Experiências mostram que a educação do campo e a luta pela Reforma Agrária caminham juntas
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Do norte ao sul do país a educação do campo vem tomando proporções pedagógicas diversificadas, sendo contextualizadas a partir das realidades vividas pelos trabalhadores e trabalhadoras nos assentamentos e acampamentos do MST.
Pensando nisto, o 2º Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (Enera), que teve início nesta segunda-feira (21), em Luziânia (GO), está sendo mais um espaço de troca de experiências vividas nas escolas do campo de todo país.
Este intercâmbio está trazendo diversos elementos para se pensar a construção coletiva da luta contra o fechamento de escolas no campo e as práticas pedagógicas realizadas (Clique aqui e confira mais fotos do 2° Enera).
Sem Terrinha em ação
Sob este cenário, os sujeitos que compõe este processo de luta se movimentam em defesa da educação do campo. Exemplo disso foi a Jornada dos Sem Terrinha realizada em outubro de 2012, no Paraná.
A atividade reuniu centenas de crianças com o objetivo de realizar uma ação política e formativa na luta por direito a educação.
Para os educadores e educadoras do MST, a jornada foi fruto da materialidade que inclui o Sem Terrinha quanto sujeito na luta pela terra.
Estruturando o processo de formação e mediando a aprendizagem proposta, o espaço construiu alguns eixos metodológicos. O primeiro deles traz como base a recreação, dando ênfase ao resgate cultural e indenitário das crianças camponesas.
Em seguida, o estudo e o debate trouxeram elementos para se pensar o método que o Estado conduz a educação brasileira nos territórios no Paraná e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Por fim, a jornada teve a organização política e a luta em defesa de uma educação do campo de qualidade como eixo final.
Garantindo o processo de acumulação da jornada para os próximos anos e inserindo a luta como método formativo, os Sem Terrinha culminaram o espaço com 16 ocupações em núcleos de educação regionais e a Secretaria de Educação do estado.
Nos atos, as crianças denunciaram o fechamento de escolas e pautaram melhores estruturas para a educação nas áreas de assentamento e acampamento.
Uma grande conquista executada no passar dos anos com a jornada é a realização de encontros com os Sem Terrinha nas grandes regiões e a nível estadual.
Sim, eu posso ler e escrever
Outra experiência socializada no encontro foi a erradicação do analfabetismo em sete áreas do MST a partir do projeto cubano de alfabetização “Sim, eu posso”.
O projeto foi executado no extremo sul da Bahia e conseguiu alfabetizar 203 trabalhadores dos Assentamentos Jaci Rocha, Antônio Araújo, Bela Manhã, Herdeiros da Terra, José Martí e Abril Vermelho.
As atividades tiveram início no dia 9 de janeiro de 2015, com aula inaugural que reuniu todas turmas de alfabetização do projeto, e foi encerrado com uma festa de formatura no dia 9 de maio. Ao final, 98% dos estudantes aprenderam a ler e escrever.
Dona Elza Silva, aos seus 83 anos, teve contato pela primeira vez com um papel e lápis por meio do projeto. “Agora que aprendi a ler e escrever continuarei lutando em defesa da terra e da educação para que outras pessoas possam estar aprendendo como eu”, disse.
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“Quando eu era jovem meu pai não me deixava estudar porque ele achava que eu ia para escola arrumar namorado. A minha única tarefa era cuidar da casa e dos meus irmãos”, relembra.
Mesmo com a idade avançada, Elza afirma que quer continuar estudando. “Este foi apenas o meu primeiro passo”, conclui.
“Sim, eu posso ler e escrever. Esta é uma conquista do MST” foi o lema do projeto que em meio à luta contra as empresas de celulose propôs avançar na formação humana com um método que contextualiza a realidade vivida no campo.