Solidariedade
Organização popular marca ações do Mãos Solidárias em 2025
Com ações permanentes de alfabetização, alimentação e saúde popular, o Mãos Solidárias fortaleceu territórios populares urbanos e camponeses, construiu vínculos comunitários e impulsionou a luta por direitos

Por Marcelo Victorio
Da Página do MST
O ano de 2025 consolidou o Mãos Solidárias como uma expressão central da solidariedade popular organizada pelos Movimentos Populares, em especial pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), articulando respostas concretas à fome, à negação de direitos e à desigualdade social.
Ao longo do ano, mais 10 mil pessoa foram alfabetizadas e ações enraizadas em territórios populares urbanos e camponeses articularam educação popular, combate à fome, cuidado em saúde e produção agroecológica, fortalecendo processos permanentes de organização popular.
Essa compreensão da solidariedade como prática emancipatória, parte do projeto político da Reforma Agrária Popular, é sintetizada por Paulo Mansan, da Coordenação Nacional do Mãos Solidárias: “Não existe nada mais solidário, mais revolucionário, do que ajudar quem foi historicamente excluído do direito ao estudo a romper as cercas do conhecimento.”
Ao longo de 2025, o Mãos Solidárias reafirmou a solidariedade como prática política permanente, construída a partir dos territórios, do trabalho coletivo e da articulação entre campo e cidade, materializando-se em ações nacionais e estaduais que expressam o projeto da Reforma Agrária Popular.
Ações Nacionais:
Feira Nacional da Reforma Agrária
A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada entre os dias 8 e 11 de maio de 2025, no Parque da Água Branca, em São Paulo, foi um dos principais momentos de articulação nacional do Mãos Solidárias ao longo do ano. A Feira reafirmou a solidariedade como eixo político do projeto de Reforma Agrária Popular.
Durante os quatro dias de atividades, o Mãos Solidárias organizou o Painel da Solidariedade, exposto ao público como símbolo do compromisso coletivo no enfrentamento à fome e da capacidade de organização popular frente à crise alimentar. Na mesma ocasião, cerca de 25 toneladas de alimentos saudáveis, produzidos em assentamentos e cooperativas da Reforma Agrária, foram doadas a diferentes territórios da cidade de São Paulo, evidenciando o papel da produção camponesa organizada no enfrentamento à fome urbana.
Foi também no contexto da 5ª Feira que ocorreu, no dia 11 de maio de 2025, o lançamento público da Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos nas Periferias. A Jornada integra a estratégia nacional do Mãos Solidárias de articular solidariedade concreta e educação popular, utilizando o método cubano “Sim, Eu Posso!” e os Círculos de Cultura de Paulo Freire, com atuação em periferias urbanas e territórios populares de diversos estados.
Na sequência, entre os meses de maio e junho de 2025, foram realizados o Encontro Nacional da Rede de Cozinhas Populares Solidárias e o Encontro Nacional do Mãos Solidárias, reunindo representantes de diferentes regiões do país. Os encontros possibilitaram a troca de experiências, a avaliação das ações nos territórios e o fortalecimento da articulação política nacional da iniciativa.

Foto: Marcelo Victorio

Foto: Marcelo Victorio

Foto: Marcelo Victorio
Ações Estaduais
Alagoas
Em Maceió, o Mãos Solidárias fortaleceu a organização popular nas periferias por meio da Jornada de Alfabetização nas periferias urbanas, ampliando vínculos comunitários, estimulando a organização de base e incorporando novas pessoas às ações permanentes de solidariedade e formação popular. As atividades de alfabetização se consolidaram como espaços de escuta, convivência e construção coletiva, contribuindo para o enraizamento do trabalho popular nos territórios.
Durante a 24ª Feira da Reforma Agrária de Maceió, foram doadas mais de 10 toneladas de alimentos a associações comunitárias e entidades parceiras, reafirmando o compromisso da Reforma Agrária Popular no enfrentamento à fome e a construção de circuitos solidários entre campo e cidade.
A partir dessa experiência, consolidou-se uma rede de articulação permanente, que hoje integra e fortalece as Cozinhas Populares Solidárias no estado, combinando a distribuição de alimentos saudáveis com a organização comunitária, a solidariedade ativa e a luta pelo direito à alimentação e à dignidade.

Foto: Mykesio Max

Foto: Lucas Oliveira
Ceará
Em Fortaleza, a Jornada de Alfabetização estruturou cerca de 150 turmas, articulando o método cubano “Sim, Eu Posso!” com os Círculos de Cultura de Paulo Freire, reafirmando a alfabetização como prática de emancipação, leitura crítica da realidade e organização popular.
O estado também avançou na implantação de hortas comunitárias urbanas, integrando a produção agroecológica à formação política e ambiental, à soberania alimentar e à ocupação coletiva de espaços urbanos. As hortas se consolidam como instrumentos pedagógicos e de geração de alimentos saudáveis, promovendo o cuidado com o território, a troca de saberes e a autonomia das comunidades envolvidas.
De forma complementar, o projeto PopRua, realizado mensalmente em parceria com o Movimento das Pessoas em Situação de Rua, garantiu alimentação a pessoas em extrema vulnerabilidade social na capital cearense. A iniciativa combinou a oferta de refeições com ações de escuta, solidariedade ativa e denúncia das violações de direitos, reforçando a compreensão da alimentação como direito humano e da organização popular como caminho para enfrentar a fome e a exclusão social.

