Fé e luta
MST se encontra com Papa Leão XIV em Roma
Pela 1º vez, pontífice se reúne com Sem Terra, em conjunto com representantes de 130 movimentos populares, para dar continuidade ao diálogo iniciado pelo Papa Francisco

Da Página do MST
O Papa Leão XIV realizará seu primeiro encontro com movimentos populares de todo o mundo, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em evento realizado em Roma na próxima semana. Evento ocorre durante o V Encontro Mundial de Movimentos Populares (EMMP), seguindo a tradição do legado do Papa Francisco, que deu início ao encontro com entidades populares em 2014.
Dessa forma, o papado demonstra a continuidade do diálogo com os movimentos populares no mundo, reunindo cerca de 130 representantes de entidades sociais, um chamado para que os movimentos continuem caminhando junto à Igreja na construção de um mundo mais fraterno.
Constituindo a esperança de outro mundo possível, fundado não no individualismo e sim na justiça, na solidariedade e na fraternidade”, declarou o Padre Mattia Ferrari, coordenador do encontro.
O evento pretende abordar temas como o direito à terra, teto e trabalho, além debater os desafios das questões geopolíticas como guerras, crise de representação política, crise imigratória e ambiental. Articulações de todos os continentes estão sendo convocadas para participar do evento.
Durante a agenda de outubro será realizado o encontro com os movimentos populares entre os dias 21 a 24 no Spin Time Labs, em Roma; no dia 23 às 16h está prevista uma audiência com o Papa Leão XIV, no Vaticano; e entre os dias 25 e 26 ocorre o Jubileu dos Movimentos Populares no Vaticano, incluindo uma missa na Praça de São Pedro.
A organização é impulsionado pelo Comitê Organizador dos Movimentos Populares, com o apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DISSUI), o Vicariato de Roma, e a colaboração do Pólo Cívico Esquilino e da comunidade de Spin Time Labs.
Continuidade do legado do Papa Francisco
Em 2024, o MST e outras organizações celebraram encontro com o Papa Francisco durante o evento Arena da Paz, no Vaticano, onde a bandeira do MST foi abençoada pelo pontífice. Na ocasião, João Pedro Stedile representou o Movimento, quando teve a oportunidade de discursar para os presentes, transmitindo a mensagem de solidariedade e lutas dos Sem Terra do Brasil, citando os versos do bispo Dom Pedro Casaldáliga: “Malditas sejam todas as cercas; malditas todas as propriedades privadas que nos impedem de viver e amar”.
Em 2020, o Papa Francisco já havia reconhecido os esforços dos movimentos sociais, como o MST, dedicando uma carta, onde dizia: “Se a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível lutando nas perigosas trincheiras […]”. Em mensagem enviada devido às ações de solidariedade executadas durante a pandemia, período em que o Movimento Sem Terra distribuiu mais de 10 mil toneladas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade.
Com este novo encontro, o novo pontífice, Papa Leão XIV, perpetua a aliança e reconhecimento da Igreja com a atuação dos movimentos populares.
“A expectativa que nós temos é de um encontro fraterno, mas ao mesmo tempo muito afirmado em compromissos concretos, diante do cenário que estamos vivendo, que é de aprofundamento das questões que nós já refletimos há 11 anos”, afirma Ayala Ferreira, da direção nacional do setor de Direitos Humanos no MST, representante do Movimento que estará diante do Papa no encontro com os movimento sociais.
Ela cita que os encontros anteriores dos segmentos populares com o papado, permitiu que a Igreja extraísse sínteses que foram colocadas nas suas várias publicações e diretrizes, e que o próximo encontro dará continuidade à essa trajetória, onde frente à um cenário global de suscetíveis crises, a Igreja se coloca disponível, em sinal de alento, assumindo um compromisso mais radical com as populações vulneráveis e com os que dedicam suas vidas lutando por justiça social e contra as desigualdades.
“Então, nós tivemos essa síntese dos três T’s, dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras terem acesso à terra, teto, de ter acesso a um trabalho digno, assim como reflexões mais sobre a necessidade da humanidade repensar a sua lógica de consumo, sua lógica de desenvolvimento capitalista, para cuidar do que o Papa Francisco mencionava da Casa Comum, da mãe terra e do direito de todos os seres vivos terem condições de existência sem ser nessa lógica desenfreada da mercantilização da vida e dos bens da natureza”, cita Ayala.