“É o retorno à escravidão no Brasil”, diz Ricardo Antunes sobre as reformas de Temer

Professor da Unicamp falou sobre trabalho e a conjuntura brasileira durante seminário na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Seminário reuniu educadores, acadêmicos e militantes de movimentos populares. - MST-1-6.jpg

 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

 

O Programa de Pós-Graduação em Educação e o Grupo de Pesquisa Trabalho, Movimentos Sociais e Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) promoveu entre os dias 18 e 19 deste mês, em Porto Alegre, o seminário &”39;Trabalho, sua centralidade e sua nova morfologia: de Marx ao debate atual&”39;. O espaço foi conduzido por Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e prestigiado por educadores e acadêmicos de cursos de graduação, mestrado e doutorado de diversas universidades e institutos federais, além de militantes de movimentos populares.

O seminário teve como base de estudo as obras do filósofo Karl Marx, especialmente o livro &”39;O Capital&”39;, que teve seu primeiro lançamento em 1867 e traz inúmeras análises sobre o sistema capitalista, entre outras questões. Antunes, que é um dos principais nomes da Sociologia do Trabalho no Brasil, em vários momentos relacionou as conclusões de Marx com a atual conjuntura em que vive o Brasil e demais países do mundo, principalmente nas relações de trabalho e situações de retiradas de direitos.

 

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Professor Ricardo Antunes

“Trabalho é uma atividade vital, sem ele a humanidade não se reproduz. Mas ele significou também, desde a sua gênese, sofrimento e fardo, servidão e sujeição. Se por um lado o trabalho é a expressão do ato de criação, também é sinônimo de insubordinação e escravidão. Ele é em si um ato profundamente contraditório, que cria e destrói, emancipa e escraviza”, disse.

Antunes acrescentou que hoje a população vive numa era global de superexploração do trabalho, onde se trabalha mais, se perde postos para a era da digitalização e se recebe uma remuneração que não é justa e nem digna.

Ainda durante o evento, Antunes mostrou preocupação com a atual conjuntura política e social do país, principalmente no que diz respeito às reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer (PMDB), que tramitam no Congresso Nacional. “É o retorno à escravidão no Brasil. O governo Temer é intermitente e terceirizado. Tá na hora de encerrar, tá passando do seu tempo”, declarou. E complementou dizendo que as reformas estão inseridas “num projeto muito nefasto, mas que não é invencível”.

Nesta perspectiva e com o intuito de motivar as mobilizações populares contra as reformas, os participantes do seminário também destacaram a importância do povo brasileiro participar da greve geral que está sendo convocada pelas principais centrais sindicais e movimentos populares do país para o dia 30 deste mês. O desafio, segundo eles, é que seja maior do que a realizada no último dia 28 de abril.

Lançamento de livro

Durante o seminário, também teve o lançamento do livro &”39;Fábrica da Educação: da especialização taylorista à flexibilidade toyotista&”39;, de autoria do professor Ricardo Antunes. Ele argumentou que o intuito da obra é contribuir para o debate e a defesa da educação pública, gratuita, laica e vinculada às lutas sociais. “É a expressão de um ato de rebeldia de um professor que não é um pedadogo, mas que não pode aceitar o desmonte da educação no país”, frisou.

Novos estudos

Conforme Conceição Paludo, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, o próximo passo é construir um seminário estadual de estudo coletivo e marxista. “A proposta é reconstruir o campo marxista no estado gaúcho e tratar de diversas temáticas, como a cultura”, explicou.

 

*Editado por Leonardo Fernandes