América Latina

Túpac Amaru: a Serpente Resplandecente que iluminou a luta dos povos andinos

A trajetória de Túpac Amaru II, simbolizando a luta contra a dominação europeia, inspira movimentos sociais que continuam a defender direitos na América Latina

Foto: Reprodução

Da Página do MST

Quando os espanhóis invadiram a América, o Império Inca vivia seu auge. Estendia-se pelo território que hoje compreende Peru, Bolívia, Equador, parte da Colômbia e do Chile, o norte da Argentina e até trechos da floresta amazônica brasileira. Com avançadas técnicas agrícolas, monumentos erguidos com precisão superior às pirâmides egípcias e uma organização social comunitária exemplar, os povos andinos haviam construído uma civilização baseada na coletividade e na harmonia com a natureza.

Mas o ataque colonial europeu destruiu as bases dessa sociedade. O sistema de mineração imposto pelos invasores deslocou milhares de pessoas para o trabalho forçado nas minas de ouro e prata. As antigas comunidades agrícolas foram desfeitas, o solo fértil transformou-se em deserto e a vida coletiva foi substituída pela servidão. Como lembra Darcy Ribeiro, os povos originários foram transformados em “combustível do sistema produtivo”.

O nascimento de uma chama de rebeldia
Em meio à opressão colonial, a esperança renasceu na figura de José Gabriel Condorcanqui, o cacique mestiço de Surimaná, Tungasuca e Pampamarca, bisneto de Juana Pilco-Huaco, filha do último soberano inca, Túpac Amaru I. Ao assumir o nome do ancestral, que em quéchua significa “Serpente Resplandecente”, Condorcanqui proclamava a continuidade da resistência e o direito dos povos à libertação.

Em 1780, montado em um cavalo branco, Túpac Amaru II liderou em Tinta (Peru) uma das maiores insurgências da história latino-americana. Capturou o representante da coroa espanhola, Antonio Juan de Arriaga, o julgou publicamente e decretou o fim do trabalho servil nas minas. Pouco depois, proclamou a liberdade dos escravizados e aboliu os impostos coloniais. A notícia espalhou-se pelos Andes e milhares de indígenas, negros e mestiços se uniram à luta.

Revolução e castigo
A rebelião cresceu como um rio que transborda. Em cada povoado libertado, Túpac pregava a restauração do império dos povos andinos e a partilha das terras entre as famílias pobres. Libertava cativos, convocava à unidade e afirmava: “Os que morrerem nesta guerra ressuscitarão para viver nas terras livres que nos foram roubadas.”

A Igreja Católica, aliada à coroa, condenou o movimento e incentivou a repressão. Na marcha em direção a Cuzco, os insurgentes foram traídos e emboscados. Túpac foi capturado em 1781 e levado à praça de Wacaypata, onde foi brutalmente torturado diante do povo. Cortaram-lhe a língua e tentaram esquartejá-lo com quatro cavalos, mas, segundo contam, o corpo não se partiu. Por fim, foi decapitado. Seus restos foram espalhados por várias cidades, numa tentativa de apagar sua memória.

Antes de morrer, respondeu ao carrasco que exigia os nomes de seus cúmplices:
“Aqui não há mais cúmplices que tu e eu: tu por opressor, e eu por libertador.

A figura de Túpac Amaru tornou-se símbolo da luta continental contra o colonialismo e a exploração. Sua memória segue viva nas batalhas travadas pelos povos indígenas, camponeses e trabalhadores da América Latina que continuam a desafiar o poder do império e a defender o direito à terra, à liberdade e à soberania.

Hoje, séculos depois, seu grito ecoa nas vozes dos movimentos populares que lutam por uma Pátria Grande livre e unida.