Foto: Mãos Solidárias Ceará

Foto: Arquivo Mãos Solidárias

Foto: Mãos Solidárias Ceará
Maranhão
No Maranhão, o Café Solidário, iniciado em 2025, passou a atender regularmente cerca de 150 pessoas em situação de vulnerabilidade social, consolidando-se como uma ação permanente de solidariedade popular nos territórios onde atua.
A Sopa Solidária, principal ação desenvolvida no estado, é preparada duas vezes por semana e atende de forma contínua mais de 200 pessoas, a partir de cozinhas solidárias organizadas nas próprias comunidades. A ação articula a produção e o preparo coletivo dos alimentos com processos de formação popular e solidariedade ativa, reafirmando o papel das cozinhas como instrumentos de enfrentamento à fome, construção de autonomia comunitária e mobilização popular.

Foto: Mãos Solidárias Maranhão

Fotos: Mãos Solidárias Maranhão
Minas Gerais
Em Minas Gerais, a Jornada de Alfabetização foi encerrada em 2025 com 146 turmas, garantindo o direito à educação a jovens, adultos e idosos por meio da educação popular, articulando alfabetização, leitura crítica da realidade e fortalecimento da organização comunitária.
Ao longo do ano, as cozinhas solidárias tiveram papel central nas ações do estado, com a oferta de refeições duas vezes por semana, preparadas a partir de alimentos oriundos da produção do MST e de políticas públicas estruturantes, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A iniciativa reafirmou a centralidade das políticas de combate à fome e a importância da articulação entre produção camponesa, solidariedade urbana e ação do Estado.
Além disso, foram realizados três plantios solidários, reunindo moradores das cidades, acampados e assentados dos territórios de São Joaquim de Bicas e Betim, fortalecendo a prática agroecológica e a construção coletiva do cuidado com o território, a terra e a vida.

Paraíba
A inauguração da Cozinha Solidária Josué de Castro representou um marco para o coletivo Mãos Solidárias no estado, ao integrar, em um mesmo território, a oferta de alimentação saudável com os processos de alfabetização e educação popular, fortalecendo a compreensão da comida e da educação como direitos indissociáveis.
A visita da Coordenação Nacional da Jornada de Alfabetização reforçou o acompanhamento político-pedagógico das ações desenvolvidas, contribuindo para o alinhamento metodológico e o fortalecimento da articulação entre a direção nacional, a coordenação estadual, os educadores populares e as comunidades envolvidas, garantindo maior organicidade, enraizamento territorial e continuidade ao trabalho realizado.


Paraná
Em 2025, o coletivo Marmitas da Terra celebrou cinco anos de atuação com a realização do Festival Comida no Prato, que reuniu alimentação saudável, atividades culturais, debates e ações de cuidado.
Os mutirões quinzenais de hortas agroecológicas, especialmente no assentamento Contestado, avançaram como eixo central na articulação entre campo e cidade.
O Curso de Realidade Brasileira (CRB), realizado em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), consolidou-se como importante espaço de formação política para militantes, estudantes e trabalhadoras(es).

Foto: José Eduardo

Foto: Larissa Urquiza

Foto: José Eduardo
Sergipe
As Cozinhas Solidárias tiveram papel estratégico no enfrentamento à insegurança alimentar em comunidades periféricas, consolidando-se como espaços de solidariedade ativa, organização comunitária e garantia do direito humano à alimentação adequada.
A Jornada de Alfabetização estruturou 75 turmas, iniciadas após um encontro estadual de formação, realizado em abril de 2025, que reuniu educadores e educadoras populares para o planejamento metodológico, coletivo e o fortalecimento do caráter político-pedagógico da iniciativa.
O estado também sediou dois encontros presenciais do programa Agentes Populares de Saúde (AgPopSus), realizados no assentamento Moacyr Wanderley, fortalecendo as práticas de saúde popular, a organização comunitária e o vínculo com o Sistema Único de Saúde (SUS), reafirmando a centralidade do cuidado coletivo e da atuação territorial na promoção da saúde.

Rio Grande do Sul
Em novembro de 2025, ocorreu a formatura da turma do método “Sim, Eu Posso!” na Vila Jardim, em Porto Alegre. A atividade foi resultado de um processo de aulas semanais realizadas entre maio e outubro, construído coletivamente a partir da educação popular, da convivência comunitária e do compromisso com o direito à alfabetização nos territórios periféricos.
Já em dezembro, educandas da Cozinha Solidária da Vila Jardim participaram da primeira mostra das turmas do programa Agentes Populares de Saúde (AgPopSus), socializando experiências de educação popular em saúde, práticas de cuidado coletivo e ações desenvolvidas no território, reafirmando a integração entre alimentação, saúde e formação política como dimensões inseparáveis da luta popular.

Foto: Mãos Solidárias Rio Grande

Foto: Mariana Dambroz
A solidariedade organiza e politiza
O balanço das ações de 2025 demonstra que o Mãos Solidárias constrói processos permanentes de organização popular, articulando educação, alimentação, saúde e agroecologia como dimensões inseparáveis da luta por direitos e da construção do projeto de Reforma Agrária Popular.
Ao final de 2025, a experiência acumulada pelo Mãos Solidárias demonstra que a solidariedade organizada nasce nos territórios e se consolida como projeto nacional, como expressa Mansan. “A partir das experiências concretas das Cozinhas Solidárias nos territórios, foi possível organizar e estruturar a Rede Nacional de Cozinhas Populares Solidárias. Hoje são mais de 130 cozinhas em funcionamento em todo o país, garantindo dezenas de milhares de refeições de forma permanente e afirmando a solidariedade organizada como prática política.”
As experiências desenvolvidas ao longo de 2025 reafirmam que a importância da solidariedade, ao organizar coletivamente, não como caridade, mas como força política capaz de enfrentar a fome, fortalecer territórios populares e construir, na prática, o projeto de Reforma Agrária Popular defendido pelo MST.
Mãos solidárias, mãos que lutam!
*Editado por Érica Vanzin e Solange Engelmann



