MST digitaliza seus primeiros registros musicais e lança novo álbum
Por Mayrá Lima
Da Página do MST
Em 1984, o MST surge e as primeiras ocupações de terra na região sul do Brasil já abrigavam centenas de famílias, cujo sonho era ter um pedaço de chão para plantar e viver. Perseguição, a fome e a morte marcaram uma época difícil para os camponeses que iniciavam sua mobilização.
A Ditadura Civil-Militar ainda estava em vigor. O Estado militar, além da cerca, tinha os fuzis que, por diversas vezes se voltaram contra os trabalhadores e trabalhadoras, cuja reação à perseguição, à fome e à morte foi a organização em movimento.
Em Florianópolis (SC), um grupo de jovens, inspirados pela Teologia da Libertação e nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB), reuniram-se para cantar a luta dos trabalhadores Sem Terra. Ademar Bogo, Edgar Kollling, Adelar Pizetta e Ana Justo, hoje militantes do MST, gravaram o que se pode considerar os primeiros registros musicais do Movimento Sem Terra, reunidos em uma fita cassete nominada “Dor e Esperança”.
O militante Neuri Rosseto foi o responsável por ilustrar o álbum original, trazendo elementos referentes à Ditadura e à organização dos trabalhadores. “A bota é o Exército reprimindo os trabalhadores aqui representados pela foice e pela enxada. Os dois instrumentos quebrados que viram sangue. Mas vem a reação dos trabalhadores que é o facão, que é a vida em movimento”, explica Rosseto.
Mais de 30 anos depois, a fita foi recuperada. Diante do valor histórico do material, o MST digitalizou todas as 15 músicas gravadas em um CD com o mesmo nome do cassete, cujo lançamento foi realizado durante o Encontro da Coordenação Nacional do MST, realizado na semana passada, em São Paulo.
“O Bogo escreveu essas músicas em 1984. Todas elas são uma análise da realidade, mas musicada. A música teve um papel extraordinário. Só o canto nos animava e era para falar o que a gente sentia”, afirma a militante catarinense Irma Brunetto, que gravou duas faixas bônus no CD, com a parceria de Ênio Bohnenberger, militante de Minas Gerais.
Para espalhar a necessidade de mobilização, a canção foi o instrumento utilizado para irradiar ideias de reforma agrária, explicar a legislação existente e para brotar um sentimento de esperança frente à organização MST que acabara de nascer. A gravação, em 1985, se deu de forma bastante simples.
Enquanto Edgar e Bogo ensaiavam, tocavam e cantavam, Pizetta utilizava-se de um simples gravador quando tudo estava pronto. Enquanto isso, Ana Justo cuidava da preparação das letras, datilografando todo o álbum, além de toda produção.
“Não teve estado que não usou estas músicas em alguma mística ou encontro estadual”, pontua Ênio.