Agroecologia
Defesa da Natureza é tema do segundo dia da Feira da Reforma Agrária em MG
Com Assembleia Popular e rodas de conversa, MST discute a crise ambiental e o enfrentamento através da agroecologia

Por Agatha Azevedo
Da Página do MST
Ao longo de todo o sábado, 18 de outubro, a Feira Estadual da Reforma Agrária e Agricultura Familiar debateu a defesa da natureza e o enfrentamento da crise ambiental através de processos coletivos e agroecológicos. Para o MST, a solução para a crise ambiental é coletiva, construída pelo povo através da agroecologia e tem que ser enraizada pela classe trabalhadora como uma pauta essencial à vida, que atravessa o campo e a cidade.
Para isso, é preciso organizar o debate de tecnologias que estejam aliadas ao trabalho da agricultura camponesa, tenham estruturas de financiamento público e popular, denunciem e combatam os crimes do agronegócio, do capitalismo e da mineração.
Assembleia em Defesa da Natureza
Durante a manhã, a Feira realizou a primeira Assembleia Popular em Defesa Natureza, ação que ocorrerá em todos os estados em que o MST está organizado, com representantes do MST, do MAM, do Sindsema e do Cenarab. O debate girou em torno da construção do enfrentamento à crise ambiental e climática sob a ótica do povo. A Assembleia é uma das ações para a construção da Cúpula dos Povos, que denuncia a lógica capitalista e elitista da COP30.
Segundo Maíra Santiago, do Setor de Produção do MST, questionar a COP30 de forma coletiva é construir o poder popular.

“O fogo e o veneno matam a nossa produção e a nossa vida. Estamos em uma crise ambiental causada pelo capitalismo, e só tem uma saída: a agroecologia”, afirma.
Para ela, o embate é de um projeto político que defenda o Bradil. “O agronegócio disputa a saída da crise de maneira individual, através dos créditos de carbono. Nós colocamos a vida das pessoas no centro da discussão”, pontua Maíra.
Para o Wallace Silva, a raíz da discussão está em entender quem será afetado pela crise. “É sobre a classe trabalhadora, é sobre quem não vai ter dinheiro para comprar água potável no futuro, quem vai ter que consumir alimento com veneno, por isso wue nós temos que exigir dignidade para as pessoas, reforma agrária, reforma urbana. Nossa solução não é empresarial, a matemática capitalista é uma farsa, a solução que nós temos é o poder coercitivo do povo”, aponta Wallace.

Para Makota Celinha, o racismo estrutural e o patriarcado estão entrelaçados na crise ambiental e na fome, e é preciso mudar a realidade de quem está nos espaços de poder. “A comida de qualidade não chega por conta da ganância humana que não permite. O MST é nosso primo, os primeiros sem terra deste país somos nós, pretos e pretas. É preciso reconhecer a nossa história.”, contextualiza.
Prosas Agroecológicas
Na parte da tarde, as Prosas Agroecológicas, organizadas de maneira aberta e circular, seguiram as discussões em torno da crise ambiental e climática e a produção Agroecológica do MST.
Na roda de conversa sobre os incêndios que atingem o campo brasileiro, o debate girou em torno da importância da formação de Brigadas Populares de combate ao fogo nos territórios sem terra e nas regiões de mata.
Durante a conversa sobre os investimentos sustentáveis para a produção saudável, a Crehnor (Cooperativa de Crédito Rural dos Pequenos Agricultores e da Reforma Agrária) e o Finapop (Financiamento Popular para Alimentos Saudáveis) dialogaram com camponeses e representantes da sociedade e de cooperativas sobre o fomento à produção agroecológica.

A roda aponta para a importância do crédito na transição agroecológica. Segundo Luís Costa, Diretor do Finapop, é desta maneira que é possível construir o enfrentamento ao modelo do agronegócio, já que o estado não supre essa demanda produtiva.
“É preciso que a gente tenha instrumentos sob domínio da classe trabalhadora para financiar a produção da agricultura familiar e camponesa, e direcionar esse crédito para ações que fazem sentido pra classe trabalhadora”, aponta.
Para Luís, é a partir do protagonismo da sociedade que se avança no cooperativismo. “O financiamento está dentro da mesma luta por comida saudável, por soberania e por direitos, portanto é preciso o diálogo com a sociedade. Está tudo interligado.”, explica.
Esse debate integra a estratégia da consolidado da cooperativa de crédito Crehnor em Minas Gerais. Aguinaldo Batista, do Setor de Produção do MST,
“A Crehnor é antes de tudo um banco da classe trabalhadora. Serve para financiar o desenvolvimento da reforma agrária popular que construímos. Ou seja, para produzir alimentos saudáveis e alimentar o Brasil, atendendo a necessidade da cooperativa, tomadora de crédito, dos produtores tores que fazem a solicitação do crédito, e da sociedade, que se beneficia do alimento produzido”, explica.
Aguinaldo afirma que a Crehnor faz um debate formativo na Feira Estadual da Reforma Agrária, com o objetivo de “promover desenvolvimento com acompanhamento para que a pessoa se realize na aplicação do crédito, a cooperativa produza e gere renda e a Crehnor se financie”.
Em meio ao cenário de construção da COP30 de maneira apartada do povo, o MST aponta caminhos e respostas para a crise ambiental e climática a partir de suas práticas, que vão desde a Feira, como práxis produtiva, à formação das famílias sem terra e das coooerativas e ao diálogo com a sociedade.