Solidariedade

Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madri e Barcelona conhecem Comunidades Urbanas de Curitiba e Região Metropolitana

A luta por moradia e o internacionalismo foram temas tratados durante a visita

Horta comunitária da Vila Pantanal. Foto: Barbara Zem

Por Barbara Zem, do coletivo de Comunicação e Cultura do MST no Paraná e Marmitas da Terra
Da Página do MST

Dos dias 20 de outubro a 01 de novembro, a Brigada Internacionalista de Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madri e Barcelona vai passar por alguns locais do Paraná a convite do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Fundação Rosa Luxemburgo. Em Curitiba e Região Metropolitana eles tiveram a oportunidade de conhecer algumas comunidades urbanas e suas experiências.

No dia 21 de outubro pela manhã, o coletivo Marmitas da Terra e a Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) apresentaram as comunidades Vila União, a ocupação Pantarolla, ambas no bairro Tatuquara, e a Vila Pantanal, no Alto Boqueirão onde o FORT atua. Durante a visita a Brigada conheceu os centros culturais e os espaços educativos para as crianças, além de trocar experiências sobre a luta pelo direito à moradia.

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Visita às comunidades onde o FORT atua: Vila União, ocupação Pantarolla e a Vila Pantanal. Fotos: Barbara Zem

“Desde que eu cheguei aqui na comunidade e coloquei meu filho na escola, fiquei tranquila por ele estar aqui. Tinha medo que ele fosse tratado diferente, mas ele foi bem aceito, se sente feliz aqui. Aqui se tornou nossa segunda família, só tenho a agradecer”, comentou Gislene dos Anjos Dambros, moradora da comunidade Vila União, onde 280 famílias vivem.

Pedro Carrano, da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT), traz a reflexão sobre o porquê das lutas em comum. “Continentes tão diferentes, com histórias tão diferentes como a América Latina e a Europa, mas nós enxergamos todos como trabalhadores. O preço do salário é tão baixo que não dá pra alcançar a moradia, seja em um país da realidade espanhola, seja na nossa realidade brasileira. Eu acho que esse traço comum pra gente é muito isso, tanto que o FORT quer dizer o que? Frente de Organização dos Trabalhadores, trabalhadores exigindo moradia, trabalhadores cuja salário não compra uma moradia”.

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Alberto, Alicia, Elvira e Marcel dos Sindicatos de Inquilinas e Inquilinos de Madri e Barcelona com Pedro Carrano, da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) na ocupação Pantarolla. Foto: Barbara Zem.

“O problema da moradia na Espanha está ligado diretamente à desigualdade do capitalismo contemporâneo. Por isso, lutamos por moradia, mas também fazemos aliança com vários movimentos, de ecologistas, feministas, trabalhadores, e com outros sindicatos, pois precisamos mudar todo o sistema”, afirma Alberto Martínez Casado, da coordenação geral do Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madri. 

Alberto também comenta que na Espanha, nos últimos 10 anos, o problema da moradia aumentou 100%, principalmente o aluguel, mas o salário só teve aumento de 3%, o preço da comida aumentou, tudo sofreu um grande aumento, então cada vez mais há um empobrecimento da sociedade em geral. “Historicamente, na Espanha, a forma de ter acesso a moradia era comprando através do banco, de uma hipoteca, mas nos últimos 10 anos, tornou-se algo impossível”, reafirma.

Após a vivência nas comunidades urbanas, finalizando a manhã com um delicioso almoço coletivo feito pelas cozinheiras da Vila Pantanal, fomos a comunidade Graciosa, em Pinhais, conhecer as experiências agroecológicas, da produção de cogumelos, hortaliças, plantas nativas e atividades, saúde e educação popular.

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Visita à comunidade Graciosa, em Pinhais. Fotos: Barbara Zem

Sobre a experiência de luta por moradia em Curitiba e Espanha, Marcel Valls i Martinez, da coordenação de ações Sindicato de Inquilinos de Barcelona, afirma que as lutas se parecem muito, pois é uma luta de resistência para manter o direito a uma moradia digna. “Precisamos usar algumas ferramentas comuns como a coletivização da mesma luta e dos espaços para poder sobreviver diante do ataque do capitalismo, que se materializa de diferentes formas no Brasil ou na Espanha, mas ao mesmo tempo tem algo em comum que é o capital sobre a vida das pessoas”, comentou.

