Educação no Campo

Crianças Sem Terrinha participam do 20º Encontro Estadual no RS nos dias 9 e 10 de outubro

Encontro inicia com audiência pública na Assembleia Legislativa por melhorias estruturais em escolas do campo

Com o lema “Sem Terrinha em ação! Defender a natureza é defender o nosso chão”, o evento faz parte da Jornada das Crianças Sem Terrinha que acontece em todo o país de 6 a 12 de outubro. Foto: Sérgio Cardoso

Do Brasil de Fato

O Rio Grande do Sul sediará, nos dias 9 e 10 de outubro, o 20º Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha. Realizado sob o lema “Sem Terrinha em ação! Defender a natureza é defender o nosso chão”, o evento faz parte da Jornada das Crianças Sem Terrinha que acontece em todo o país de 6 a 12 de outubro.

Neste ano, a participação e o envolvimento das crianças Sem Terrinha na jornada, a partir das escolas do campo e territórios do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acontece por meio de encontros estaduais, regionais ou ações locais em assentamentos e acampamentos, com debates, espaço de formação, arte e cultura, brincadeiras e lutas em torno das temáticas da jornada.

Encontro realizado no ano passado em Nova Santa Rita. Foto: Divulgação / MST

No estado já foram realizados 19 encontros, sendo o último em 2019, em Nova Santa Rita, reunindo cerca de 250 crianças de várias regiões. “Este é um espaço de trocas, brincadeiras, formação e partilha entre crianças assentadas e acampadas”, explica a coordenadora do Setor de Educação do MST, Clarisse Teles.

A programação principal no RS ocorrerá em Nova Santa Rita, mas o primeiro dia (9) será marcado por atividades de mobilização em Porto Alegre.

Marcha e Audiência Pública pela Educação

O primeiro dia do encontro começará cedo, com a chegada das delegações, que farão um percurso em ônibus na frente dos estádios Arena e Beira Rio, concentrando-se no Gasômetro.

Após um café e um breve passeio pela Orla do Guaíba, as crianças participarão de uma marcha até a Assembleia Legislativa, onde visitarão a exposição fotográfica em alusão ao Dia da Criança, ilustrando Encontros das Crianças Sem Terrinha, e vão participar da Audiência Pública sobre a “Situação das Escolas do Campo em áreas de Reforma Agrária”, marcada para as 11h, na sala Salzano Vieira da Cunha.

A audiência é uma iniciativa do presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, deputado Adão Pretto Filho (PT), para debater as dificuldades enfrentadas pelas crianças que vivem em áreas rurais, especialmente aquelas residentes em assentamentos da Reforma Agrária.

Em Santana do Livramento, há relatos de alunos perdendo até metade do mês de aula devido às interrupções no transporte escolar. Foto: Divulgação / MST

Segundo Teles, o debate visa dar visibilidade à realidade vivida por centenas de crianças Sem Terrinhas e exigir soluções concretas e imediatas das autoridades. “As escolas do campo em áreas de Reforma Agrária cumprem papel fundamental no processo de desenvolvimento educacional, social e cultural das comunidades assentadas. As pautas que serão debatidas resultam de dois dossiês elaborados coletivamente, focados nas demandas estruturais das escolas e no impacto da precariedade das estradas”, informa.

O documento ressalta que as escolas do campo enfrentam um cenário de violação de direitos e negligência histórica. Os dois eixos centrais de desafios são:

Infraestrutura escolar precária: Muitas escolas estão há décadas sem reformas, operando com prédios improvisados, rachaduras, vazamentos, banheiros interditados, cozinhas inadequadas e ausência de refeitórios. Por exemplo, na Escola Estadual de Ensino Médio Nova Sociedade, em Nova Santa Rita, o prédio tem mais de 30 anos e os banheiros estão interditados há mais de 7 anos. Em São Gabriel, as escolas funcionam em estruturas de madeira improvisadas.

Dificuldades de acesso e transporte: Estradas de chão sem encascalhamento e pontilhões inseguros tornam as vias intransitáveis em períodos de chuva, resultando na suspensão recorrente das aulas e comprometendo o direito à permanência escolar. Em Santana do Livramento, há relatos de alunos perdendo até metade do mês de aula devido às interrupções no transporte escolar.

Teles reforça que as demandas centrais que serão apresentadas na audiência incluem a liberação imediata de recursos para reformas emergenciais, a retomada dos projetos de ampliação e construção de escolas arquivados, e um plano emergencial de recuperação das estradas. Como encaminhamentos esperados, está a criação de um Grupo de Trabalho Interinstitucional (MST, Seduc, Incra, prefeituras e sindicatos) para acompanhamento da pauta e a definição de prazos e compromissos públicos.

Agroecologia e cultura

Escolas do campo cultivam hortas junto com as crianças. Foto: Divulgação / MST

Após o deslocamento para o local do encontro em Nova Santa Rita, a programação da tarde do dia 9 inclui a abertura oficial com animação e mística de boas-vindas. O evento terá um viés internacional com a Roda de apresentação: “Quem somos nós, Crianças de luta do mundo todo!”. A noite será dedicada a um jantar e à Mostra das Escolas.

O segundo dia, 10 de outubro, será dedicado ao estudo temático e às atividades artístico-pedagógicas. Após a Mística e o Circuito de brincadeiras, será realizado um Estudo Temático com foco em agroecologia, preservação ambiental e o plano nacional Plantar Árvore e Produzir Alimentação Saudável. Como ato simbólico do tema, está previsto o plantio de uma oliveira.

A tarde do dia 10 contará com uma apresentação teatral. O encontro será encerrado oficialmente com a síntese das atividades e a leitura da “Carta das Crianças Sem Terrinha do RS”, seguida de um lanche coletivo e o retorno das delegações.

Editado por: Katia Marko