Coordenação Nacional do MST do centro-oeste manifesta solidariedade aos presos políticos do Movimento

Reunida em Goiânia, reafirmam a denúncia da criminalização de lideranças populares da região e do Movimento na luta pela terra.

Da Página do MST 

A coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da região centro-oeste, reunida nos dias 14 a 16 de agosto, em Goiânia-GO, reafirmou a denúncia da ação articulada entre agentes de repressão, meios privados de comunicação, setores vinculados ao agronegócio e poderes Legislativo, Executivo e Judiciário na criminalização de lideranças do Movimento e da luta social.

A região centro-oeste vive duramente o contexto de intensificação das ações repressoras neste ano, com o aumento da violência no campo e na floresta, atingindo os trabalhadores rurais e populações indígenas. Associado à ação violenta no campo, lideranças do MST respondem a processos judiciais, sob argumento de integrarem organizações criminosas.

Prisão de lideranças de Goiás

No dia 14 de abril deste ano o agricultor Sem Terra Luiz Borges Batista foi preso numa ação coordenada entre Secretaria de Segurança Pública de Goiás, Comarca de Santa Helena e agronegócio estadual em repressão à ação do MST para acelerar a destinação das áreas da Usina Santa Helena de Açúcar e Álcool, ocupadas pelo Movimento e declaradas área pública. Já no dia 31 de maio o intelectual e militante pela reforma agrária José Valdir Misnerovicz, que se encontrava em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, foi surpreendido por uma operação articulada entre a Polícia Civil do Rio Grande do Sul e de Goiás para sua prisão.

No mês de junho a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás negou os pedidos de habeas corpus para Luiz e Valdir para que pudessem responder os processos em liberdade. Os dois seguem presos na Casa de Prisão Provisória (CPP) de Rio Verde e no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, respectivamente. Os agricultores Diessyka Lorena Santana e Natalino de Jesus também são réus no processo.

Confira abaixo a Carta da Direção Nacional do MST em solidariedade aos presos políticos de Goiás.

Em carta, a direção nacional do MST da região de centro-oeste denuncia o processo de criminalização das lideranças e do Movimento, e manifestam solidariedade aos integrantes que sofrem processos judiciais.

 

Aos camaradas Diessika, Luiz Borges, Natalino e Valdir

A coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores(as) Rurais Sem Terra da região Centro Oeste, reunida entre os dias 14 e 16 de julho de 2016, na cidade de Goiânia – GO, vem reafirmar a denuncia e prestar total solidariedade aos nossos(as) companheiros(as) Diessika, Luiz Borges, Natalino e Valdir, que estão em condição de prisão e exílio político, por lutarem pela Reforma Agrária, por justiça social, por combater as desigualdades, e, sobretudo, por serem militantes do MST.

Na atual conjuntura política, de ataque ao estado democrático e de avanço das forças conservadoras, neoliberais e fascistas, em um pacto que tenta consolidar um golpe no Brasil, aprofunda-se a perseguição e a criminalização aos movimentos sociais e populares, a seus dirigentes e militantes, em uma ofensiva que aglutina setores da elite econômica, da mídia hegemônica e de instituições repressoras do estado, com objetivo de institucionalizar, através da Lei Antiterrorismo e da Lei de Organização Criminosa, as lutas sociais e os movimentos sociais.

A coordenação nacional do MST da região Centro Oeste repudia e denuncia qualquer forma de perseguição e criminalização aos movimentos sociais e populares, reafirmando o direito de continuar fazendo nossa luta, não só pela Reforma Agrária, mas em defesa dos direitos dos trabalhadores. Não iremos retroceder um passo sequer. Pois não fomos feitos para chorar. Não estamos sobre esta terra para desanimarmos. Nem mesmo nas noites mais escuras. Não nos é permitido abaixar a cabeça. Porque nossas vidas nunca foram tão espoliadas. Porque o socialismo ainda está no horizonte. E porque, hoje, vocês são alguns dos vários camaradas que este Estado burguês insiste em manter atrás das grades ou exilados, acreditando que assim, nos fará desistir. Se enganam!

Saiba que estando presos e exilados, estamos também. Seus dias longos e intermináveis, também são nossos. Suas lágrimas que insistem em cair são as mesmas que molham nossas faces. Suas angústias, na espera da liberdade, é a mesma que aperta nossos corações ao acordarmos e lembrarmos que irmãos e irmãs ainda estão nas celas frias do capitalismo.

Uma música, feita para nosso camarada Che, diz que…

“… el dolor no ha matado la utopia

porque el amor es eterno y

la gente que te ama no te olvida…”

Que estes versos lhes abracem, como aquele abraço bem apertado, que só Sem Terras com saudades sabem dar. Vocês estando nesta situação, reafirma nosso compromisso e amor pela construção de uma nova sociedade, no qual, não teremos mais outros encarcerados pelo fato de se indignar com as injustiças de um modelo opressor.

Sigam firmes, camaradas. Que a rebeldia que sempre habitou seus sonhos esteja cada vez mais forte. Carregue em cada dúvida que surja a certeza de que nossa luta não terminou e não sabemos quando acabará. E é, justamente, por isso que queremos que vocês saiam dessa condição o mais rápido possível. Para lutarmos, para sonharmos, para nos insurgimos, nos rebelarmos, para que sejamos presos e presas apenas em abraços apertados e calorosos.

Coordenação Nacional da Região Centro-Oeste

Goiânia-GO, 16 de julho de 2016.