Mulheres Sem Terra respondem jornal que acusa casos de estupros em acampamentos do MST
Da Página do MST
Nesta quarta-feira (4), sem nenhum fundamento, o Jornal Correio do Povo publicou um artigo do colunista João Muniz, “o Matuto”, alegando que mulheres grávidas de dois acampamentos do MST no Paraná seriam vítimas de estupros dentro destes espaços.
Em nota, o coletivo de mulheres do MST e a direção regional do Movimento repudiam o artigo intitulado “Os filhos do Stédile e do Seriguelli”.
Para os Sem Terra, o texto representa “o preconceito, o machismo e a violência contra as mulheres e o povo trabalhador Sem Terra”, afirma a nota.
“Nós, mulheres do MST, fomos vítima de mais um destes ataques violentos, que não atinge somente a nós, mas a todas e todos que lutam junto ao MST”.
Os Sem Terra acusam o Jornal Correio do Povo de estar em conluio com a empresa Araupel, que tem uma de suas áreas (considerada grilada) ocupada pelas famílias, e que corriqueiramente produz matérias no veículo difamando e deslegitimando a luta das famílias acampadas.
A nota ainda afirma que as mais de três décadas de luta do MST possibilitou “a organização dos Sem Terra identificar a violência como um problema social reforçado pelos princípios capitalistas de exploração, e que certamente as mulheres são as mais afetadas nestes casos. Por isso, o MST se soma a Via Campesina na campanha Internacional intitulada “BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES”, questionando e pautando a sociedade para mudanças estruturais que acabem com a violência, além disso, organiza o setor de gênero em seus acampamentos e assentamentos para refletir e contribuir para a construção de novas relações entre gêneros pautadas na igualdade, respeito e integridade de todas e todos”.
Confira a nota na íntegra
AS FILHAS E HERDEIRAS DAS TERRAS DA REGIÃO
O MST vem a público para denunciar o Sr. João Muniz, “o Matuto”, e o Jornal Correio do Povo, de Laranjeiras do Sul, e repudiar a manifestação de sua falta de profissionalismo e bom senso, ao escrever um “texto de opinião” intitulado “os filhos do Stédile e do Seriguelli”, que incita a violência contra as mulheres, além de veicular informações incoerentes e falsas.
Infelizmente, neste último período tem ganhado forças as manifestações conservadoras veiculadas neste jornal e por esse referido “jornalista”, como é o caso desta matéria, fomentando o preconceito, o machismo e a violência contra as mulheres e o povo trabalhador Sem Terra.
Nós, mulheres do MST, fomos vítima de mais um destes ataques violentos, que não atinge somente a nós, mas a todas e todos que lutam junto ao MST. Para nós, este episódio não é um fato isolado, mas um reflexo do atual momento político pelo qual passa o país, em que se vê crescer a cada dia o ódio contra os movimentos populares, migrantes e a população negra e pobre.
Estes atos de violência e ódio propagado intensamente nas redes sociais, e que reverbera cada vez mais nos meios de comunicação, é mais uma demonstração da violência dos setores da elite brasileira dispostos a promover uma onda de violência e ódio contra os setores populares.
Senhor João Muniz e Jornal Correio do Povo, a dimensão deste acontecimento advém, sobretudo, de uma mídia partidarizada, manipuladora, mentirosa, que distorce e esconde informações (questionamos: quais são as fontes das informações que veicula neste texto? Quais são as provas reais das acusações que levanta, pois acusações sem provas como estas caracterizam crime, calúnia! E estamos dispostas/os a tomar as devidas providências).
Onde menciona denúncias e conversas com líderes sem nome são um tanto quanto questionáveis, porque os acampamentos estão, não apenas pensando, mas construindo alternativas de combate à opressão tão comumente encontrada no sistema capitalista, portanto, nenhum desses assuntos seria tratado como ridículos.
Além disso, a sua escrita induz o leitor a responsabilizar a violência contra as mulheres e os casos de gravidez na adolescência, duas figuras públicas – João Pedro Stedile (da coordenação nacional do MST) e Hamilton SERIGHELLI (assessor especial para assuntos fundiários do Governo do Estado do Paraná), destacados no título do texto: “Os filhos do Stédile e do Seriguelli”.
Ao mesmo tempo, promove o ódio e o preconceito contra os que pensam diferente e principalmente contra as mulheres Sem Terra. É este tipo de postura a serviço de uma direita raivosa e fascista, a responsável por formarem mentalidades criminosas e odiosas que alimentam as ruas e as redes sociais com os valores mais anti-sociais e desumanos que possa existir.
Quando questiona o aumento da taxa de gravidez alegando que a saúde dos municípios da região não comporta o atendimento destas mulheres Sem Terra, vale mencionar, para seu conhecimento que: o princípio da universalidade do acesso à saúde é garantido na Constituição Federal e instrumentalizado pelo SUS, cujos recursos advêm dos outros entes da federação (Estado e União Federal), e não apenas do município.
