Reforma Agrária Popular

Assentamento do MST em Minas Gerais recebe visita técnica do Ministério do Turismo

Iniciativa visa desenvolver o turismo de base comunitária como nova frente de trabalho e renda, integrada à produção de alimentos saudáveis e à cultura local

Foto: Matheus Teixeira

Por Matheus Teixeira
Da Página do MST

Uma comitiva formada por representantes do Ministério do Turismo e do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) percorreu entre os dias 29 de outubro e 1º de novembro, o assentamento Denis Gonçalves, na Zona da Mata mineira. A ação tem como objetivo mapear o potencial turístico em seis áreas de Reforma Agrária no país. No território mineiro, o foco foi identificar as potencialidades e os desafios para o desenvolvimento do turismo de base comunitária no Denis Gonçalves. A atividade reuniu a comunidade para refletir coletivamente sobre a complexidade do turismo, que envolve desde a produção de alimentos, cultura e artesanato até aspectos de logística, planejamento e valorização dos atrativos naturais.

A iniciativa integra o projeto “Experiências do Brasil Original”, do Ministério do Turismo, que busca fomentar roteiros turísticos em comunidades tradicionais e rurais, valorizando a autenticidade e a diversidade cultural do povo brasileiro. A partir dessa proposta, o programa se desdobra agora em “Experiências do Brasil: Assentamentos”.

Foto: Matheus Teixeira

Nos assentamentos do MST, territórios da Reforma Agrária Popular, o turismo é compreendido como uma frente de trabalho e renda articulada à educação, à cultura e à produção de alimentos saudáveis, tudo integrado e em diálogo com o programa agrário do Movimento.

O servidor do Ministério do Turismo Humberto Pires, que acompanhou a visita, avaliou a experiência como reveladora dos potenciais do assentamento. Segundo ele, o turismo pode ir além da vivência dos visitantes. “Nossa perspectiva é que o turismo, além de proporcionar uma experiência transformadora a quem vier ao assentamento, possa ser também um espaço onde os assentados possam contar sua história e mostrar seu contexto histórico para a sociedade brasileira e para o mundo”, destacou.

Durante a imersão, a comitiva pôde conhecer de perto a riqueza e a organização do povo Sem Terra. Foram percorridas trilhas que levam a atrativos marcados não apenas pela beleza natural, mas também pela história e simbologia para os moradores. As visitas incluíram áreas produtivas, onde famílias cultivam uma diversidade de alimentos, além de agroindústrias de beneficiamento de queijos e doces, ateliês de arte e patrimônios históricos, como as ruínas existentes na área. Os visitantes também conheceram cooperativas, coletivos de produção e experimentaram a culinária local, preparada diretamente pelas famílias assentadas.

A professora Janete Rodrigues, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), destacou a importância da parceria entre o instituto e o Ministério do Turismo. Segundo ela, a iniciativa tem sido uma troca de saberes. “Estamos desenvolvendo um trabalho para conectar o turismo à Reforma Agrária. Então, para a gente tem mais aprendizagem do que de orientação, porque vocês já desenvolvem atividades baseadas no turismo rural”, afirmou.

Janete ressaltou ainda que o objetivo é fortalecer e organizar essas experiências. “A nossa intenção é evoluir, propiciar mais conhecimento, mais organização e orientação para esses espaços, esse território tão rico para vocês, com tanta história, com tanto valor e com tanto amor. Então, a gente espera contribuir para que o turismo seja, de fato, um fator de desenvolvimento econômico para a região.”

A atividade reforça a compreensão do MST de que a terra não é apenas para produzir comida, mas também para construir um novo modo de vida. O turismo surge a partir do aprofundamento do programa agrário do MST, como mais uma trincheira de resistência, que gera renda, cria postos de trabalho para a juventude e abre as portas do assentamento para que a sociedade conheça de perto os frutos da Reforma Agrária e a força da cultura camponesa.

Foto: Matheus Teixeira

Uma das coordenadoras do Coletivo de Patrimônio Histórico do MST no assentamento Denis Gonçalves, Celeste Lustosa, destacou que o projeto vai além da dimensão econômica, fortalecendo também o sentimento de pertencimento e organização coletiva. Segundo ela, o processo tem mobilizado quem antes acompanhava de longe. “Algumas pessoas já perceberam a força e a importância de organizar o turismo, tanto para gerar renda complementar para cada assentado e assentada que se dispuser a fazer parte disso, quanto para aumentar a autoestima das pessoas do território, dos assentados e das assentadas”, afirmou.

A visita foi avaliada de forma extremamente positiva por todos os envolvidos, sendo este o primeiro passo para a construção coletiva de um plano de desenvolvimento turístico para o assentamento. O projeto segue em discussão, com novas reuniões e oficinas previstas para que as próprias famílias assentadas sejam as protagonistas na consolidação dessa nova frente de trabalho e resistência.

*Editado por Fernanda Alcântara