Jovens paraenses selam unidade entre campo e cidade

Os 180 anos da Cabanagem também foi comemorado durante encontro em Belém.

Da Página do MST

O Encontro Popular da Juventude do Campo e Cidade encerrou no último dia 31/01 e reuniu mais de 200 jovens de várias organizações sociais em Belém (PA).

Durante os dias de encontro, os jovens realizaram plenárias de formação e discutiram sobre a conjuntura política, cultura, revolução e movimentos sociais. A atividade também homenageou os 180 anos da Cabanagem, único movimento que tomou o poder em nosso país.

 

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Os participantes ainda ocuparam a Assembleia Legislativa do Estado do Pará durante a entrega do relatório da CPI das milícias, que apura a participação de policiais militares em chacinas na capital. 

“Nosso Encontro selou um compromisso entre movimentos, organizações, mulheres e homens jovens que decidiram unir forças em torno de lutas que ampliem nossos direitos sociais, políticos e econômicos e contra o modelo de desenvolvimento do capital e os governos que são suas forças auxiliares”, anunciou a carta final. 

Leia na íntegra:

Carta do Encontro Popular da Juventude do Campo e da Cidade

Nós, jovens trabalhadores e trabalhadoras do campo e das cidades, estivemos reunidos de 28 a 31 de janeiro de 2015 em Belém do Pará no Encontro Popular da Juventude do Campo e da Cidade para estudar a conjuntura política, cultural e social de nosso país, debater a situação atual da juventude brasileira, bem como ampliar e melhorar as suas perspectivas. Encontramos-nos também, para realizar um debate franco e aberto com os movimentos e organizações populares de juventude para construir uma agenda unitária das forças populares, mas acima de tudo, para construir processos de lutas e ações que potencializem a tomada de iniciativa do povo brasileiro na condução de suas vidas.

Estivemos reunidos também, para celebrar os 180 anos da Cabanagem que foi o único movimento composto pelas massas que efetivamente tomou o poder na história de nosso país. Compreendemos que uma população formada por negros, mestiços, indígenas e brancos pobres como nós, que teve a capacidade de enfrentar as forças mais poderosas do império, tem muito a nos apontar como perspectiva de futuro.

Queremos afirmar para a sociedade brasileira que somos amazônidas e nos preocupamos profundamente com o futuro de nossa região que tem sido alvo da cobiça das forças mais poderosas da terra e sua fúria em saquear nossos recursos naturais e, isso tem nos levado a um processo acelerado de degradação ambiental e de crescimento vertiginoso da violência, onde a juventude tem sido um dos setores mais impactados.

Afirmamos que nosso país vive uma grave crise social, política e econômica que tem origem na opção adotada pelos governos que por aqui passaram de um modelo de desenvolvimento que tem no grande capital nacional e internacional a prioridade e o centro de sua condução política. Este modelo que privilegia o imperialismo, o capitalismo e o agronegócio, nome moderno para o velho e atrasado latifúndio, tem a violência como marca. Essa política nos alçou ao topo do ranking mundial de violência, onde a cada cem pessoas que são assassinadas todos os dias no mundo, 13 são brasileiros. 

No campo, vivemos em assentamentos sem a infraestrutura necessária para satisfazer nossas necessidades em todas as dimensões da vida. Nos acampamentos aguardamos uma reforma agrária que não tem passado de discursos governamentais contrariando a realidade que é de total paralisia e é tratada como política social compensatória que não resolvem as verdadeiras necessidades das famílias camponesas. Somos o país que mais consome veneno no mundo, como consequência de um padrão de consumo baseado na grande indústria multinacional dos setores de alimentos, onde valemos pelo que temos e não pelo que somos. 

Este modelo implantado desde 1500 no Brasil tem provocado uma degeneração nas relações socioculturais onde mulheres ainda são consideradas cidadãs de segunda categoria com a exploração física expressa na dupla jornada de trabalho com remuneração inferior aos homens. A violência sexual, física e moral atingem números alarmantes, mesmo após a aprovação da Lei Maria da Penha confirmando que a opressão pela qual vivem as mulheres tem raízes profundas em nossa cultura capitalista e patriarcal.