Vale ressaltar também que as mulheres grávidas nos acampamentos, em sua maioria já residiam nos municípios da região há anos, outras migraram temporariamente para outras regiões e retornam neste período.
Casos de gravidez na adolescência já foram oficializados pelo IBGE (caso queria consultar é uma fonte oficial) em anos anteriores a organização dos Acampamentos, no ano de 2013 o município de Rio Bonito registra 4 grávidas na faixa etária de 10 a 14 anos, e 57 mulheres dos 15 aos 19 anos, em Quedas do Iguaçu 6 grávidas com faixa etária entre 10 a 14 anos e 103 grávidas entre 15 a 19 anos, evidenciando que problemas de gravidez na adolescência são problemas sociais e não problemas gerados pela organização dos acampamento nesses municípios.
Os 32 anos de organização do MST possibilitaram a organização dos Sem Terra identificar a violência como um problema social reforçado pelos princípios capitalistas de exploração, e que certamente as mulheres são as mais afetadas nestes casos. Por isso, o MST se soma a Via Campesina na campanha Internacional intitulada “BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES”, questionando e pautando a sociedade para mudanças estruturais que acabem com a violência, além disso, organiza o setor de gênero em seus acampamentos e assentamentos para refletir e contribuir para a construção de novas relações entre gêneros pautadas na igualdade, respeito e integridade de todas e todos.
Nos Acampamentos Herdeiros da Terra e Dom Tomás Balduíno, as mulheres se somam ao coletivo regional de mulheres do MST e concretizam um espaço de formação, onde os temas estão diretamente relacionados ao seu cotidiano, debatendo e apontando alternativas contra e para superar todas as formas de opressão e violência, seja física, psicológica, moral, a gravidez e a violência de crianças e adolescentes, buscando construir condições de igualdade e respeito a todas as mulheres.
Além disso, as mulheres grávidas nos acampamentos constituem família, a seu saber. Outra pauta de luta do MST é a saúde pública, gratuita e de qualidade para todas as mulheres e homens nas diferentes faixas etárias, independentemente do local de vivência.
Dada a importância da saúde para a vida das pessoas, os acampamentos Herdeiros da Terra com início em maio de 2014, e Dom Tomás Balduíno, com início em 2015, priorizaram a organização do setor de saúde, o qual tem por objetivo debater tanto a prevenção quanto a cura, junto às famílias.
O MST também conta com um grupo de médicas e médicos formados em Cuba e que hoje se somam na atuação dentro e fora de áreas de reforma agrária, comprometidos com a saúde pública brasileira.
O MST se dispõem a somar força com os municípios de Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu na luta para conquistar a ampliação e melhoria nos sistemas municipais de saúde, compreendendo que este é um direito de todas e todos.
O fato da saúde pública local não conseguir atender de acordo o seu público, não seria violência do poder público para com a saúde das mulheres e das crianças que estão por vir a esse mundo? Porque o sistema de saúde está precário para todos, inclusive pra quem o utiliza de forma particular. A equipe médica está de fato – independente da população itinerante – respondendo positivamente às demandas da região? Portanto, culpabilizar a população mais pobre é no mínimo oportunismo e Fascismo. O grande número de população sem terra na região é reflexo do sistema que exclui, ao invés de incluir.
São aproximadamente 3400 famílias no momento que não tem terra para produzir seu sustento, possibilitar a produção de alimento saudável a preço justo, etc. Qual a origem da maioria dessas famílias? Elas vieram de longe ou são pessoas que já moravam nos municípios e, portanto, já deveriam estar sendo acompanhadas pelo serviço de saúde da região?
Dentro desse universo geral de pessoas nos acampamentos, o número de mulheres grávidas, comparado ao universo total de mulheres acampadas: nós estamos falando de um número tão fora da realidade e da probabilidade esperada dentro desse universo? Como esses números se apresentam como um todo na região?
Os dados de gravidez na adolescência reforçam e evidenciam a violência machista sobre as mulheres, que aqui na região como um todo é um dado alarmante, portanto, não é exclusivo da realidade do acampamento.
Entretanto, estas atitudes não serão capazes de nos tirar da luta por Reforma Agrária e pelos direitos sociais historicamente negados ao povo brasileiro. Não aceitaremos que nenhuma mulher ou militante dos movimentos populares sofra qualquer tipo de violência, física, verbal e escrita como a sua, agressão ou insulto por defender e lutar por justiça social.
Defendemos a vida, por isso é necessário garantir que cada mãe seja amparada e auxiliada neste momento tão especial para os seres humanos como é a gestação e geração de novas vidas.
Precisamos de fato mobilizar os gestores públicos para assegurar o direito e respeito a saúde destas mães, filhas e filhos. E por fim, existe serviço construído de fato de controle de natalidade na região e também de combate à violência contra mulheres e crianças ou essa demanda ou questionamento só vai ser feito para dentro dos acampamentos?
BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES!
Coletivo de Mulheres e Direção Regional do MST