Solidariedade Sem Terra

Brigada do MST chega à marca de 100 casas reconstruídas no PR, 20 dias após tornado 

Mutirão de trabalho de reconstrução de moradias começou dois dias após o tornado, com participação de militantes do MST de todas as regiões do Paraná

Foto: Juliana Barbosa / MST no PR

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

A Brigada de Solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegou, nesta quinta-feira (27), ao marco de 100 casas reformadas, cobertas ou construídas em Rio Bonito do Iguaçu. O município paranaense foi o mais atingido por um tornado que chegou a 330 quilômetros por hora, no dia 7 de novembro. Cerca de 90% das edificações foram danificadas ou totalmente destruídas 

A catástrofe deixou seis vítimas no município, 835 pessoas precisaram de atendimento médico, e cerca de 1.060 pessoas ficaram desalojadas (buscando abrigo em casas de terceiros) e dezenas desabrigadas (em abrigos públicos). Mais de 400 famílias acampadas e assentadas da Reforma Agrária também tiveram danos nas moradias, espaços coletivos e estruturas de produção. Em Guarapuava, o assentamento Nova Geração foi fortemente atingido, com dezenas de pessoas desalojadas e uma vítima fatal. 

Foto: Marcos Bueno / MST no PR 

Os trabalhos de militantes do MST de apoio às vítimas começaram na noite do tornado, com a organização de uma cozinha solidária, em conjunto com a prefeitura de Rio Bonito. Os mutirões para cobertura e reconstrução de casas se iniciaram no domingo, dia 9, dois dias após a catástrofe. A 100ª casa restaurada foi um espaço religioso, reinaugurado com uma oração.  A estimativa é de que de 60% a 70% das casas já tenham sido recuperadas. 

Joabe Mendes de Oliveira, morador do acampamento 100% agroecológico Padre Roque Zimmermann, de Castro, está em Rio Bonito do Iguaçu desde os primeiros dias depois da catástrofe, com o papel de coordenar a equipe de Infraestrutura da Brigada de Solidariedade do MST. Ele conta que os quatro primeiros dias foram dedicados exclusivamente para os mutirões nas próprias comunidades do MST.  A partir do quinto dia, parte da equipe se deslocou para atuar na cidade e vem mantendo um trabalho diário. 

Fotos: Thiarles França / MST no PR 

As equipes, vindas de todas as regiões do Paraná, têm se revezado a cada semana. Desde o início dos trabalhos, mais de 300 militantes passaram pela brigada de solidariedade. 

“Numa situação igual a essa é a primeira vez que eu estou vindo. Em mais de 20 anos coordenando infraestrutura dentro do Movimento, aqui foi onde mais tocou a gente. Porque a gente tem que chegar, conversar com a família, abraçar, acolher, chorar junto. Tem famílias que a gente tem que aumentar a autoestima, pedir ajuda pros órgãos competentes. Ao mesmo tempo, é muito gratificante ter a oportunidade de estar aqui, poder ajudar, se solidarizar e reconstruir Rio Bonito”, conta o militante, há 18 dias longe de casa.

Foto: Antonio Santos / MST no PR 
Foto: Juliana Barbosa / MST no PR

Luciane de Fátima Moreira é moradora de Rio Bonito há 10 anos. Quando o tornado chegou, ela estava em casa com o filho pequeno, e sobreviveram no único cômodo que permaneceu intacto: “Esse tornado veio e destruiu tudo, em questão de segundos. Num primeiro momento eu fiquei muito assustada […] Eu não sabia o que fazer, porque começou a destelhar tudo, e corria pra um lado, corria pro outro, não tinha como se esconder. A gente ficou num quartinho inteiro, foi o que restou. O resto ficou tudo no limpo”, relembra.  

Ela foi uma das moradoras que recebeu apoio da brigada do MST para a cobertura da casa e limpeza do terreno. “A gente não tem palavras pra agradecer, o conforto que vocês estão dando pra gente. Porque vocês já imaginaram que a gente não tivesse essa ajuda?”

