Internacionalismo
Carlos Fonseca Amador: símbolo da resistência latino-americana
Carlos Fonseca Amador, um dos maiores símbolos da luta anti-imperialista na América Latina. Sua trajetória une teoria e prática revolucionária, inspirando gerações na defesa da justiça social e da soberania dos povos.

Por Milena Vitória
Da Página do MST
Carlos Fonseca Amador permanece na memória coletiva da Nicarágua como um lutador, dirigente, intelectual e farol moral que iluminou o caminho para a vitória popular contra o imperialismo na América Central. Sua vida e sua obra são celebradas pelos movimentos populares da América Latina como um exemplo de compromisso inabalável com os mais pobres e de firme convicção anti-imperialista. Nascido em 1936, em uma família humilde, Fonseca experimentou desde cedo as profundas desigualdades da sociedade nicaraguense, então sob a corrupta ditadura da família Somoza, dinastia apoiada pelos Estados Unidos. Foi no seio dessa realidade de opressão que ele, ainda jovem estudante, começou sua jornada política, percebendo logo a necessidade de uma estratégia que unisse a teoria marxista à ação concreta e à identidade nacional.
Sua grande contribuição histórica foi reinterpretar a luta de Augusto C. Sandino, general dos homens livres que enfrentou a ocupação militar dos EUA na década de 1930, sob uma ótica revolucionária e socialista. Fonseca recuperou Sandino do esquecimento imposto pela história oficial e o transformou em pilar ideológico de um novo movimento. Dessa síntese nasceu a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), em 1961, da qual ele foi o arquiteto principal. Enfatizou a necessidade de uma organização disciplinada, enraizada no campesinato e capaz de levar adiante uma “guerra popular prolongada”. Sua visão estratégica era a de que apenas uma insurreição armada, alimentada pelo apoio massivo do povo, poderia derrotar a bem-armada Guarda Nacional. Ele não apenas teorizou, mas praticou o que defendia, vivendo na clandestinidade e participando diretamente da luta.
No entanto, Carlos Fonseca não viveu para ver o triunfo de sua própria criação. No final de 1976, em um dos momentos mais críticos da FSLN, ele decidiu retornar secretamente do exílio em Cuba para reerguer a luta a partir das montanhas do norte. Sua missão foi truncada pela traição e pela repressão. No dia 8 de novembro de 1976, seu pequeno grupo foi cercado pela Guarda Nacional em Zinica, Matagalpa. Em um intenso tiroteio, Fonseca foi ferido e, consciente de que a captura era iminente, decidiu lutar até o último suspiro, sendo atingido mortalmente na cabeça. Sua morte, longe de destruir o movimento, o consagrou como mártir da Revolução. A imagem do intelectual-guerrilheiro caído em combate transformou-se em símbolo poderoso, e seu grito de guerra “¡Carlos Fonseca, ¡Patria Libre o Morir!” marcou a resistência que culminaria no triunfo sandinista de 1979.
Por isso, para os movimentos populares latino-americanos, a figura de Carlos Fonseca Amador permanece como símbolo da resistência. Ele representa a fusão entre teoria e prática, o anti-imperialismo como princípio inegociável e a defesa da classe trabalhadora. Seu engajamento, demonstrado até o momento final de sua vida, inspira as lutas atuais por justiça social e soberania. Sua imagem continua a ser emblema da luta por um mundo em que a justiça não seja apenas uma palavra, mas uma realidade conquistada pelo povo organizado, um legado eterno para os lutadores latino-americanos.
*Editado por Leonardo Correia



