Trabalhadores Sem Terra se preparam para a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária
Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
Fotos Pedro Biava
Passaram-se 15 anos desde que 63 famílias ocuparam pela primeira vez o terreno de quase oito mil hectares, localizado no município de Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo.
Da derrubada da cerca até a produção do primeiro pé de alface, um longo caminho de lutas teve que ser percorrido pelos homens e mulheres do assentamento Dom Tomás Balduíno, como explica o assentado Jorge Barbosa.
“Nós vivemos três despejos aqui nessa área. O último deles foi extremamente violento. Era à noite, e a tropa de choque chegou com cavalos, cachorros, estava chovendo. Nós tivemos que sair às pressas, muitos ficaram perdidos na mata por semanas, porque ainda não conheciam bem a área. Depois disso, nós retornamos, houve muita negociação para que pudéssemos ficar aqui. Um dos negociadores foi o Dom Thomás Balduíno, bispo emérito da Pastoral da Terra, por isso o nome do assentamento”.
Hoje, os assentados produzem e comercializam alimentos orgânicos na região. Antônio Marcos da Silva, 64 anos, vive sozinho com a esposa, Dona Maria. Ele conta que está no assentamento desde o começo da luta, e mostra com orgulho a produção que vem sendo preparada para a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que será realizada entre os dias 4 e 7 de maio, no Parque da Água Branca, em São Paulo. “Aqui nós produzimos várias coisas: frutas, hortaliças, legumes… Alface, repolho, couve, cebolinha, coentro… Também produzimos a uva, abacate, limão, manga…”
Além da variedade, a qualidade dos produtos é o diferencial, segundo Antônio. “As pessoas podem consumir nossos produtos com a confiança de serem alimentos livres de químicos”, afirma.
Entre os agricultores do assentamento Dom Tomás, há unanimidade quanto quando o assunto é a principal dificuldade enfrentada por eles no processo de produção: a distribuição e escoamento. O que explica a empolgação dos assentados e assentadas com a realização da 2ª Feira Nacional.
“Tudo o que nós temos aqui mandamos para a feira em 2015. Foi a primeira Feira Nacional, e para nós foi muito importante. Vedemos tudo o que levamos, não tivemos nenhum prejuízo. Até artesanato nós levamos para a Feira”, diz Antônio.
Segundo Jorge Barbosa, “o povo assentado está muito animado. Muita gente duvidou que a primeira Feira fosse dar certo, mas, no final, vendemos todos os nossos produtos, em um evento que movimento a cidade de São Paulo. Então por aqui, os canteiros já estão cheios de coisas que vamos levar para a 2ª Feira”.
Além de ajudar os agricultores na comercialização dos produtos, a Feira é também um importante espaço de diálogo com a população das cidades. Segundo Jorge, é o momento de mostrar à sociedade o que os meios de comunicação normalmente escondem.
“A mídia normalmente não fala do que acontece nos assentamentos. Eles nunca vieram aqui para saber o que nós fazemos, como vivemos. Infelizmente, a maioria das pessoas só enxergam o que está na televisão. E a grande mídia não mostra o que está acontecendo nos assentamentos, ou seja, a nossa organização, a nossa produção, a nossa forma de vida”, conclui.
Expectativa e muito otimismo são os sentimentos que resumem os trabalhadores e trabalhadoras do assentamento Dom Tomás Balduíno.
“Acho que essa feira vai atrair mais público. Na primeira feira, as pessoas ainda não estavam acostumadas. Muita gente decidiu ir por curiosidade. Agora eles já conhecem nossos produtos, sabem que não são produtos convencionais, são alimentos saudáveis, e por isso eu acho que essa feira vai ser ainda melhor do que a primeira Feira Nacional da Reforma Agrária”, afirma Antônio Marcos.