Alicia del Río Alonso, responsável por ações do Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madri, coordenadora da formação, grupos de agitação, ações diretas e trabalho de base, percebeu a importância da relação entre comunidades do campo e da cidade. “Visitar espaços como estes nos ajuda a compreender que a luta entre campo e cidade é a mesma luta. Não podemos continuar pensando que lutando só na cidade podemos seguir lutando, precisamos unir os dois espaços”. 

Jesiê Reinert, advogada da comunidade e integrante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), reforçou a importância da participação da brigada em conhecer as comunidades. “Quero agradecer vocês e ao coletivo Marmitas da Terra por nossa parceria, que sempre acontece, de uma forma ou de outra a gente se esbarra nas lutas da vida. A gente fica muito honrado de recebê-los, a gente sempre procura internacionalizar nossa luta, porque a gente sabe que são muitas lutas pelo mundo inteiro”.

Ao final da experiência na comunidade Graciosa, Janiele Kogus, da coordenação do coletivo Marmitas da Terra, agradece e reforça a importância da luta e união do campo e cidade. “Compartilhar essa luta de nós, do Brasil, com vocês é muito importante. Que vocês saiam deste espaço que a Raquel, a Jesiê e o Movimento construíram, com essa esperança de que é possível essa relação do campo e da cidade, pois ela se faz junto. É possível a gente construir uma sociedade mais justa, fazendo essa relação do campo e da cidade, fortalecendo o campo, se alimentando bem. Vocês se alimentaram do que é mais rico aqui da comunidade, que é uma alimentação saudável, agroecológica. Que é construída por muitas mãos, mãos de mulheres, mulheres que todo dia estão ali fazendo, construindo de alguma forma, ajudando a gente a construir esse projeto popular para o Brasil, esse projeto da classe trabalhadora”.

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Fotos de perfil de Marcel, Elvira, Alberto e Alicia dos Sindicatos de Inquilinas e Inquilinos de Madri e Barcelona. E foto final da visita à comunidade Graciosa. Fotos: Barbara Zem.

Nos próximos dias a brigada vai visitar outros espaços a convite do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), como o assentamento Contestado, na Lapa, Imbaú, Maringá, Porecatu, Londrina, Faxinal e Ortigueira.

O que é o Sindicato de Inquilinas e Inquilinos

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Protesto em Madri. Foto: Sindicato de Inquilinas e Inquilinos de Madri

É uma organização de pessoas que tiveram que morar em imóveis alugados em cidades da Espanha e que se uniram para defender o direito a uma moradia digna, estável e segura.

Foi fundada em maio de 2017 para pôr fim à crescente bolha de preços de aluguel em que nos encontramos. A missão da União é organizar os inquilinos para reverter o equilíbrio de poder e defender o direito a uma moradia digna e estável, caminhando em direção ao objetivo final: a desmercantilização da moradia.

Para alcançar isso, o sindicato está comprometido com o sindicalismo de base, onde os inquilinos se organizam e se unem quarteirão por quarteirão, bairro por bairro, para enfrentar os abusos contra a propriedade. Uma pessoa sozinha que mora em um imóvel alugado tem pouco poder para se impor a um proprietário ou a uma imobiliária, mas quando fazemos isso com o apoio de um sindicato, as coisas mudam. Aconselhamento coletivo e apoio mútuo são a forma de agir.

O sindicato não responde apenas à situação particular de cada pessoa; quer uma mudança social mais profunda: com engajamento no debate público, mudando as regras do jogo. Com muito trabalho conseguiram estabelecer limites para os preços dos aluguéis, proibindo a cobrança de pagamento de taxas imobiliárias, extensão da duração dos contratos, reservando 30% das moradias subsidiadas em novas construções… e muito mais.

Para entender mais sobre os sindicatos clique aqui: 

Sindicato de Inquilinos e Inquilinas de Barcelona: https://sindicatdellogateres.org/es/el-sindicat/

Sindicato de Inquilinos e Inquilinas de Madri: https://www.inquilinato.org/

*Editado por Fernanda Alcântara