Trabalho Coletivo
Mutirão de esperança: um mês de Brigada de Solidariedade após os tornados no Paraná
Três tornados atingiram o estado no dia 7 de novembro. Confira o resumo do que aconteceu ao longo deste mês de muito trabalho e reconstrução

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
Rio Bonito do Iguaçu (PR): Há um mês, vivemos um dia que vai ficar marcado na memória de nós paranaenses. Na tarde abafada e de muito calor do dia 7 de novembro, três tornados atravessaram 11 municípios do Paraná e deixaram um rastro de destruição.
Em Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava, na região Centro-Sul do estado, os ventos ultrapassaram os 400 quilômetros por hora, levando a vida de sete pessoas, deixando centenas feridas, arrancando casas, árvores e espaços públicos.
Entre as dezenas de famílias atingidas, mais de 400 vivem em áreas da Reforma Agrária, e viram lavouras, casas e espaços coletivos serem destruídos em menos de um minuto.
Nada disso aconteceu ao acaso. A violência desses tornados trouxe para mais perto de nós a realidade enfrentada por cada vez mais pessoas, vítimas de uma diversidade de catástrofes ambientais, mais e mais frequentes. Elas são resultado do agronegócio destruidor e do sistema capitalista que coloca o lucro acima de tudo.
Em meio à dor e ao medo trazidos pelos tornados, a solidariedade moveu milhares de pessoas, organizações, órgãos públicos e movimentos. Mais uma vez, sentimos que a humanidade e a empatia pelo próximo podem superar o egoísmo e o individualismo.
Desde aquela noite, começamos a nos organizar enquanto militância Sem Terra do Paraná para somar, com as nossas forças, em diferentes frentes de trabalho. Mais de 800 companheiras e companheiros, de acampamentos e assentamentos, cruzaram estradas por todo o Paraná, deixaram suas rotinas, suas roças, pegaram ferramentas, panelas e coragem para construir um grande mutirão de solidariedade nas áreas afetadas.
A solidariedade do povo para o povo é um valor para o MST. Neste último mês, temos vivenciado esse valor no dia a dia, aprendido e nos humanizado ainda mais com ele. Abaixo, dividimos com você leitora e leitor o vivido até hoje.
O que aconteceu no último dia 7 de novembro?
Após um dia muito quente e abafado, o final da tarde daquela sexta-feira foi de tempestade e muitos raios. Três tornados atingiram os municípios de Rio Bonito do Iguaçu, Turvo, Guarapuava, Quedas do Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Laranjeiras do Sul, Virmond, Cantagalo e Candói. Ao todo, foram 11 municípios que registraram destruições por conta da força do vento e da chuva!
Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava foram os municípios com os tornados mais violentos, classificados como F4 na escala Fujita, com ventos registrados entre 332 km/h e 418 km/h. Cerca de 90% da área urbana de Rio Bonito do Iguaçu sofreu algum tipo de dano.


Ao todo, 11 municípios foram afetados pelos três tornados. Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava os ventos chegaram a 418 km/h. Foto: Diangela Menegazzi
Tragédia climática histórica no Paraná
As pessoas que passaram aquele terror tem as imagens registradas na memória. E a data também vai ficar marcada na história do nosso estado, como um dos maiores e mais severos tornados registrados nas últimas três décadas. Foram 7 vítimas fatais, mais de 800 pessoas feridas, 1000 pessoas desalojadas e milhares de casas, estruturas, postes e árvores danificadas ou destruídas.

Comunidades da Reforma Agrária atingidas
Mais de 440 famílias acampadas e assentadas da Reforma Agrária também tiveram danos nas moradias, espaços coletivos e estruturas de produção, lavouras e matas. Em Guarapuava, o assentamento Nova Geração foi fortemente atingido, com dezenas de pessoas desalojadas e uma vítima fatal, o nosso companheiro José Neri Geremias.


Assentamento Nova Geração, em Guarapuava, teve quatro casas completamente destruídas e mais de 20 com danos nos telhados e estruturas. O barracão comunitário, e duas igrejas ficaram totalmente destruídas. Fotos: Mirian Kunrath
Afinal, o que é um tornado?
Ele surge a partir do encontro entre ventos quentes e úmidos vindos do Norte do Brasil e ventos frios da massa polar que vêm do Sul. Esse choque gera movimentos giratórios dentro das nuvens, de onde surgem funis que podem tocar o solo. Isso acontece principalmente em pontos de menor pressão atmosférica, mais quentes – por isso mais avassaladores nas áreas urbanas e com maior presença de concreto e menos árvores.

O que isso tem a ver com a crise ambiental?
O sistema capitalista funciona com base na destruição da natureza. As consequências têm sido gravíssimas, entre elas o aquecimento global: 2024 foi o ano mais quente da história, e 2025 caminha para bater esse recorde.
Com mais calor e umidade no ar, surgem condições ideais para formações violentas. As mudanças na circulação dos ventos também favorecem eventos extremos.

Como mudar isso?
Agroecologia é o caminho! É com a democratização da terra e dos recursos naturais, preservação de bens como água e biodiversidade, produção de alimentos saudáveis e com plantio massivo de árvores. Isso também significa enfrentar o modelo do agronegócio no campo, e a lógica do lucro acima da natureza e da vida.

