Feira da Reforma Agrária
Feira da Reforma Agrária celebra o segundo dia com cultura, trocas e consumo consciente
Feira da Reforma Agrária celebrou o encontro entre campo e cidade

Por Ali Nacif
Da Página do MST
O sol abriu cedo sobre o Parque Municipal Américo Renné Giannetti e iluminou o segundo dia da 5ª Feira Estadual da Reforma Agrária, evento organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Entre o cheiro de café coado e o colorido das barracas, o sábado começou com capoeira, música, alimentos saudáveis e a alegria de quem reconhece a feira como um espaço vivo de encontro entre o campo e a cidade.
Das 8h às 18h, o público circula entre produtos da agricultura familiar, alimentos sem veneno, artesanatos, livros, apresentações culturais e debates sobre o futuro do planeta. No chão da feira, o que se cultiva é o consumo consciente, a solidariedade e o respeito à terra, princípios que orientam o projeto político da Reforma Agrária Popular.
Campo e cidade se encontram no chão da feira
Logo no início da manhã, a Roda de Capoeira embalou o público e abriu o dia com energia e ancestralidade. Pouco depois, a Assembleia Popular em Defesa da Natureza reuniu camponeses, quilombolas, estudantes e militantes ambientais para discutir os desafios da crise climática e os caminhos para a sustentabilidade.

Entre as barracas, o movimento é constante. Aline Lopes, moradora de Belo Horizonte, caminha entre os estandes com a filha, admirando o que encontra.
“Eu soube pelos meus colegas de trabalho e vim porque sabia que ia encontrar muita coisa interessante, coisas naturais, da terra. Eu prezo muito pela minha alimentação e pela da minha filha. Essa feira é um bom apoio pra quem busca isso”, conta.
Para ela, o mais importante é o diálogo com quem produz:
“Conversei com quase todos os feirantes, vi como foi o trabalho deles, e essa troca foi muito especial. A gente percebe o cuidado, o esforço, o amor. Aqui, as pessoas não estão só pra vender ou consumir, estão pra conversar, trocar, construir junto.”
Beleza, pertencimento e compromisso com o comum
A feira, que chega à sua quinta edição, é também espaço de reencontros e pertencimento. Para Lucas, museólogo e visitante de segunda viagem, o evento representa uma oportunidade de conexão com o território e com as lutas populares.
“Acho que tem um público que está naturalizando mais a feira. A primeira edição foi mais festiva, de convite. Agora a gente vem com mais naturalidade, com o sentimento de que precisa estar presente, de que esse é um espaço pra mostrar que a gente compartilha dessas ideias”, reflete.
Com sacolas cheias, ele mostra os produtos que escolheu:
“Comprei mel orgânico de abelha sem ferrão, arroz do povo do sul, sabonete do Vale do Jequitinhonha. Cada produto tem uma história, e acho que todo mundo devia sair de casa hoje pra ver isso, pra se enxergar no mundo. A feira faz a gente se ver como parte dele.”
Solidariedade e reconhecimento do trabalho camponês
Para Sônia Mascari, moradora da capital e integrante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), visitar a feira é um gesto de apoio político e afetivo.
“Vim pra conhecer, mas também pra apoiar o povo trabalhador que produz. O MST é um movimento que admiro muito pela organização e pelo trabalho. É preciso valorizar essas pessoas que fazem tanto, com tanto esforço”, destaca.

Entre as cores das hortaliças, os aromas das cozinhas e os sons do palco, Sônia caminha observando as barracas e os rostos. “A gente percebe o quanto é trabalhoso esse processo, e o quanto é bonito também. É o resultado da força de um povo que acredita na terra.”
A construção coletiva da feira e o diálogo com a sociedade
Entre os que constroem o evento, Lucas Brose, integrante da Cooperativa Crehnor, destaca o caráter coletivo e político da feira: “Foi uma construção muito gostosa coletivamente, onde a gente estabeleceu qual seria o objetivo da feira e como o MST consegue dialogar com a sociedade. É um espaço de mostrar o que a gente produz nos assentamentos e acampamentos, mas também de refletir sobre saúde, comunicação e cultura.”
Segundo ele, a feira é mais do que um ponto de venda de produtos, é um espaço de encontro de classes e de formulação política.“Esse é um momento único, onde o diálogo entre a classe trabalhadora rural e urbana acontece. É mais do que encontrar um produto direto da cooperativa ou algo que não se acha mais nas cidades. Aqui é um espaço de diálogo político da classe trabalhadora, de reflexão sobre o que será o nosso futuro coletivo.
Brozo também destaca que o evento se conecta com o cenário nacional e com o compromisso do movimento em criar alternativas concretas ao modelo econômico dominante.
“É um espaço de formação e de construção de uma nova economia, feita a partir da solidariedade. Não é só sobre o que a gente planta ou vende, mas sobre como a gente organiza o mundo que quer viver.”
Entre os destaques do dia, ele cita a prosa agroecológica marcada para a tarde, momento em que o MST apresenta ao público seus instrumentos de financiamento solidário:
“Hoje vai ter um momento muito especial, a prosa agroecológica, onde a Crehnor e o Finapop vão dialogar com a sociedade sobre formas de investimento direto nas cooperativas da Reforma Agrária. É uma maneira de mostrar que a gente pode criar nossos próprios caminhos de crédito, sem depender do mercado financeiro. É a primeira vez que a feira traz esse debate aqui em Minas Gerais.”
Cultura, comida e consciência ambiental
A programação deste sábado segue intensa: às 11h, o palco principal recebe o show de Mina Flor e Zé Pinto; às 14h, o Bloco Pisa Ligeiro realiza um ensaio aberto, seguido pela Oficina de Captura de Abelhas e pelas Rodas de Conversa sobre Investimentos Sustentáveis e a Campanha contra os Agrotóxicos.

O dia também contou com um Ato de Solidariedade, com distribuição de alimentos produzidos nos assentamentos do MST, reafirmando o compromisso de que a comida é um direito, não mercadoria.
Encerrando o sábado, às 16h, a cantora Titane sobe ao palco com o lançamento do clipe “Madeira”, em parceria com o Bloco Pisa Ligeiro, uma celebração poética da natureza e da força coletiva que move a feira.
Feira é resistência, partilha e futuro
A 5ª Feira Estadual da Reforma Agrária segue até o domingo, dia 19 de outubro, reafirmando o projeto da Reforma Agrária Popular como caminho concreto para um Brasil mais justo, sustentável e solidário.
Entre barracas, tambores e sementes, o MST planta não apenas alimentos, mas também planta futuro.