referência estadual na cadeia do leite de cabra. Atualmente, coleta leite em 13 municípios da região, entrega em mais de 8 e beneficia mais de 1.200 famílias camponesas, mostrando que a reforma agrária popular é capaz de articular produção.

“Na parte do desenvolvimento econômico com geração de renda, na parte social com a participação e empoderamento das mulheres, da juventude, do pai de família que hoje pode dizer que não precisa ser obrigado a ir para São Paulo trabalhar no corte de cana, apanhar laranja. Hoje é possível viver aqui, trabalhar em sua terra”, afirma Augusto Belarmino, idealizador do evento.
Durante a Expocasserengue, foi anunciada a ampliação da capacidade de produção da Nutrilê, que passará de 4 para 11 mil litros por dia com a aquisição de uma câmara fria, fruto de parceria com o Projeto Cooperar. Esse salto não representa apenas aumento de produção: significa mais renda para as famílias, mais alimentos saudáveis para a população e mais soberania para o povo camponês.
Outro momento simbólico foi a assinatura do protocolo de interesse entre o INCRA/PB e o assentamento Che Guevara, garantindo apoio para a aquisição de um baú frigorífico. Esse equipamento vai permitir o transporte qualificado dos alimentos e a comercialização dos laticínios, fortalecendo ainda mais a política pública de aquisição de alimentos e garantindo que o fruto do trabalho camponês chegue à mesa do povo.


A programação também marcou a inauguração da usina de energia solar da Nutrilê, passo decisivo para a soberania energética da agroindústria, que agora conta com autonomia para produzir de forma sustentável, reduzindo custos e afirmando um modelo de produção que respeita a natureza.
A Expocasserengue também foi espaço de celebração, aprendizado e fortalecimento da cultura popular. Houve oficinas de voo de drone e de fabricação de queijo artesanal, bênção aos vaqueiros, torneio de futebol, apresentações culturais e a degustação dos produtos da Nutrilê. Um dos momentos mais marcantes foi o torneio de ordenha realizado com mulheres, que destacou o protagonismo feminino na produção, reafirmando que a luta pela terra também é uma luta por empoderamento e valorização das mulheres camponesas.
“Esse evento acontece aqui no Assentamento Che Guevara; porém, está abrangendo gente dos estados vizinhos como Rio Grande do Norte e Pernambuco, expositores e produtores de todos os municípios que conseguimos pegar o leite. Isso é muito importante para o fortalecimento e crescimento de toda essa região.”

Com a Expocasserengue, o MST reafirma que sua luta não se limita à conquista da terra, mas também se expressa na organização da produção, na cooperação e na construção de um modelo alternativo para o campo — um modelo que une dignidade, trabalho, soberania alimentar e energética.
A experiência do Assentamento Che Guevara mostra o caminho: quando a terra cumpre sua função social, ela produz vida, garante futuro e prova que outro Brasil é possível — um Brasil sem privilégios, sem blindagem para os poderosos e com dignidade para a classe trabalhadora.
*Editado por Fernanda Alcântara