Esporte feminino

Parceria inédita entre MST e time de futebol feminino Ferroviária dá seus primeiros frutos

Em seletiva com participação de integrantes do Movimento, a Sem Terrinha Nicoly Gonçalves foi selecionada para jogar profissionalmente na categoria de base

Sem Terrinha Nycole Gonçalves em campo (ao centro). Foto: Acervo pessoal

Por Lays Furtado
Da Página do MST

Uma parceria entre o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) e o Ferroviária Futebol S/A (FSA), de Araraquara (SP), formalizada em agosto deste ano, foi a porta de entrada para que a Sem Terrinha Nicoly Gonçalves, de 11 anos, pudesse realizar o sonho de jogar futebol de campo profissionalmente.

Após a seletiva ocorrida em setembro, a craque Sem Terrinha realizou testes em campo na semana passada, onde foi admitida na pioneira equipe de futebol feminino conhecida como as Guerreiras Grenás. A partir disso Nicoly passa a representar o Movimento vestindo a camisa do Ferroviária, inspirando outras jovens de acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária à seguir carreira com a bola no pé.

“A partir dessa nova etapa, eu faço parte da Ferroviária, do time da ferroviária feminina, na categoria sub-13, e nessa nova jornada eu estarei representando o MST e as mulheres no futebol”, declara Nicoly, animada para os próximos passos que a levarão a residir em Araraquara, para seguir profissionalmente em campo.

A mãe da Sem Terrinha, Helena Gonçalves Barbosa, que acompanhou a filha na seletiva, conta que: “Nicoly nasceu com a bola no pé, brincando de bola nos amistosos do assentamento Eli Vive, em Londrina, no Paraná. Ela e seu irmão gêmeo, Nícolas, desde cedo foram incentivados pelo pai, [Jauri Dias] a jogarem futebol”.

Helena e Jauri, que fazem parte da luta pela terra há duas décadas, receberam com alegria o apoio da Articulação Nacional de Esportes do Movimento, que possibilitou a participação da jogadora na seletiva parceira e ficaram ainda mais contentes com o anúncio de sua seleção para o time. O que significa uma realização para toda a família.

Parceria visa a profissionalização do futebol feminino nos territórios da Reforma Agrária

Copa de Futebol da Reforma Agrária no Paraná. Foto: Leonardo Henrique

A Associação Ferroviária foi pioneira ao investir na profissionalização das atletas do futebol feminino, mesmo quando a modalidade ainda não era obrigatória e a estrutura era precária no clube. O time também é pioneiro no desenvolvimento em infraestrutura para a modalidade, sendo o primeiro a anunciar um Centro de Treinamento (CT) exclusivo para o futebol feminino no Brasil, no início deste ano. Atributos que levaram a equipe a se tornar referência nas categorias de base e gestão, que abastece a seleção brasileira e se destaca em competições nacionais e internacionais.

A parceria inédita entre o Clube Ferroviária e, o recém criado, Coletivo de Esportes do MST volta-se para a valorização e difusão do futebol feminino, contribuindo com a capacitação técnica e profissionalizante, a realização de seletivas em polos territoriais do MST, e com a intenção de avançar na contratação de atletas promissoras. A meta é avaliar 2 mil jogadoras durante o período de um ano.

“A nova parceria entre o setor esportivo do MST e o Clube da Ferroviária de Araraquara representa um encontro de trajetórias comprometidas com a transformação social. Historicamente, a Ferroviária sempre valorizou o futebol feminino, apostando na modalidade com seriedade e parcerias públicas, muito antes da recente ascensão do profissionalismo no Brasil”, menciona Aira Bonfim, historiadora e autora do livro Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios – uma história social.

Como parte da parceria, estão previstas formações técnicas para integrantes do MST, com o objetivo de realizar uma preparação das seletivas com o time Ferroviária, para que as primeiras seleções ocorram dentro dos assentamentos e acampamentos organizadas pelo Movimento, e que depois possam ocorrer seletivas oficias do Ferroviária neste territórios. As primeiras seletivas devem ocorrer nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

Outra parceria é a instrução técnica para formação de coordenadoras de escolinhas de futebol e técnicas de futebol. A partir dessa instrução, o MST pretende criar 30 escolinhas de futebol por todo o país.

Os estados de Pernambuco, Piauí, Paraná e Rio Grande do Sul já contam com escolas de futebol presentes nos assentamentos conquistados pela luta da Reforma Agrária. E nos estados do Rio Grande do Sul, Pará, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia, Paraná e Ceará também já estão sendo realizadas Copas e Campeonatos estaduais da Reforma Agrária, com a presença de atletas femininas e times na modalidade esportiva.

Com os primeiros frutos da parceria despontando, a expectativa é fomentar ainda mais o esporte como lazer, e acúmulo coletivo de conhecimento, mas também para a descoberta de mais talentos que vivem nas zonas rurais, que possam ter a oportunidade de realizar o sonho de construir uma carreira profissional em um dos esportes mais praticados e amado do Brasil, o futebol.

*Editado por Solange Engelmann