Garantia de direitos é tema da 1º Conferência de Saúde do Trabalhador na Bahia

Que caminhos trilhar? Como articular as massas? Pensando nestas questões, dois grandes desafios foram colocados na centralidade dos debates: a formação e qualificação
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Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

“Discutir saúde do trabalhador é olhar para nossa realidade histórica”, disse o doutor em Medicina do Trabalho, Paulo Pena, na 1º Conferência de Saúde do Trabalhador da Esquerda Popular Socialista (EPS) – tendência interna do Partido dos Trabalhadores (PT) -, realizada nesta última quarta-feira (14), na Secretaria Estadual do MST, em Salvador.

A conferência que reuniu diversas lideranças sindicais, organizações estudantis e movimentos sociais, teve como objetivo profundar os debates em torno da saúde popular e dos mecanismos de exploração históricas construídas pela “classe dominante”.

Nesta perspectiva, o período escravocrata vivido no Brasil, assim como, as diversas implicações da “diáspora” e da “miscigenação”, foram planos de fundo para uma análise do atual cenário político, com foco, no amplo processo de retirada de direitos implementados pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB) através de medidas “antidemocráticas”, como a aprovação da PEC 55, que congela os investimentos públicos em 20 anos.

Para Pena, existe um silêncio histórico sobre a saúde da população negra, por conta do tratamento desumano e racista. “Existe também uma relação bem clara entre o trabalho exercido pela população e as questões que envolvem a saúde”, e completou, “a luta por melhores condições de vida é fundamental, sem perder de vista a construção de uma sociedade com princípios e valores igualitários”.

De acordo com Danielle Ferreira, da secretaria de movimentos sociais do PT, o recorte racial no trabalho, em especial na Bahia que possui uma das maiores populações negras fora da África, é fundamental para avaliarmos como as questões de um período de desumanização de negras e negros estão presentes e se refletem, não com a mesma violência, porém utilizando mecanismos de dominação, alienando os trabalhadores.

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Paulo Pena 

Saúde do trabalhador e a luta por direitos

A partir destes elementos apontados, outras temáticas entraram no bojo das discussões, como as doenças ocupacionais e os impactos da Reforma da Previdência na saúde do trabalhador. “Temos três grandes pilares quando discutimos a saúde e a conjuntura. ‘Estudar, planejar e executar ações’ de denúncia, com foco no trabalho de conscientização das massas, tornou-se uma necessidade”, explicou Cedro Silva, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Em diálogo com este aporte, o advogado trabalhista e previdenciário, Dr. Anthony Argolo, reafirmou que o tempo está curto para debater com a sociedade os impactos da reforma previdenciária, por exemplo, por conta da agilidade implementada para garantir o processo de aprovação da medida. “Mais uma vez, temos a tarefa de ampliar nossas relações e ocupar as ruas em defesa de um projeto de sociedade diferente”.

“A reforma está vinculada diretamente ao processo de golpe, que sofremos com o impeachment de Dilma, e tenham certeza, que o próximo passo será a aprovação de uma ‘Reforma Trabalhista’, reduzindo ainda mais os direitos dos trabalhadores”, destacou Argolo.

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Desafios

Que caminhos trilhar? Como articular as massas? Pensando nestas questões, dois grandes desafios foram colocados na centralidade dos debates: a formação e qualificação.

Foi através destas indagações e “possíveis respostas”, Argolo concluiu sua fala salientando que a população está alienada, pois não possui informações concretas sobre tais medidas e o processo de ocupação das ruas e das mídias são táticas que precisam ser adotadas.

Ednaldo Correia, do setor de saúde do MST, acredita que não existe luta de classe sem debater as diversas questões que norteiam a saúde do trabalhador e da trabalhadora que estão em movimento político.

“Olhar para as bases é essencial, assim como, aprofundar as reflexões sobre a conjuntura. As formulações acerca da saúde do trabalhador precisam ser construídas a partir deste lugar e estamos nos propondo a isso, construindo dialeticamente nossas lutas, sem perder de vista, os acúmulos e passos dados até aqui”.

Através dos desafios apontados, a próxima tarefa discutida é a incorporação de tais reflexões nas organizações e movimentos sociais que estão vinculados as articulações da EPS na Bahia.

 

*Editado por Maura Silva