Luta e fé
“Terra, teto e trabalho são direitos sagrados” diz Papa Leão XIV em encontro com MST
Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de mais 130 organizações durante a quinta edição do Encontro Mundial de Movimentos Populares realizado no Vaticano

Do Brasil de Fato
O Papa Leão 14 recebeu nesta quinta-feira (23) representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de mais 130 organizações durante a quinta edição do Encontro Mundial de Movimentos Populares realizado no Vaticano. Em sua primeira audiência com o movimento sem terra, o pontífice destacou que “a terra, o teto e o trabalho são direitos sagrados pelos quais vale a pena lutar”, a frase que marcou o início de seu discurso e norteou um tom de apoio e compromisso social da reunião.
O encontro, que reforça o diálogo entre a Igreja Católica e os movimentos, antecede o Jubileu dos Movimentos Populares, que ocorrerá nos dias 25 e 26 e incluirá uma missa na Praça de São Pedro. A iniciativa dá continuidade ao processo iniciado pelo Papa Francisco em 2014, quando o Vaticano passou a fortalecer seus laços com organizações que lutam por direitos humanos, justiça social e sustentabilidade.
O MST foi representado pela dirigente Ayala Ferreira, que entregou ao papa uma imagem de Ossanha feito com as miçangas do candomblé, por Wilton Gurgel, oficineiro do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB).
Além do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Brasil estará representado por outras organizações populares, como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), o MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) e o CENARAB (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira)
Durante a audiência, o pontífice ressaltou a importância dos grupos populares como “construtores de solidariedade na diversidade”, afirmando que a Igreja deve estar junto deles. “A Igreja deve estar com vocês: uma Igreja pobre para os pobres, uma Igreja que se inclina, que assume riscos, que é valente, profética e alegre.”
O papa também alertou para os desafios globais diante das desigualdades e das crises econômicas. Segundo ele, o processo de globalização “oferece a possibilidade de uma grande distribuição da riqueza em escala planetária como nunca se viu antes. Mas, se for mal administrado, pode aumentar a pobreza e a desigualdade, além de contagiar o mundo inteiro com uma crise”, alertou.
Em tom político, Leão 14 enfatizou o papel das organizações sociais na promoção da justiça e da paz. “Hoje devemos acompanhar os movimentos populares. Isso significa acompanhar a humanidade, caminhar junto com o respeito compartilhado pela dignidade humana e com o desejo comum de justiça, amor e paz. A Igreja apoia as lutas justas pela terra, o teto e o trabalho.”
O líder religioso concluiu seu discurso destacando a força transformadora dos movimentos de base. “Os movimentos populares cobrem o vazio gerado pela falta de amor, com o grande milagre da solidariedade baseada no cuidado com o próximo e na reconciliação. Suas ações locais e criativas podem se transformar em novas políticas públicas e direitos sociais. Sua busca é legítima e necessária.”
Com a presença de delegações de todos os continentes, o Encontro Mundial de Movimentos Populares reforça a disposição do Vaticano em manter o diálogo aberto com as lutas pela terra e a convicção de que a fé e a justiça caminham lado a lado. Em nota, o MST considerou o encontro “um chamado para que os movimentos continuem caminhando junto à Igreja na construção de um mundo mais fraterno”.
*Editado por Priscila Ramos