Movimentos populares se solidarizam com o Haiti

Em nota, criticam que o trágico momento vivenciado no país está ligado há anos de violenta ocupação e enfraquecimento do Estado

Da Página do MST*

Após a passagem do furacão Matthew, entre os dias 3 e 4 de outubro no Haiti, mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas. O impacto das enchentes e do vento foi devastador principalmente no sul e no oeste do país, que ainda não tinha se recuperado do terremoto de 2010.

Diante disso, movimentos populares da América Latina, organizados em torno à ALBA, lançaram uma nota de solidariedade ao Haiti em que também denunciam a intervenção externa que deixou o Estado haitiano debilitado e o povo sem acesso aos direitos básicos e vulneráveis diante destes desastres naturais.

“A maior catástrofe de Haiti é ser presa do saqueio imperialista, acompanhando pela ocupação militar. O capitalismo predatório tem botado ao Estado haitiano no desamparo, a diferença do que acontece na Cuba, onde este tipo de fenômenos rara vez causam a morte de pessoas”, salienta trecho da nota. 

Para os movimentos da ALBA, é diante desses contextos, ainda que catastróficos, que é possível ver “as diferenças entre um projeto soberano, de orientação socialista, e um projeto capitalista governado por empresas transacionais e orientado à ocupação e à utilização do território no seu próprio beneficio”.

Neste contexto, Cuba não só evitou os impactos fatais do furacão Mathew como garantiu a solidariedade internacional enviando uma brigada composta por 38 profissionais da saúde para atender às vítimas haitianas. O Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Epidemias “Henry Reeve” se soma aos mais de 600 colaboradores cubanos que prestam serviços de saúde em Haiti.

De acordo as informações enviadas por organizações campesinas no país, a situação dos camponeses haitianos é alarmante. Nas zonas afetadas as famílias perderam tudo, 80% dos cultivos foram devastados e os produtos armazenados levadas pelas águas em fúria. 

Nesse sentido, o pedido de solidariedade internacional feito pelas organizações campesinas é fundamental para a sobrevivência a mais essa catástrofe e para a reconstrução das casas, além de apoio para a reativação da produção de alimentos e reestabilização do meio ambiente.

Pelo fim da MINUSTAH

Assim como os movimento a ALBA, o Jubileu Sul/Américas denuncia a ocupação e exige o fim da Minustah, instalada desde 2004. “[O povo haitiano] não constitui uma ameaça para a segurança do hemisfério, como o Conselho se Segurança afirma todos os anos para renovar sua ingerência”, afirma numa nota enviada à ONU.

Segundo a organização, a ONU e os países que participam devem reconhecer as responsabilidade penais na participação na violação de direitos e a necessidade da reparação aos haitianos e haitianas.

Diante da próxima votação para renovar a presença da Minustah, na quinta feira (13), o Jubileu de Sul faz uma convocação para aglutinar apoios (acesse o link).

Confira abaixo a nota da ALBA Movimentos

(HAITI) Declaração de ALBA Movimientos: Haití precisa ajuda sincera, não a ocupação da Minustah

Uma nova catástrofe ensina ao povo de Haiti. Nestes dias vemos fotos e videos dos estragos que o furacão Mathew está fazendo no território, provocando a morte e a destruição. No entanto, a maior catástrofe de Haiti é ser presa do saqueio imperialista, acompanhando pela ocupação militar.

O capitalismo predatório tem botado ao Estado haitiano no desamparo, a diferença do que acontece na Cuba, onde este tipo de fenômenos rara vez causam a morte de pessoas. Este trágico momento é um bom exemplo das diferenças entre os países. Um mesmo furacão os golpeia, mas o sistema de proteção e organização social cubano garante que o efeito sobre a população seja infinitamente menor. Enquanto em Haiti se registra a morte de ao menos 800 pessoas – e no próprio Estado Unidos de 10 – , na Cuba não tem vitimas fatais.

A propaganda desenvolvida por década contra a Revolução Cubana evita esta comparação, que poderia se estender a todas a esferas da vida política, social e cultural destes países, semelhante geograficamente, mas muito diferentes em relação ao rumo político. Enquanto em Haiti é um dos países mais pobres e desiguais do mundo, sem saúde, educação nem segurança de nenhum tipo, Cuba tem a maior esperança de vida e da melhor cobertura de saúde e educação de América Latina e o Caribe. A diferença entre um projeto soberano, de orientação socialista, e um projeto capitalista governado por empresas transacionais e orientado à ocupação e a utilização do território no seu beneficio.

Solidariedade não é Intervencionismo

De igual jeito que no 2010 durante os terremotos, os primeiros países em reagir solidariamente com Haiti são Cuba e Venezuela. Demonizados pelos médios privados de comunicação de quase todo o planeta, justamente estes dois países sempre tem esta presentes para assistir a população haitiana. Cuba, por exemplo, tem em formação permanente 600 homens e mulheres de apoio, que estão ali desde 2010. Venezuela tem enviado à Cuba e Haiti elementos de ajuda humanitária e por estas horas partirão mais de 200 médicos para o país. 

São a contra-cara das forças da Minustah, a missão de ocupação da ONU que faz o trabalho de “estabilizar” o país após nova invasão dos Estados Unidos e donde um conjunto de nações – tristemente, a maioria de América Latina – participa há 12 anos.

Os resultados desta estabilização, há mais de uma década, estão à vista: não tem melhorado as condições de vida do povo, e tem sido a causa da introdução de cólera, matando milhares de pessoas. Mas tem garantido a continuidade do saqueio do território haitiano a partir da ação das transacionais, que se distribuem no país com projetos mineiro, turísticos e do agronegócio.

Neste cenário, a ajuda genuína de Cuba e Venezuela tem um alto valor material e simbólico, sinalizando um caminho de respeito à autodeterminação do povo haitiano e à disposição da ajuda às construções de um projeto de soberania e bem-estar pelo que lutam seus movimentos populares.

Convocatória da Brigada internacionalista Dessalines

Por parte de ALBA Movimentos, há 7 anos impulsionamos junto à Via Campesina uma Brigada de solidariedade chamada Jean Jacques Dessalines, em que militantes de movimentos de Brasil, Cuba e Argentina se relacionam com o povo de Haiti, sobre a base do mútuo respeito e ajuda sinceras, como aportar um grão de areia à integração do nosso povo.

A Brigada Dessalines, nesta hora crítica, propõe-se a ajudar a canalizar a ajuda ao povo de Haiti, deixando seu correio [email protected] para contatos. Para conferir a convocatória, acesse o link.

Os companheiros e companheiras que fazem parte desta experiência de solidariedade internacionalista são testemunhas dos abusos da Minustah e a sua estreita relação com um modelo controlado por empresas transacionais e as ONG. E também da aspiração do movimento popular para tirar as cadeias de opressão e avançar em uma sociedade mais justa.

Desde a consciência do nosso projeto de unidade da Pátria Grande ao movimento à ALBA, manifestamos uma vez mais a nossa solidariedade com o povo de Haiti; expressamos o nosso rechaço à continuação da ocupação militante e respaldamos todos os esforços de solidariedade que se enquadram na construção de um mundo multipolar, com respeito à soberania e à autodeterminação dos povos.
 

Que viva Haiti livre! Chega de ocupação. Fora a Minustah!

Que viva a unidade dos povos da Nossa América

Articulação dos Movimentos há ALBA

 

*Com informações do Brasil de Fato 
**Editado por Iris Pacheco