 

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Construção da unidade marca encontro de jovens em Belém

A homofobia, o machismo, o racismo, sexismo e outras formas de discriminação e violência têm oprimido nossa juventude que é impedida de viver e amar plenamente.

Somos solidários com os que vivem nas periferias como vítimas do poder paralelo das milícias, braço armado do Estado e do tráfico de drogas que tem recrutado e assassinado em massa nossos jovens como na chacina do dia 04 de novembro de 2014 em Belém. O alcoolismo e as drogas é o que restou para nossa classe dentro do modelo do capital como parte visível da degradação sociocultural que tem raízes históricas incontroláveis no cenário atual.  

Nossa educação ainda tem os piores indicadores de desenvolvimento do país, pois em que pese o aumento dos investimentos e a ampliação das políticas públicas, nossas escolas ainda são fechadas no campo e nas cidades vivemos com estruturas que são verdadeiros depósitos de gente. Educadores e profissionais são mal remunerados o que inviabiliza o aumento da qualidade do ensino. Em síntese, nossa educação ainda é disputada pelo mercado que avança em passos mais largos que as políticas governamentais.

Nosso Encontro selou um compromisso entre movimentos, organizações, mulheres e homens jovens que decidiram unir forças em torno de lutas que ampliem nossos direitos sociais, políticos e econômicos e contra o modelo de desenvolvimento do capital e os governos que são suas forças auxiliares.

Comprometemos-nos, a defender a Amazônia como nossa casa das tentativas de controle pelas forças do capital e do Estado, que nos vêem como fonte de matéria prima para abastecer os países imperialistas e como uma sub-raça que deve ser despoja de seu território e abrir mão de suas formas de vida que contrariam o padrão capitalista de vida e de cultura.

Estaremos nos assentamentos, acampamentos, bairros, escolas, universidades, vilas, ruas, praças, locais de trabalho realizando um massivo trabalho de base para ampliar a participação e a consciência crítica e revolucionária da juventude brasileira, combatendo o projeto de morte das classes dominantes brasileiras, bem como, do imperialismo denunciando sua política e as agressões aos países e povos do mundo inteiro e as guerras como padrão de imposição desta mesma política.

Combateremos a ideologia burguesa e sua dominação cultural e espiritual que impõem através de seus meios de comunicação de massa uma perspectiva de vida onde os jovens são reduzidos a si mesmos pelo individualismo e a competição.

Seremos solidários com os processos populares na América Latina e as lutas de resistência e afirmação da autodeterminação de países como Cuba, palestina, Haiti, Iraque, dentre outros.

Participaremos com empenho de nossos movimentos e organizações, entendendo que elas são instrumentos de lutas e mudanças de nosso povo e por acreditar que sozinhos e isolados ninguém constrói processos verdadeiramente revolucionários.  

Lutaremos para mudar o sistema político brasileiro através de instrumentos populares como o último plebiscito popular realizado por entidades e movimentos, considerando que eles educam e estimulam a participação do povo nos grandes temas e debates.

Por fim, dizemos que aqui deste chão que pisamos, não seremos avarentos com nosso tempo e nossa disposição para ir em busca de refundar permanentemente nossas organizações e construir formas organizativas novas para que nossos jovens sintam prazer em ser militantes das causas populares.

Afirmamos que aqueles que querem construir efetivamente o novo devem ir em busca da imaginação perdida, pois vivemos um tempo de vazio de política em que muitas de nossas antigas referências já não nos servem mais. 

Afirmamos o que um velho dirigente nos deixou como legado: “Não temos nada a perder, a não ser as nossas cadeias, mas temos um mundo que ganhar!”

Belém, 31 de Janeiro de 2015
180 Anos da Cabanagem