Diante da catástrofe, a solidariedade coletiva!
Os tornados que atingiram o Paraná trouxeram muita destruição e dor. Mas, na mesma noite do dia 7, um grande mutirão de solidariedade teve início. A militância do MST se somou aos órgãos públicos e outros coletivos, trazendo a organização popular e massiva como forma de atuar. Mais de 800 militantes já passaram pela Brigada de Solidariedade do MST, vindos de acampamentos e assentamentos de todo o Paraná e de outros estados.
A primeira ação começou com panelas grandes, fogão, utensílios e alimentos, em que um grupo de militantes do MST de comunidades da região iniciaram a organização da primeira cozinha solidária, no Centro da Melhor Idade de Rio Bonito do Iguaçu. Uma cozinha também foi iniciada na comunidade Nova Geração, em Guarapuava, e outra no assentamento 8 de Junho, em Laranjeiras do Sul. Mais de 45 mil refeições/marmitas foram produzidas e entregues para população atingida até agora.

Mãos que lidam na terra e também reconstroem casas
Os mutirões para cobertura e reconstrução de casas e espaços coletivos iniciaram no dia 9, dois dias após a catástrofe. A experiência popular na construção civil e na carpintaria ajudou as mãos calejadas do trabalho na roça a cobrir e reerguer muitas moradas. Até agora, cerca de 100 casas, escolas do campo e barracões foram restaurados, na área urbana e nas comunidades da Reforma Agrária. E ainda há muito trabalho a fazer.
Nas comunidades da Reforma Agrária, o mutirão de reconstrução tem sido feito pelos próprios moradores, vizinhos e também com reforço da Brigada de Solidariedade. Além da cobertura de casas, as ações prioritárias foram em espaços comunitários como escolas e cooperativas.


Na área urbana de Rio Bonito do Iguaçu, além de cobrir e reconstruir casas, a principal demanda tem sido a de limpeza de ruas e terrenos. Com pás, carrinhos de mão e muito trabalho e disposição, a companheirada tem se dedicado a recolher entulhos formados pela destruição do tornado. É um trabalho exigente e muito importante para ver a cidade novamente organizada.
Saúde Popular: cuidado como resistência
O setor de Saúde do MST também se junta à Brigada de Solidariedade com o Espaço da Saúde Popular Luiza Aparecida, no assentamento 8 de Junho, em Laranjeiras do Sul, e no Nova Geração, em Guarapuava. Nos primeiros dias após o tornado, os esforços foram especialmente para atender a militância que está contribuindo na Brigada. Depois, a ação se ampliou para o apoio às famílias atingidas nas áreas rurais e urbanas. As ações ocorrem em conjunto com a Força Nacional SUS, a FOR-SUAS e a Fiocruz.

Retomadas das atividades educativas para crianças
O CMEI Dona Laura, de Rio Bonito do Iguaçu, foi bastante atingido pelo tornado. As atividades retomaram no dia 18, depois de muito trabalho de reconstrução. A Brigada de Solidariedade do MST contribuiu com o mutirão de limpeza e reorganização do espaço, e também na cozinha e com práticas integrativas de saúde. O Setor de Educação do Movimento também somou nas atividades práticas com crianças de 6 meses a 5 anos.
Muralismo da Juventude Sem Terra
Entre os escombros também rebrotam flores: depois dos trabalhos urgentes de reconstrução, limpeza e garantia de comida, a ação da Brigada de Solidariedade começou a revolver a falta das cores nos muros da cidade de Rio Bonito do Iguaçu. A Juventude Sem Terra está organizando uma frente de muralismo: é uma técnica de pintura em muros e paredes, que pode ser feita a muitas mãos!

E a luta também se torna poesia…
“Aqui se habita sonhos
Sobre os nossos pés sentimos a terra
Sobre nossas cabeças há um céu de sonhos
Pois não somos um povo que só habita a terra
Pois aqui não há tempo para o pessimismo
Pois a lágrima e o suor tem o mesmo sabor
Mais tem o peso de valores diferentes
Suor movimento do nosso corpo
sour movimento tempo
Como o Sol movimenta o dia
Tipo solidariedade leva Sol brilhar novamente
Pois a solidariedade não se faz só
Se faz com o povo para povo
A vida não é só servidão
por isso cantaremos
Conjugaremos verbos de fartura e ternura
Construiremos barricadas de resistência de sonhos.
O sonho não é terminado
Como sujeito formado pelo tempo caminhamos sobre a terra.”
(Roan Teixeira, militante do Coletivo Palavras Rebeldes MST-PR)

Contribua e faça parte desse mutirão!
Os trabalhos seguem intensos até o dia 19 de dezembro. Você pode ajudar a garantir o deslocamento das brigadas que vêm de outras regiões do Paraná:
Conta para doações:
Razão Social: Associação Marmitas da Terra
CNPJ: 55.025.405/0001-76
Banco: Crehnor Laranjeiras – 350
Agência: 3001
Conta Corrente: 33506-1
Chave Pix: [email protected]
*Editado por Solange Engelmann



