Reforma Agrária Popular

Feira da Reforma Agrária em MG encerra afirmando compromisso com a soberania nacional

Com 400 tipos de produtos comercializados, Feira demonstra na prática como a Reforma Agrária combate a fome e a crise ambiental

Foto: Raquel Matos

Por Agatha Azevedo, Ali Nacif e Laura Sabino
Da Página do MST

Entre os dias 17 e 19 de outubro, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em Belo Horizonte, se transformou em um grande território de partilha, cultura popular e reafirmação da luta camponesa. A 5ª Feira Estadual da Reforma Agrária Popular reuniu 600 feirantes, vindos de todas as 8 regiões em que o MST está organizado em Minas Gerais. Assentados, acampados, militantes, parceiros e parceiras e visitantes construíram um espaço de vivências e debates sobre o projeto de Brasil que a classe trabalhadora se propõe a construir.

Os palcos dos três dias, as rodas de conversa e as intervenções de chão ocuparam a Feira com as cores e a diversidade, misturando cultura, música, agroecologia, política ao sabor das cozinhas do campo. Foram 111 artistas mobilizados nas diferentes ações culturais da Feira. Nos três dias de evento, o público pôde conhecer e adquirir uma diversidade de produtos vindos diretamente das áreas da Reforma Agrária, como cafés, queijos, doces, hortaliças, farinhas, mel, fitoterápicos, plantas ornamentais, mudas e sementes crioulas. Além disso, a tradicional Culinária da Terra ocupou o parque com aromas e receitas que expressam o cuidado e o saber das famílias camponesas, com carne de sol, carne de porco, peixe, tapioca, pastel, arepa e muito mais.

Para Nei Zavaski, da direção nacional do MST, a Feira da Reforma Agrária é a síntese da saída coletiva para o enfrentamento à crise ambiental e climática produzida pelos setores do agronegócio, da mineração e do capitalismo, pois é a junção entre quem produz alimentos saudáveis e quem consome, em uma relação justa de comercialização, com espaço para troca de experiências, rodas de conversa e cultura popular.

“A Feira é a representação da diversidade do campo, de alimento, alegria, cultura, música, arte. O Movimento projeta a Feira como uma forma de resolver grandes questões do povo brasileiro. Ela representa a luta contra a fome, pelo alimento saudável, de qualidade, sem agrotóxico, agroecológico. É nesse lugar que fazemos nosso projeto de enfrentamento ao capital nas suas variadas formas”, afirma.

Agroecologia como bandeira de luta

Foto: Agatha Azevedo

Da comida ao palco, da Feira à roda de conversa, o evento foi marcado pela defesa da natureza, da soberania nacional e da unidade entre o campo e a cidade. Por meio de rodas de conversa, barracas com materiais informativos e a presença de representantes das diversas frentes de atuação, a Feira mostrou que a Reforma Agrária Popular vai muito além da redistribuição de terras.

Trata-se de um projeto de transformação estrutural que busca garantir o direito à terra, à alimentação saudável, à cultura, à educação e à preservação do meio ambiente. A luta pela soberania alimentar esteve presente em toda a programação, defendendo a produção de alimentos saudáveis, diversificados e em quantidade suficiente para alimentar o povo brasileiro, por meio de sistemas agroecológicos.

Dentro desse contexto, a solidariedade, outro pilar central da Feira, se fez presente com força através do projeto Mãos Solidárias, que atua em diferentes frentes: doação de alimentos, funcionamento de cozinhas comunitárias e campanhas de alfabetização. A iniciativa reafirma que a luta pela terra também é uma luta coletiva contra a fome e pela dignidade.

Outro exemplo do enfrentamento ao agronegócio através da agroecologia é a formação das crianças nas escolas do campo através dos Círculos de Cultura. Segundo Kezia Saara, do setor de educação do MST, o projeto em parceria com a UEMG fortalece o papel da escola na formação sociocultural em torno da agroecologia, com arte e troca de saberes. Sobre o trabalho com a agroecologia, a professora afirma que há uma relação entre o cultivo e os saberes da terra e o cuidado com os bens da natureza. “Fazer luta coletiva é sempre uma experiência muito mais agradável, e estar na escola é lidar com a base do que é o nosso futuro”, afirma.

Nas tendas que compunham os Caminhos Agroecológicos, o MST apresentou seus projetos ambientais, como o método Camponês a Camponês, uma ação de troca de saberes em parceria com a UFOP, e os programas de Reparação Ambiental da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce.

O domingo na Feira

O último dia da Feira, domingo (19/10), manteve vivo o clima de celebração e resistência. Desde cedo, o parque se encheu de cores e sabores no espaço da feira e da culinária. A manhã foi embalada pela força do Sérgio Pererê e pela Guarda de Congo da Irmandade Os Ciriacos, que levaram ao palco a ancestralidade e a fé popular.

Pelos caminhos da feira, o chão virou espaço de danças e partilhas com a Folia do Divino Espírito Santo, que reuniu crianças, jovens e idosos em um momento de devoção e alegria. À tarde, a roda de conversa das Brigadas de Combate aos Incêndios trouxe reflexões urgentes sobre o cuidado com o território, a preservação das florestas e a força coletiva diante das queimadas que afetam o Cerrado e a vida camponesa.

O encerramento, às 14h30, foi marcado pela voz potente de Pereira da Viola e pela percussão de Paulo Santos, símbolos da cultura popular mineira e parceiros da luta em defesa da terra e da dignidade do povo do campo.

*Editado por Fernanda Alcântara