“O debate sobre a alimentação saudável se constitui em uma ferramenta de luta para nós”
Por Janelson Ferreira
Da Página do MST
Nos dias 23 a 25 de novembro, Campo Grande receberá toda a diversidade da produção de assentamentos e acampamentos do Mato Grosso do Sul na 1ª Feira Estadual da Reforma Agrária. O evento busca dialogar com a população da capital do estado sobre a cultura do MST, colocando em pauta a necessidade de uma alimentação saudável, livre de venenos.
A atividade, além da comercialização de produtos da Reforma Agrária, contará com culinária da terra, espaços de debate, apresentações artísticas como música, poesia, teatro, entre outros.
Marcia Barille, da direção estadual do MST, explica como será a feira e pontua qual é o debate que o MST faz sobre alimentação saudável e agroecologia. Confira a seguir:
Qual papel as feiras têm para o MST?
O principal papel das feiras está relacionado ao diálogo com a sociedade, demonstrando que a Reforma Agrária dá certo. Elas são uma prova de que é possível ter uma profunda transformação da realidade se o acampado que está na beira da estrada conquista um pedaço de chão, se um latifúndio é dividido para assentar 100, 200 famílias. Em um lugar no qual se beneficiava apenas uma família, passa-se a beneficiar centenas. Não é somente o pedaço de chão que diferencia o acampado do assentado, mas toda uma transformação social, que envolve diversas esferas. São realidades transformadas.
Neste sentido, as feiras têm um papel fundamental de divulgar e demonstrar que a Reforma Agrária Popular propõe uma transformação social. Nestas atividades, as pessoas veem, de fato, de onde vem a comida que se consome e que esta é produzida pelos Sem Terra, não pelo agronegócio.
Por que esse diálogo com a sociedade é tão importante para o MST?
Como sujeitos Sem Terras, nós precisamos demonstrar para o conjunto da classe trabalhadora o que de fato somos. Temos que evidenciar que produzimos, pois, a mídia hegemônica que domina o país tem como forma central de atuação a criminalização do MST, sempre nos identificando como baderneiros, arruaceiros e vândalos. Por isso, a feira se configura como um espaço de divulgação da produção em nossas áreas criando assim uma outra versão, oposta daquela colocada pela mídia.
No último período é possível perceber um crescimento do debate em torno da alimentação saudável. Em sua opinião, qual o motivo deste crescimento?
O debate sobre a alimentação saudável se constitui em uma ferramenta de luta para nós. Hoje a alimentação das pessoas é enlatada, de péssima qualidade, produzida com processamentos químicos que retiram toda sua qualidade. O que é realmente alimento em um sanduíche do McDonald’s? Quem mais sofre com essas condições é a população que tem ficado doente por comer mal. Somos o que comemos, e, atualmente, em termos gerais, nossa comida é péssima. Daí o debate sobre a alimentação saudável que visa justamente questionar toda esta situação, inclusive como um questionamento ao modelo hegemônico de produção existente no país, o agronegócio.
No Mato Grosso do Sul existe um profundo acirramento da luta pela terra. Como o MST dialoga com todas estas lutas, principalmente entre os indígenas? Qual o papel que as feiras têm neste cenário?
No campo, a necessidade de unidade na luta é fundamental para o enfrentamento ao latifúndio, ao agronegócio e ao capital. Não somos inimigos, na verdade, é o Estado quem afirma os indígenas e Sem Terra como inimigos, colocando uma organização contra outra. Lutamos pela mesma causa e ambas queremos um espaço para viver dignamente. Tanto indígenas, quanto quilombolas e Sem Terras, diante da imensidão e riqueza deste país, desejam apenas o mínimo, mesmo assim, o governo fecha os olhos para nós, atendendo somente a elite burguesa.
O que a população de Campo Grande, que passará pela Praça Ary Coelho pode esperar desta Feira da Reforma Agrária?
Como é a nossa primeira feira, existe muita expectativa em torno dela. Acho que todo campo-grandense precisa passar pela praça. A tradição das feiras de bairro na cidade é muito bonita, existe uma relação humana forte, de contato direto entre quem produz e quem consume. Não é uma relação distante, as pessoas se conhecem, conversam, há um sentimento bom envolvido. Cada produto em uma barraca é carregado de história, de vida. As feiras, por si só, já é um espaço para as pessoas se sentirem bem. Tratando-se da Feira Estadual da Reforma Agrária estes sentimentos crescem fortemente.
*Editado por Iris Pacheco