Foto: Antonio Santos / MST no PR 

Entre as centenas de bonés vermelhos que se vê construindo telhados ou limpando ruas, está Celson Marins, morador do acampamento Pepe Mujica, de Reserva. “Pra mim é uma experiência que não tem o que falar, não tem palavras, porque ajudar o próximo é muito bom e aqui nós vemos que muitas coisas que a gente aprendeu na vida da gente, principalmente dar valor à natureza, à vida e valor em tudo. A gente vê nessa cidade que caiu tudo, ficou tudo no chão, não escolheu classe, nem cor, nem posição. Foi todos. Então a gente precisa aprender a valorizar a vida, valorizar a natureza”, aconselha o camponês, que chegou na cidade desde domingo, junto com cerca de 40 pessoas da sua comunidade. Ele tem contribuído com a reconstrução de telhados. 

Um relato comum ouvido por militantes do MST é que muitas pessoas atingidas, por ainda estarem em choque pela destruição das moradias, por ferimentos ou perda de parentes, não conseguem fazer a limpeza dos terrenos para retirada de entulhos.

Foto: Juliana Barbosa / MST no PR

Jucilene, moradora do acampamento Valdair Roque, localizado em Quinta do Sol, fez parte de uma das primeiras equipes de limpeza de ruas e terrenos, logo na primeira semana após o tornado. “A gente veio aqui para ajudar diante dessa tragédia que aconteceu no nosso estado, de uma proporção tão grande que chocou a todos nós. Como militantes do MST, por solidariedade, companheirismo, estamos aqui para ajudar as pessoas dessa cidade. Só quem está aqui para ver o tamanho da destruição que é isso aqui”. 

Mutirão massivo e organizado

Julian Waldrigues, capitão do Corpo de Bombeiros – Defesa Civil do Paraná, está à frente dos trabalhos da Defesa Civil desde o primeiro dia após o tornado e conta que o trabalho de pessoas voluntárias é uma necessidade neste tipo de situação.  “Prontamente todo o pessoal do MST se voluntariou a vir nos auxiliar. E eu posso dizer pra vocês assim, os voluntários são a força motriz quando a gente tem um incidente, um desastre como esse”.

“O Rio Bonito do Iguaçu conseguiu se reconstruir na velocidade que se reconstruiu principalmente por causa do auxílio do MST. Remover todos os detritos, remover tudo aquilo que tinha pra gente poder construir novas casas, pra gente poder fazer novas reformas, vocês foram uma peça essencial e fundamental pra nós”.


O trabalho está sendo feito em conjunto por engenheiros do Estado, através do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), para fazer um grande levantamento de todas as casas danificadas. Foram mais de 1.400 laudos na área urbana. Já os laudos sobre os estragos em construção e na produção agrícola em comunidades rurais foram realizados pela equipe técnica do projeto Semeando Gestão, da Cooperativa Central da Reforma Agrária em parceria com a Itaipu, junto ao CREA e ao Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR). Mais de 400 laudos já foram concluídos. 

Foto: Juliana Barbosa / MST no PR

A estimativa do capitão é que o trabalho de reconstrução em Rio Bonito do Iguaçu se estenda pelos próximos seis meses. “Nós não perdermos a vontade de vir ajudar, a vontade de vir trabalhar, porque é muito comum nesse tipo de desastre é que nos primeiros dias, nas primeiras semanas, uma elevação muito grande da quantidade de voluntários que vêm, e com o passar do tempo esses voluntários começam a diminuir”. Para acelerar o trabalho, Waldrigues enfatiza a importância do trabalho articulado com a prefeitura e demais órgãos públicos responsáveis. 

