Agroecologia: uma construção coletiva da classe trabalhadora
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Fotos: Bárbara Lima
Para se contrapor a lógica de exploração e os monocultivos do agronegócio, o MST tem pautado a construção da Reforma Agrária Popular, que tem como base a democratização da terra. Porém, um dos pilares desse processo de contraposição é o modelo de produção.
Se por um lado o agronegócio utiliza venenos, degrada o meio ambiente e constrói relações desiguais no campo do trabalho, por outro, os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra investem na agroecologia como uma ferramenta popular, oriunda de debates coletivos e que visa o respeito à natureza, o ser humano e aponta a luta pela terra enquanto direito.
Essas questões estiveram presentes na plenária dos 30 anos do MST na Bahia na tarde desta última sexta-feira (8), na Praça José Berilo de Carvalho, em Itamaraju, onde foi debatido o tema “Agroecologia e Luta de Classes” mediado por Nivia Regina e Luiz Zarref, ambos da direção do MST.
De acordo com Nivia, a agroecologia não é uma agricultura alternativa ela é construída por um campesinato, por um povo camponês, indígena e quilombola que lutam e resistem ao longo da história. “É um legado e a agente precisa retomar esse processo, que contribui de forma essencial para luta”.
“Estamos falando de um elemento construtivo da Reforma Agrária. É algo fundamental para a vida no campo e na cidade. Se a gente coloca a agroecologia no debate de uma mesa tão importante como nas comemorações dos 30 anos de MST na Bahia estamos reconhecendo que há uma prática social militante e técnica na construção da agroecologia”, explica.
Nesse contexto, muitas experiências foram socializadas durante a plenária, como a construção de espaços de formação sobre o tema. É o caso da Escola Técnica em Agroecologia Luana Carvalho, no Baixo Sul, e a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, no Extremo Sul do estado, que têm desenvolvido diversos trabalhos de formação e avançado no manejo produtivo agroecológico junto com as famílias assentadas e acampadas.
Para Zarref, essas experiências são importantes pois batem de frente com os agroquímicos sintéticos, patrocinados pelo agronegócio e apoiados pelo estado, ao transformar alimento em mercadoria e em transgenia.
Ele destaca que o capital tem se apropriado dos bens naturais, na intensão de diminuir o tempo de produção, com foco na agricultura industrial, onde o modelo agroquímico ganha uma grande dimensão.
“As bases científicas e as pesquisas foram fundamentais para o rápido crescimento da agricultura química, exemplo disso foram as mudanças nas sementes, o crescimento dos agrotóxicos, dos maquinários pesados, além de uma forte discriminação territorialmente e mundial. Com isso, as práticas tradicionais aparentemente foram ficando de lado. Mesmo assim, têm sido exercidas em comunidades de resistência, acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária”, afirma.
Agroecologia na Bahia
Por outro lado, Nivia destaca ainda que isso significa dizer que a Bahia nos seus assentamentos e acampamentos estão construindo a agroecologia e é por isso que se coloca na mesa de debates, não apenas por uma retorica de fala, mas sim por uma construção social pela grandeza que é a luta popular.
“O Movimento vem dialogando com diversos intelectuais, pesquisadores, ONGs, na elaboração e reflexão da agroecologia nos seus contextos teóricos, onde a Via Campesina e o Movimento Sem Terra trazem de aporte, entendendo o que a gente pode relacionar entre agroecologia e sociedade”, enfatiza.
Nesse sentido, Zarref conclui que o modelo defendido pelo Movimento leva em consideração o saber milenar não de forma superficial, mas como um corpo vivo do povo.
30 anos de Luta
As atividades das comemorações seguem até domingo (10). Diversas atrações culturais, com artistas regionais, estaduais e nacionais, estão previstas, além de mesas de debate e a realização de uma Feira Estadual da Reforma Agrária que mostra na prática diversas experiências agroecológicas que o MST tem impulsionado em dez regiões do estado.