Kelli Mafort: Lutar por Reforma Agrária é também enfrentar o golpe que está em curso no país

"Saímos às ruas para reafirmar nosso compromisso com a legalidade e com as lutas sociais, em especial, a luta pela Reforma Agrária".

 

Por Maura Silva
Da Página do MST

A Jornada de Nacional de Lutas 2016, acontece em meio a um contexto histórico no país. Um momento em que trabalhadoras e trabalhadores estão às vésperas de presenciar um golpe contra a democracia e seus direitos. 

É Nesse cenário que os Sem Terra saem às ruas nessa sexta-feira (17), para reafirmar seu compromisso com a legalidade e com as lutas sociais, em especial, a luta pela Reforma Agrária. 

Os Sem Terra também cobram ações contra o aumento da violência no campo. As ações da Jornada lembram os 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás – quando 21 trabalhadores rurais Sem Terra foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar, no Pará e cobra punições aos responsáveis que seguem em liberdade até os dias de hoje.

Em entrevista, Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST, ressalta a importância das mobilizações e de ações que tem como objetivo a luta contra o golpe e pela democracia. 

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Kelli Mafort: “Nos causou muita indignação que a votação final do golpe fosse prevista para o dia 17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa (em memória ao Massacre de Carajás em 1996). Para nós o dia 17 de abril, é aquele de 1997, quando a Marcha por Reforma Agrária levou 100 mil trabalhadores e trabalhadoras de diversas categorias à Brasília”. 

 

Confira: 

 

Quais as bandeiras da Jornada esse ano?

 

Estamos nas ruas e nas lutas para exigir a realização da Reforma Agrária nesse país. Os protestos de hoje trazem consigo a memória dos 21 trabalhadores assassinados no Massacre de Eldorado dos Carajás no Pará e também expressam nossa total  indignação e compromisso de luta com os recentes episódios de violência: o incêndio criminoso a um Acampamento do MST em Rondônia, o assassinato de um prefeito assentado da Reforma Agrária na Paraíba e a emboscada criminosa feita pela Polícia Militar junto com agentes da empresa Araupel no Paraná, que resultou no assassinato de dois companheiros e seis feridos (parte deles foi presa ainda no hospital).

Nossa luta é justa e necessária, pois a sociedade brasileira sente os impactos de um campo concentrado, envenenado de agrotóxicos, com baixíssima biodiversidade devido ao domínio das empresas do agronegócio e da mineração.

De que pautas do MST  se inserem nas lutas pelo democracia e contra a tentativa de golpe em curso no país?

Lutar por Reforma Agrária é também enfrentar o golpe que está em curso no país. Golpe não somente contra o governo Dilma, mas contra a maioria do povo brasileiro. O Golpe pode aprofundar a retirada de direitos conquistados historicamente e dar vazão ao processo conservador e fascista contra os pobres, os negros, os indígenas, os Sem Terra, lgbts, a juventude e as mulheres. Por isso, estamos na linha de frente contra esse processo e, ao mesmo tempo, na luta pela terra, por Reforma Agrária, e pela realização de reformas estruturais que  interessam ao povo.

Diante disso, qual a posição do Movimento? Podemos esperar por um período de lutas mais intensas?

Hoje, 17 de abril, lutaremos ativamente para derrotar o golpe. No entanto, independente do resultado da votação, nossa luta é de caráter permanente. A base das nossas mobilizações está nas necessidades reais dos trabalhadores e trabalhadoras.

Qual o atual panorama da luta pela terra no país?

Apesar de todo estardalhaço que a crise política tem causado no país, é preciso estarmos atentos aos graves impactos que a crise econômica está impondo aos trabalhadores e às trabalhadoras. Nós do MST, temos percebido um aumento na disposição dos Sem Terra do campo e da cidade em se organizar e ocupar os latifúndios. A causa está no desemprego, no aumento do preço dos alimentos e no déficit habitacional.

Nesse sentido estamos intensificando processos de trabalho de base, organizando as famílias que querem lutar pela terra. Somente com o aumento da nossa força social, aumentaremos nossa força política para derrotar o agronegócio e enfrentar o bloqueio da Reforma Agrária, traduzida, por exemplo, na absurda decisão do TCU que aponta irregularidades e ao invés de apurá-las, determina a suspensão das ações dos órgãos responsáveis pela política da Reforma Agrária. Outro ponto importante é que nos causou muita indignação que a votação final do golpe fosse prevista para o dia 17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa (em memória ao Massacre de Carajás em 1996). Para nós o dia 17 de abril, é aquele de 1997, quando a Marcha por Reforma Agrária levou 100 mil trabalhadores e trabalhadoras de diversas categorias à Brasília.

Recentemente tivemos a Jornada das mulheres Sem Terra em todo o Brasil, agora elas estão novamente em luta na Jornada Nacional, qual a avaliação do Coletivo em relação ao atendimento das demandas específicas das mulheres?

Neste ano tivemos uma das maiores Jornadas de Lutas das Mulheres Sem Terra do MST e da Via campesina. Foram mais de 30 mil mulheres, em 22 estados com ações que combinaram a luta pela Reforma Agrária com o enfrentamento ao Capital, denunciando os impactos dos agrotóxicos, dos transgênicos, da mineração e dos monocultivos. A partir da luta do 8 de março as mulheres deram o tom político para a Jornada de abril, que segue com ocupações de terra, trancamentos de rodovias, marchas e protestos por todo o país.