Lutas Populares

Cúpula dos Povos começa com proposta de ser um marco na luta por justiça climática

‘Sabemos do nosso papel na história’ - Encontro realizado na UFPA aponta contradições da COP30 e debate soluções alinhadas ao respeito aos povos do campo

Muitas histórias e lutas: gente de todo do Brasil e de outros países se encontram na Cúpula dos Povos. Foto: Carolina Bataier/Brasil de Fato

Por Carolina Bataier
Do Brasil de Fato

Na noite desta quarta-feira (12), diante de uma plateia cheia e plural, representantes de movimentos populares deram início à Cúpula dos Povos, maior mobilização da sociedade civil frente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, capital paraense.

A abertura oficial do encontro encerra um processo de mais de dois anos de preparação para este momento, como lembra Ayala Ferreira, da direção nacional do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“Decidimos, há mais de dois anos, quando tivemos notícias de que a COP30 aconteceria aqui no nosso país, que, ante os desafios que estavam postos pela COP, nós deveríamos construir um dos maiores levantes da classe trabalhadora”.

Ayala Ferreira, do MST: ‘Temos uma obrigação histórica’. Foto: Carolina Bataier/Brasil de Fato

A proposta teve êxito. Já no primeiro dia do encontro popular, circulavam pelo gramado da Universidade Federal do Pará (UFPA), à margem do rio Guamá, pessoas de diversos lugares, trazendo para o encontro suas histórias e denúncias. São indígenas, ribeirinhos, quilombolas, jovens, estudantes, mães e pais com crianças no colo, segurando bandeira e vestindo camisas com mensagens contra a exploração predatória dos recursos naturais. Gente que veio de avião, de carro, de barco, enfrentando, às vezes, quase um dia de viagem.

“Este é um espaço construído pelo e para o povo, que não tem dinheiro sujo de mineradora, que não tem dinheiro sujo de multinacional, que não tem dinheiro sujo daqueles que se pintam de verde. Esse espaço é nosso”, celebra a comunicadora popular Julia Martins, representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Na área oficial da COP30, composta pela Zona Azul e Zona Verde, grandes corporações, muitas delas vinculadas a crimes ambientais, patrocinam os espaços. É o caso da mineradora Vale, um dos principais financiadores do evento e também a empresa relacionada a duas grandes tragédias ambientais no Brasil: os rompimentos das barragens em Mariana, em 2015; e em Brumadinho, em 2018, em Minas Gerais.

Diante do que classificam como contradição – ou hipocrisia –, os movimentos populares organizaram um espaço de debates, manifestações, feira e apresentações culturais, com programação que vai até o dia 16. De acordo com a representante do MST, trata-se de um espaço para enfrentar e, “em alguns momentos, constranger a COP30”.

“Aqui a gente está construindo um processo de uma grande aliança global a partir dos territórios indígenas, camponeses, urbanos, quilombolas, com a aliança com os movimentos populares, movimento de mulheres, movimento negro, as juventudes para construir, de fato, justiça climática para o mundo”, afirma Rud Rafael, do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto (MTST).

Na tarde desta quarta-feira, participantes confraternizavam na UFPA, à margem do rio Guamá. Foto: Carolina Bataier/Brasil de Fato

Presente no palco da abertura da Cúpula dos Povos, o Secretário-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, ressaltou a relevância dos movimentos populares.

“Tem gente que acha que a participação popular é perfumaria, que lá na Blue Zone acontecem os debates, como se os movimentos sociais aqui estivessem apenas fazendo uma brincadeira cadeirinha, uma encenação. O que essa gente não considera é que a COP acaba daqui a alguns dias. Os movimentos e a mobilização popular são o que fica”.

As atividades do encontro começaram pela manhã desta quarta, com uma barqueata pelo rio Guamá, com a participação de 5 mil pessoas. No sábado, dia 15, representantes da Cúpula irão apresentar ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, as propostas do encontro. “Qual é o acúmulo político que esse espaço apresenta para a COP30 e por que nos diferenciamos desse espaço?”, explica Martins, sobre o documento que será levado à presidência do evento oficial.

Para encerrar o encontro, haverá um banquetaço a ser servido à população em situação de vulnerabilidade das áreas urbanas de Belém, reforçando que a solução vem dos próprios povos.

“Nós temos consciência, companheiros e companheiras, do nosso papel na história. Nós sabemos que nós temos uma obrigação histórica de dizer que não, não é a realidade hoje que os povos estão sofrendo. Não é assunto secundário”, finaliza Ferreira.

Editado por: Luís Indriunas/ Brasil de Fato