Agroecologia É O Caminho
Feira agrega a diversidade de saberes e sabores no 13º CBA
Com a presença de diversas organizações populares e entidades, a Feira representa uma vitrine das potencialidades da agricultura familiar e o fortalecimento de redes de cooperação no setor

Da Página do MST
De 15 a 19 de outubro, durante o 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) em Juazeiro (BA), acontece a Feira de Saberes e Sabores da Economia Solidária e da Agroecologia. A iniciativa é um dos destaques da programação do CBA e celebra a diversidade que a agroecologia pode produzir. Ao circular pelo espaço é possível encontrar mais do que produtos, sejam eles alimentares, de beleza, de artesanato, de saúde, de saberes e de insumos para a agricultura.
Líria Aquino, da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), aponta o papel do espaço no fortalecimento de iniciativas produtivas da região e também nas trocas de saberes com outros territórios.
“Esse processo fortalece as feiras, que são algo nosso, dos povos, e também possibilita o entrelaço com outras organizações, agricultores/as e camponeses/as do Brasil. Além disso, nos permite consorciar os nossos afazeres e a prática cotidiana com as questões teóricas que a universidade traz. Então, além das vendas, podemos assimilar e levar para a nossa base alguns entendimentos que são importantes, como as tecnologias sociais.”
Líria ressaltou ainda a importância das sementes crioulas no debate da agroecologia como um todo. “Todas as barracas do MPA trazem a centralidade das sementes, que é o que dá origem a uma alimentação saudável. Sem as sementes crioulas, a gente não consegue fazer essa produção 100% agroecológica e saudável.”

Já Adailton Souza Santos, do acampamento Terra Nossa do MST, no município de Juazeiro, região do Salitre, coordena o estande com mudas de árvores nativas e agricultáveis. O agricultor comenta sobre o processo de resistência no território e o objetivo da produção nos viveiros.
“Essas mudas são produzidas no nosso acampamento, a maioria são frutíferas e outras são nativas, como o pau ferro, o Juá e a jurema preta. O MST tem essa preocupação com a produção de mudas agroecológicas e, mais ainda, com o reflorestamento. Está em nossa pauta produzir e plantar um milhão de árvores por ano”, ressalta.

O MST já plantou 45 milhões de árvores em cinco anos e mira 100 milhões até 2030. O objetivo é fortalecer a produção de alimentos saudáveis nas áreas de assentamentos e acampamentos do MST, denunciar o modelo destrutivo do agronegócio e seus impactos no meio ambiente, uma vez que se compreende que a questão ambiental está diretamente relacionada com a Reforma Agrária.
A Feira Saberes e Sabores é uma verdadeira amostra do que a agricultura familiar e a economia solidária produzem em todo o Brasil e tem a participação de coletivos, associações e cooperativas de diversas regiões e povos, formando um grande mosaico produtivo.
É o caso do Centro Público de Economia Solidária (Cesol), uma iniciativa de caráter comunitário voltada para a articulação de oportunidades em geração de renda, fortalecimento e promoção do trabalho coletivo, baseado na economia solidária.

Ariane Ribeiro, da equipe de comercialização do Cesol, ressalta a importância de participar de espaços como esse, pois fortalece a iniciativa já realizada na Bahia. “A gente vem representando os empreendimentos que fazem parte da nossa rede; em nosso estande você encontra produtos de várias regiões de empreendimentos econômicos solidários, tais como cooperativas, grupos familiares e associações.”
No âmbito dos saberes, encontramos um estande da Expressão Popular, que historicamente fortalece a elaboração e difusão do conhecimento em torno da agroecologia. Thiago Mangini, da coordenação da editora, aponta que a participação neste espaço vai além das vendas. “Aqui se concretiza uma das missões da editora que é fazer o pensamento de esquerda, progressista voltado à agroecologia circular de forma acessível para as pessoas. E esse é um espaço privilegiado para nós, porque justamente é o momento em que, durante o ano, se juntam as pessoas que estão pesquisando, estudando e que estão na prática fazendo agroecologia no Brasil.”

Fernanda Nunes, estudante de agronomia da Universidade Federal de Pernambuco e bolsista do Projeto Jandaíras, que trabalha com povos e comunidades tradicionais do Nordeste e Norte de Minas Gerais, destaca: “São 37 grupos produtivos de mulheres, entre elas quilombolas, pescadoras marisqueiras, indígenas, povos de terreiro, ciganos, quebradeiras de coco e catingueiros também. Estamos trazendo para a Feira todos esses grupos que produzem produtos não perecíveis, como colares, artesanatos, oriundos de mel de abelha, entre outros. Esse é um espaço que ajuda a divulgar os produtos e promover a troca de experiências com grupos de outras regiões, enriquecendo a iniciativa, principalmente a juventude.”
A iniciativa do projeto integra o Núcleo JUREMA Feminismos, Agroecologia e Ruralidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que busca ampliar e fortalecer o campo teórico e prático e é coordenado por Laeticia Medeiros Jalil, Professora de Sociologia na Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE, com ênfase em sociologia rural, gênero, feminismo e agroecologia.
A Feira conta ainda com um espaço para exposição dos produtos artesanais indígenas, convergindo os saberes tradicionais com as tecnologias na produção e reprodução da vida.
Sobre o Congresso Brasileiro de Agroecologia
Realizado a cada dois anos desde 2003, o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) é construído por uma ampla frente de parceiros nacionais e internacionais, configurando-se como o maior encontro latino-americano de agroecologia.
Mais que um espaço de fortalecimento da agroecologia como ciência, o CBA é um território de diálogo entre diferentes formas de conhecimento, proporcionando legados agroecológicos em todos os territórios por onde ele passa.
*Editado por Fernanda Alcântara