Encontro em Luiziânia debate os desafios da saúde do campo
Por Iris Pacheco
Da Página do MST
Entre os dias 25 a 28 de julho, trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra participam do encontro nacional do setor de saúde do MST, em Luiziânia (GO), onde debatem os desafios da saúde do campo na Reforma Agrária Popular.
Para Mercedes Zuliani, do coletivo nacional de saúde do MST, um dos grandes desafios é a unidade política da classe trabalhadora na área da saúde.
“É fundamental construir alianças com outros setores que fazem a luta pela saúde relacionada a um projeto de sociedade. Não tem saúde se não conquistamos as questões básicas, como a terra, a educação e a moradia”, disse Zuliani .
Para ela, é preciso ampliar o debate sobre qual sistema de saúde que se almeja numa perspectiva popular, tanto em relação à tecnologia quanto ao conhecimento.
O encontro teve início nesta quinta-feira (25), e conta com um conteúdo bem diverso. Os Sem Terra debateram desde a análise de conjuntura, com elementos da educação e da saúde com a questão agrária, ao debate sobre as práticas de cuidado e experiências do setor de saúde no MST.
Ao analisar a conjuntura, Kelli Mafort, da coordenação do MST, abordou alguns conceitos de do filósofo húngaro István Meszáros, e citou o conceito de crise estrutural do capital que impacta a humanidade de forma desigual.
“O capitalismo se nutre das crises, pois é uma forma dele se reorganizar. Elas são consideradas crises cíclicas, um motor para que o capitalismo possa alavancar. No entanto, essa ação incide nos recursos naturais e também na própria existência da humanidade”, destacou Mafort.
Ela ainda abordou os impactos da crise econômica e política no país e como a classe trabalhadora tem atuado neste contexto.
“Estamos vivendo uma retomada da luta de classes no país. Participamos da Frente de lutas dos movimentos sociais e sindicais, contra a retirada de direitos e o enfrentamento da direita nas ruas”. Para Mafort, “a contribuição do MST nesse momento histórico é decisiva”.
Saúde e Educação
A professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, Marcela Pronko, destacou elementos da educação e a saúde, já que para ela não como pensar na saúde sem levar em conta a educação.
“Educação e saúde é um direito que se conquista, mas que precisa ser qualificado. A gente tem que dizer qual educação e saúde reivindicamos. Cada vez mais, a educação se transforma em mercadoria e tem seu foco em aprendizados individuais e instrumentalizados. As formas como estão colocadas as políticas de educação nos últimos tempos tende a coordenar o conjunto de trabalhadores em função do capital”, salientou Pronko.
A formação da biomedicina requer o saber instrumental sobre saúde. O indivíduo não precisa entender sobre a vida da sociedade para medicalizar. Neste sentido, as práticas de cuidados do sujeito com seu corpo e com seu território vão se perdendo.
Para Ivi Tavares, do coletivo de saúde do MST no Rio de Janeiro, é preciso fortalecer e aprimorar as práticas de cuidados já existentes, mas também dialogar com as realidades dos assentamentos e acampamentos de modo que a saúde não seja restrita à medicalização.
“Se por um lado é importante ter a atenção básica de saúde, que sempre chegou ao campo como migalha, por outro, o que chega é sempre no modelo biomédico, que tem uma dificuldade de diálogo com as práticas de cuidados que as pessoas têm nas áreas de assentamentos”, destacou.
Para ela, “um grande desafio nosso é como dialogar para não perder essas práticas de cuidados, que não é apenas com o corpo, mas também estendida aos territórios, aos bens comuns destas comunidade e que está em disputa com o capital”, afirmou Ivi.