Agroecologia

MST realiza dispersão de sementes nativas no Quilombo Campo Grande (MG)

Mais de 530 quilos de sementes nativas foram dispersados no Assentamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), como parte da estratégia e Plano Nacional do MST de recuperação ambiental.

Foto: Rodrigo (MST-MG)

Por Alí Nacif
Da Página do MST

Da terra ferida à terra que renasce

Mais de 530 quilos de sementes nativas, reunindo mais de 30 variedades de espécies, foram dispersados nas matas do Assentamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no Sul de Minas Gerais, no dia 23 de dezembro de 2025. A ação integra a estratégia nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de recuperação ambiental de territórios historicamente degradados pelo latifúndio e reafirma o compromisso do movimento com a Reforma Agrária Popular, a agroecologia e a defesa da vida.

O território, marcado por décadas de exploração da antiga usina e por queimadas criminosas recentes, tornou-se novamente espaço de reconstrução da natureza e de produção de esperança coletiva.

Colher para devolver à terra

Foto: Rodrigo (MST-MG)

Segundo a dirigente nacional do MST, companheira Tuíra, a ação é resultado de um longo processo coletivo, que começa muito antes da dispersão das sementes.

“Essa ação começa na colheita. Muitas dessas sementes são nossas, produzidas aqui mesmo no Quilombo Campo Grande, pelas árvores que já plantamos ao longo dos anos. É fruto de um trabalho contínuo de cuidado com a terra.”

Ela destaca que o território abriga o Viveiro Terra de Quilombo, em funcionamento há mais de seis anos, responsável pela produção de milhares de mudas nativas.

“Só aqui no Quilombo Campo Grande já plantamos quase duzentas mil árvores nativas, recuperando nascentes, topos de morro e áreas que estavam completamente devastadas pela antiga usina.”

Separar, cuidar e compartilhar

Após a colheita, as sementes passam por um processo minucioso de separação, armazenamento e cuidado, realizado coletivamente pelas famílias Sem Terra.

“Há um trabalho muito bonito, que é o da separação das sementes, de cuidar da diversidade. Porque não é qualquer semente: são sementes que produzem vida, água, alimento e equilíbrio ambiental.”

Além da produção local, a ação contou com uma ampla rede de solidariedade e apoio popular.

“Essa dispersão é feita com muitas mãos. Recebemos sementes da Orgânico Sul de Minas, de grupos de agroecologia ligados aos Institutos Federais da região e de pessoas que, mesmo não estando organizadas, contribuíram diretamente para que essa ação acontecesse.”

Doar como gesto político

Foto: Rodrigo (MST-MG)

Parte das sementes arrecadadas também foi destinada a outras áreas e iniciativas populares, fortalecendo a dimensão solidária da ação.

“Tem sementes que ficam, tem sementes que circulam. Doar sementes é compartilhar futuro. É fortalecer outros territórios na mesma luta pela recuperação ambiental e pela soberania alimentar.”

A iniciativa foi construída coletivamente pelo MST, pelo Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) de Alfenas, com apoio do deputado Luizinho, da Prefeitura de Campo do Meio, da Secretaria Municipal de Agricultura, de vereadores do município e de diversos parceiros institucionais.

A dispersão: semear vida desde o céu

Foto: Rodrigo (MST-MG)

A etapa final aconteceu com a dispersão aérea das sementes, realizada com o apoio de um helicóptero cedido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF – Guará), além do acompanhamento da Polícia Militar. As sementes foram lançadas sobre áreas de mata degradadas do assentamento, ampliando o alcance da recuperação ambiental.

Para Tuíra, o gesto carrega um forte simbolismo:

“Enquanto alguns plantam veneno, nós plantamos esperança. Plantamos vida, plantamos um projeto de presente e de futuro.”

Plano Nacional e produção de água

Foto: Rodrigo (MST-MG)

A ação está diretamente vinculada ao Plano Nacional do MST “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que articula reflorestamento, produção de alimentos e enfrentamento à crise climática.

O dirigente regional Jailson reforçou a importância estratégica da iniciativa:

“Essa ação integra um esforço nacional do MST de recuperar territórios degradados e enfrentar a crise ambiental. Aqui no Quilombo Campo Grande, a diversidade produtiva mostra que a reforma agrária é parte da solução.”

Hoje, o território produz mais de 180 tipos diferentes de alimentos, combinando produção agrícola, reflorestamento e preservação das águas.

“Produzir diversidade é produzir água. É cuidar de um bem comum que não serve só para quem vive aqui, mas para toda a sociedade”, reforçou Tuíra.

Reforma Agrária é cuidar da vida

A dispersão das sementes ocorre em um momento simbólico para o Quilombo Campo Grande, semanas após a homologação judicial que encerrou o maior conflito fundiário de Minas Gerais. O gesto reafirma que a conquista da terra caminha junto com a responsabilidade coletiva de protegê-la.

No Quilombo Campo Grande, a terra antes abandonada pelo latifúndio segue sendo transformada em território de vida, alimento, água e futuro.

*Editado por Leonardo Correia