Cooperativismo

Frutos da cooperação: nova agroindústria da Reforma Agrária amplia produção de feijão

Agroindústria da cooperativa Copacon tem capacidade para beneficiar mais de 40 toneladas de feijão por dia, e irá atender famílias camponesas de todo o Paraná. 

Convidados cortam a fita vermelha de inauguração da agroindústria. Foto: Breno Thomé Ortega

Por Coletivo de Comunicação do MST no Paraná
Da Página do MST

A cooperação e a unidade marcaram a grande festa de inauguração da agroindústria de feijão da Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), no Assentamento Eli Vive, em Londrina, no norte do Paraná. O evento aconteceu nesta quinta-feira (16), Dia Mundial da Alimentação e da Soberania Alimentar.

A nova agroindústria representa um marco na autonomia produtiva da cooperativa, com capacidade para beneficiar até 40 toneladas de feijão por dia. Isso significa o fim da dependência de atravessadores, maior geração de renda para as famílias camponesas e mais qualidade para um dos principais alimentos do prato da população brasileira. 

A expectativa da cooperativa é de que a renda das famílias produtoras possa aumentar em até 50%. “Vai diminuir custo de frete, de beneficiamento, as perdas nesse processo”, explica Fábio Herdt, presidente da Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná (CCA) e da Copacon. 

“Todos nós sabemos que no mundo ainda tem muita gente que não tem uma refeição por dia. O desafio do MST e da Reforma Agrária é, com nosso sistema cooperado, produzir alimentos saudáveis em quantidade para atender toda essa demanda estadual e mundial de alimentação, tão necessária”, afirma. 

A festa reuniu milhares de camponeses e camponesas de acampamentos e assentamentos de todo o Paraná, além de aliados do MST e autoridades de diversos órgãos. Entre os presentes estavam Márcia Lopes, ministra das Mulheres do Governo Brasileiro; Enio José Verri, Diretor-Geral Brasileiro; Gilberto Carvalho, secretário nacional da Economia Solidária e Popular do Ministério do Trabalho e Emprego; João Carlos Ortega, chefe da Casa Civil do governo do Paraná; Norberto Ortigara, secretário da Fazenda do Paraná; deputados estaduais Arilson Chiorato (PT), Goura (PDT), Professor Lemos (PT); deputados federais Lenir de Assis, Tadeu Veneri e Elton Welter (PT); Nilton Bezerra Guedes, Superintendente Regional do INCRA-PR; Leila Klenk, Superintendente do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA-PR).

A emoção também ganhou forma de canção com a apresentação da Orquestra Camponesa, formada por crianças, adolescentes e jovens de comunidades da reforma agrária da região. A comunidade se preparou nos dias anteriores para garantir o café da manhã e o almoço gratuitos a todas as pessoas participantes. Uma feira de alimentos frescos e produtos da reforma agrária de todo o Paraná também fez parte das festividades. 

Marcia Lopes, que está à frente do Ministério das Mulheres, é natural de Londrina, município onde está localizado o Assentamento Eli Vive e a Copacon. Em seu discurso, ela reafirma a força das mulheres camponesas, que cuidam da família e trabalham no campo. “Quando a Reforma Agrária é defendida por pessoas, movimentos, inclusive com as mulheres muito presentes, dá certo. Com a Reforma Agrária, o acesso à terra, a produção de alimentos, os resultados acontecem e são bons pra todo mundo. Não apenas para as famílias envolvidas, mas para a sociedade”, afirmou a ministra.

Ministra Márcia Lopes representando o Governo Federal na inauguração da agroindústria. Foto: Breno Thomé Ortega

Sandra Ferrer, coordenadora política do MST, está no Eli Vive desde 2009, quando ainda era acampamento. Ela se emociona ao contar a história da evolução do assentamento e da cooperativa. “Acompanhar esse processo de evolução da produção de comida de verdade, para nós famílias do MST é a realização de um sonho. Uma cooperativa com capacidade de processar 40 mil quilos de feijão por dia, isso significa muita família trabalhando, muita família produzindo, livre da miséria, podendo ter o que comer com qualidade”. 

Também estiveram presentes na inauguração o Diretor-Geral Brasileiro e o Diretor de Coordenação da Itaipu Binacional, Enio Verri e Carlos Carboni. Patrocinadora do evento e aliada de investimentos na Agricultura Familiar e sustentável. “Não existe no mundo um país que seja desenvolvido que não tenha realizado a reforma agrária, o Brasil está há 500 anos atrasado. Nós temos que investir na Reforma Agrária, porque a Reforma Agrária é inclusão social, é o acesso ao capital, é a construção da justiça e a contribuição. A produção de uma alimentação boa, séria e que dá qualidade de vida a toda a população. Contem com o nosso projeto para a construção de um Brasil justo, inclusivo, mas principalmente soberano”, afirmou Enio Verri, no ato político de inauguração. 

Roberto Baggio, da Direção Nacional do MST, reafirma a capacidade da Reforma Agrária, ao se exercer o cooperativismo. “Vocês viram hoje aqui, a força nossa é na cooperação. E talvez esse ato é o ato mais expressivo da cooperação desses últimos 30, 40 anos”. Baggio também relembrou a necessidade de assentar as mais de 8 mil pessoas acampadas no Paraná e as mais de 100 mil em todo o Brasil, que lutam pela Reforma Agrária Popular.

Esta inauguração ganha materialidade com a força do povo trabalhador que luta pelo direito de utilizar a terra para viver e produzir. A cooperação camponesa com apoio dos governos municipais, estaduais e federais, na produção de alimentos saudáveis e agroecológicos, fortalece a Soberania Alimentar Nacional.

Cooperativas da Reforma Agrária crescem no Paraná 

Criada em 2015, para organizar a produção de milho e hortaliças dos assentados, a cooperativa Copacon, conta atualmente com 500 associados, e entrega anualmente duas mil toneladas de alimentos para escolas do Paraná, por meio de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A nova agroindústria também irá gerar cerca de 30 novos postos de trabalho para a comunidade do Assentamento Eli Vive. 

 A nova agroindústria de beneficiamento não se restringe a produção dos assentados, estendendo o serviço a todos os agricultores familiares da região. 

O sistema produtivo está alicerçado em 25 cooperativas, 62 agroindústrias e cerca de 100 associações, unificadas pela Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná (CCA). As agroindústrias, conjuntamente, possuem um faturamento anual de cerca de 150 milhões de reais, geram  aproximadamente 300 postos de trabalho e mais de 100 produtos industrializados. São 5.400 famílias cooperados/as diretamente, e outras 30 mil famílias atendidas – entre assentadas, integrantes da agricultura familiar e de comunidades tradicionais.  

Entre as linhas de produção, em assentamentos e acampamentos, estão leite, ração animal, milho, arroz, feijão e cereais diversos, ovos caipiras, hortifrúti, mel, derivados de cana-de-açúcar e destilação, erva-mate, de polpa e suco de frutas, panificados, além de cozinhas comunitárias.