Sezar Bovino, prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, realizou um ato de agradecimento aos coletivos e movimentos que fizeram trabalhos voluntários na cidade, no dia 20 de novembro, em frente à prefeitura. A maior parte dos grupos atuou até esta data. No saguão de entrada da prefeitura, Bovino mostrou um quadro com a imagem aérea da cidade antes da catástrofe. “Aqui está a imagem de como era a nossa cidade. Daqui uns dias nós vamos mostrar um outro quadro com ela mais linda, mais bonita e planejada, e que foi reconstruída com as mãos de tantos voluntários”.  

Ato em homenagem aos voluntários/as, em frente a prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu, no dia 20 de novembro. Foto: Renan Spagnol / MST no PR

A Brigada de Solidariedade do MST vai permanecer em ação até o dia 20 de dezembro, quando está sendo planejada uma atividade de celebração do Natal, junto à prefeitura do município. “O MST, junto com o Incra e o governo federal está fazendo um trabalho muito bom, e é o objetivo nosso […]. Vamos planejar tudo, distribuindo tarefas. Eu estou muito feliz porque envolve todas as famílias”, garante o prefeito. 

Reconstruir com boa alimentação, saúde e cuidado com as crianças 

A Brigada de Solidariedade também está atuando com uma cozinha solidária, organizada na sede do assentamento 8 de Junho, localizada a cerca de 10 minutos de Rio Bonito, com apoio do Coletivo Marmitas da Terra. O alimento é distribuído todos os dias para famílias que ainda estão desalojadas e também para equipes de trabalho que atuam na cidade. Nos primeiros dias após a catástrofe, foram produzidas cerca de 2500 marmitas diariamente. 

Desde a última semana o número reduziu para cerca de 600, reflexo da melhora nas condições de vida de muitas famílias atingidas, que voltaram a poder cozinhar as próprias refeições em casa. 

Foto: Thiarles França / MST no PR 
Foto: Thiarles França / MST no PR 

As atividades educacionais no CMEI Dona Laura também foram retomadas com apoio da Brigada e do Setor de Educação do MST. A primeira parte do trabalho foi como o mutirão de limpeza e reorganização do espaço e alguns reparos em estragos causados pelo tornado. Com a retomada das atividades, no dia 18 de novembro, educadoras Sem Terra também têm construído atividades práticas com as crianças de 6 meses a 5 anos.  

Outras equipes de trabalho se somam ao trabalho do espaço educativo, como o setor de saúde, de zeladoria e infraestrutura, contribuindo no cuidado das crianças. A alimentação está sendo garantida com a contribuição de militantes do MST que se somam na cozinha.

O Setor de Saúde do MST também se junta à Brigada de Solidariedade com o Espaço da Saúde Popular Luiza Aparecida. A sala está montada no centro comunitário da associação 8 de Junho. Nos primeiros dias após o tornado, os esforços do coletivo de Saúde foram especialmente para atender a própria militância que está atuando nas cozinhas solidárias e também na cobertura e reconstrução de casas.

Foto: Antonio Santos / MST no PR 

Bruna Zimpel, moradora do acampamento Terra Livre, em Clevelândia, e integrante da Direção Nacional do MST pelo Paraná, explica que o Movimento tem organizado uma estrutura de apoio, desde a madrugada que se seguiu ao tornado e também deslocado militantes de todo o estado do Paraná e de outros estados também, como o Rio Grande do Sul. “Se faz necessário seguir todo o mês de dezembro com ações como estão colocadas aqui, massivas, organizadas e de cooperação e reconstrução de Rio Bonito de Iguaçu e região. Nesse sentido, reforçamos a importância da contribuição com esse processo de solidariedade de todos que compreendem a solidariedade como um dos princípios fundamentais da classe trabalhadora”, conclui.

Solidariedade mútua 

Para dar continuidade aos revezamentos das caravanas de militantes, o MST mantém uma campanha de doação de recursos, em especial para o pagamento de transporte e combustível. 

Confira como ajudar:

Razão Social: Associação Marmitas da Terra
CNPJ: 55.025.405/0001-76
Banco: Crehnor Laranjeiras – 350
Agência: 3001
Conta Corrente: 33506-1
Chave Pix: [email protected]