Arquidiocese de Natal celebra ato em solidariedade ao MST

O bispo cobrou a desapropriação das área para fins de Reforma Agrária.

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Por Hildebrando Andrade
Da Página do MST

 

Aconteceu no ultimo sábado (18/03) um ato em apoio a Reforma Agrária e às famílias acampadas do MST no Rio Grande do Norte. A atividade aconteceu no acampamento Irmã Dorothy Chico Santana em Ceará-Mirim. O ato, que foi promovido pela Arquidiocese de Natal, contou ainda com a presença de Dom Jaime Vieira, bispo da arquidiocese.

O objetivo principal do ato foi denunciar o descaso com a Reforma Agrária no estado e cobrar a desapropriação imediata de terras para as famílias Sem Terra. O principal latifúndio em questão é o complexo açucareiro de Ceará-Mirim, no qual existe o acampamento Irmã Dorothy Chico Santana desde 2004.

 

O complexo tem uma extensão de cerca de 17 mil hectares de terras e uma dívida de R$ 750 milhões com a fazenda nacional.

Na ocasião, o Bispo, junto a seus cardeais, leram uma nota na qual expressam todo seu apoio à luta pela terra. O documento foi lido e aprovado pela arquidiocese de Natal e assinado pelas autoridades presentes no ato. Participaram da atividade além de todo o corpo da igreja, o Superintendente do Incra-RN, José Leonardo Guedes Bezerra.

Dom Jaime Viera, disse ainda que o seu maior desafio será a erradicação das casas de taipas. Disse também que a igreja está a disposição para apoiar e fortalecer a luta pela terra no estado. Por fim, o Bispo cobrou a desapropriação da usina para fins de Reforma Agrária e o aceleramento dos processos de desapropriação das demais áreas do estado.

Confira a nota:

“Digamos juntos, de coração:
nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá(…).
“Terra, teto e trabalho, aquilo por que lutam, são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina Social da Igreja”

(Papa Francisco, discurso aos Movimentos Populares – I Encontro-Vaticano, 28/10/2014)

NOTA DE APOIO ÀS TRABALHADORAS E AOS TRABALHADORES DOS ACAMPAMENTOS DO MST NO RIO GRANDE DO NORTE

Solícitos na Caridade, baseados no evangélico direito dos pobres e conformados na luta pelo acesso ao direito à vida, os abaixo assinados vinculados às Pastorais Sociais, Serviços Eclesiais, Movimentos Sociais, Sindicatos, Órgãos Públicos, Instituições da Sociedade Civil, Mulheres e Homens de boa vontade, participantes da Visita Pastoral do Arcebispo Metropolitano de Natal, D. Jaime Vieira Rocha aos ACAMPAMENTOS IR. DOROTHY e CHICO SANTANA, ocorrida neste dia 18 de março de 2017, vimos manifestar apoio às mais de 2.500 Famílias Sem Terra espalhadas nos 44 Acampamentos em todo o Estado do Rio Grande do Norte, em especial, às famílias acampadas no Complexo da Companhia Açucareira São Francisco, nos municípios de Ceará Mirim e Santa Maria.

Somamo-nos às mulheres, aos homens, aos jovens e às crianças que, ao acampar nestas terras, traziam no seu coração o sonho da “terra prometida”. Ora, a própria Constituição Federal, em seu Art. 184, nos deixa claro que a propriedade que não cumpre a sua função social é passível de Reforma Agrária. As terras aqui reivindicadas pelos trabalhadores e trabalhadoras, segundo os processos já existentes, atestam sua improdutividade e, portanto, devem, segundo a legislação ainda vigente, serem destinadas à sua desapropriação para assentamento das referidas famílias sem terra.

Objeto da Visita Pastoral, o Acampamento que traz o nome da Ir. Dorothy, missionária católica barbaramente assassinada na defesa dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam pela terra no Estado do Pará, surgiu, como tantos outros, no difícil contexto histórico de perseguição aos Movimentos Sociais que lutam pela reforma agrária e pela melhoria da vida na realidade rural, urbana e periurbana. Doze anos já se passaram. Crianças que aqui chegaram, hoje são jovens e adultos. Alguns adultos até já morreram sem verem seu sonho realizado.

Assim sendo, repudiamos toda e qualquer expressão de negligência, violação de direitos e descaso, por parte do Estado brasileiro, contra as justas reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras e exigimos para eles o respeito que lhes cabe, na assistência que lhes devem as Organizações Públicas. Por isso, solicitamos a quem de direito possa agir, para que sejam realizadas as ações necessárias quanto ao processo de desapropriação e consequente assentamento, fruto desta luta  iniciada há anos, “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

 

 

*Editado por Rafael Soriano