Caminhos da Agroecologia

Caminhos da Agroecologia: plantar árvores, produzir futuro

MST transforma o Parque Municipal de Belo Horizonte em um território vivo de saberes camponeses, resistência ambiental e semeadura de futuros agroecológicos

Caminhos da Agroecologia: Fotos: Matheus Teixeira

Por Ali Nacif 
Da Página do MST 

No segundo dia da 5ª Feira Estadual da Reforma Agrária, o espaço Caminhos da Agroecologia, organizado pelo MST, se firmou como um dos núcleos de maior troca, reflexão e construção coletiva dentro do evento. No coração do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, o espaço se apresenta como uma trilha viva de experiências camponesas, denúncia e resistência, onde a terra, a semente e o alimento se unem como força política e social.

Agroecologia como base da Reforma Agrária Popular

Para Tuíra Tule, do Assentamento Quilombo Campo Grande, o Caminho da Agroecologia é uma vitrine do projeto político e de vida que o MST constrói há décadas.

Agrocologia como Base. Foto: Matheus Teixeira

“Estamos na nossa quinta Feira Estadual da Reforma Agrária aqui em Belo Horizonte, e este é o nosso Caminho da Agroecologia um caminho importante que a gente tem para apresentar à sociedade os passos que já demos na construção da Reforma Agrária Popular, que tem como pilar fundamental a agroecologia”, explica.

O espaço é também um contraponto direto ao modelo predatório de mineração que marca Minas Gerais.

“Aqui temos nosso Programa Popular de Agroecologia da região do Paraopeba e do Vale do Rio Doce. São projetos que se opõem a esse modelo de destruição, marcado pelos crimes da Vale em Mariana e Brumadinho. Queremos mostrar outra forma de se desenvolver uma que cuida da terra e da vida”, reforça Tuíra.

Mãos Solidárias e a força do trabalho coletivo

Muda de árvores nativas. Foto: Matheus Teixeira

Entre as ações apresentadas no espaço estão as Mãos Solidárias, iniciativa que articula cozinhas solidárias nas periferias de Belo Horizonte e em diversas cidades mineiras, garantindo alimento saudável para quem mais precisa.

“As Mãos Solidárias são uma ferramenta de diálogo com a sociedade. Junto a outras organizações, como o povo quilombola, levamos comida de verdade para quem precisa. E mais do que isso: levamos dignidade”, afirma Tuíra.

Além da produção de alimentos, a ação integra brigadas de alfabetização e agentes populares de saúde, fortalecendo o vínculo entre campo e cidade.

“Temos uma grande brigada de alfabetização com diversas turmas espalhadas por Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce e no Jequitinhonha. É uma construção coletiva que conecta educação, saúde e agroecologia.”

Metodologias que unem ciência e saber popular

O professor Pedro Abreu, coordenador geral do Projeto Camponês a Camponês e docente da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), destacou a dimensão formativa e integradora do Caminho da Agroecologia.

“Aqui a proposta é integrar os diversos processos junto ao MST. Atuamos em seis regionais de Minas Gerais com uma metodologia horizontal, que reconhece e valoriza os conhecimentos agroecológicos existentes entre as famílias camponesas”, explica.

Foto: Raquel Matos

Segundo ele, o espaço é também uma oportunidade para o público conhecer uma forma concreta de fazer agroecologia, baseada na autonomia e no saber popular.

“Quem vier até a feira vai poder conhecer uma forma de produção sem agrotóxicos, que não exclui o conhecimento camponês, pelo contrário, o coloca no centro do processo. É um modelo que tem funcionado no mundo inteiro, e aqui mostramos como ele pode ser feito com organização e resultados.”

Agroecologia como estratégia de superação da crise ambiental

Para Maira Pereira, da coordenação do espaço Caminhos da Agroecologia, o ambiente foi pensado como um espaço político de apresentação e esperança.

“Pensamos este espaço para mostrar nossa estratégia de superação da crise ambiental, que é a agroecologia. Trouxemos experiências de todo o estado: desde os bioinsumos e o projeto Camponesa-Camponês até as ações de educação, cultura e o programa Mãos Solidárias, com alfabetização e plantio coletivo”, detalha.

Caminhos da Agroecologia. Foto: Maria Olivia

A tenda também abriga telas de denúncia, cartilhas, sementes crioulas e registros de ações, compondo uma narrativa viva de luta e resistência. A culminância do percurso está no Sistema Agroflorestal (SAF), onde o público participa do plantio simbólico de árvores, reafirmando o compromisso com um futuro sustentável.

“Plantar árvores e alimentos saudáveis é colocar em prática nossas estratégias de transformação social e de paisagem. É afirmar que outro modo de viver e produzir é possível”, conclui Maira.

Agroecologia é futuro: convite à transformação

Mais do que um espaço expositivo, o Caminho da Agroecologia se tornou um espaço de partilha, escuta e construção coletiva. É onde o MST reafirma que reflorestar é resistir, e que a luta pela terra também é uma luta pela vida.

A Feira Estadual da Reforma Agrária segue até o dia 19 de outubro, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em Belo Horizonte, reunindo experiências de todo o estado em torno da agroecologia, da cultura camponesa e da solidariedade.

“Cuidar da terra é plantar futuro.”

*Editado por Agatha Azevedo