Assembleia debate violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul

Por Letícia Stasiak
Da Página do MST

Depois de uma deliberação política, tirada no Encontro Nacional do MST deste ano, o 18º Encontro Estadual do MST do Rio Grande do Sul, realizado de 13 a 15 de dezembro na antiga fazenda Annoni, em Pontão, na região Norte do estado, foi palco da primeira Assembleia dos Homens organizada pelo Movimento gaúcho neste tipo de evento. Com o intuito de trazer aos homens a importância do tema, trabalhadores acampados e assentados de todas as regiões do estado se reuniram para debater a violência contra a mulher.

Eles assistiram a vídeocrônica “Sô isso não, dona”, produzida pela Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho, que apresenta o depoimento de uma assentada que retrata as diferentes formas de violência que sofria pelo marido. Em seguida, foram lidas cinco cartas que traziam fatos reais do dia a dia, sob os vários tipos de violência praticados contra as mulheres.Cedenir de Oliveira, dirigente estadual do MST, deu início ao debate e afirmou a necessidade dos homens enfrentarem o machismo como forma de superação.

“Se há violência cometida contra as mulheres, na sua grande maioria, ela acontece por parte dos homens. Nós não podemos naturalizar isso. Também precisamos nos constranger e não aceitar que outros homens cometam qualquer tipo de violência contra as mulheres”, ressaltou.

Assembleia das Mulheres

A Assembleia das Mulheres já acontece há muito tempo nos encontros e em espaços organizados pelo Movimento e, nos últimos anos, firmou-se ainda mais a importância da participação. A atividade foi realizada concomitante à Assembleia dos Homens, na parte de fora do ginásio que abrigou as atividades do encontro, junto a uma enorme fogueira. “Trouxemos a simbologia do fogo, porque este é um elemento primordial às mulheres e nos faz lembrar das nossas companheiras do passado”, disse a assentada Roberta Coimbra.

Na ocasião, foi realizado um balanço das ações desenvolvidas nestes últimos dois anos e apresentadas as novas coordenadoras do setor de gênero do MST gaúcho: Salete Carollo e Maria Isabel dos Santos Fernandes. Em meio à atual conjuntura, também definiu-se como linha política uma intencionalidade em qualificar a participação das mulheres em todas as instâncias do Movimento.

Em relação ao tema da violência contra as mulheres, Salete destacou que as camponesas não estão isentas e que, se há este cenário, deve ocorrer o diálogo com as vítimas, mas também com os agressores. “O que percebemos é que os homens querem sim se reunir e debater sobre vários assuntos, mas também aprender como enfrentar o machismo, porque, se nós defendemos que a revolução passa pela emancipação humana, precisamos desconstruir o que o capitalismo introjetou em nós, no modo de ser e de se expressar, para nos libertarmos das atitudes machistas e construirmos novas relações sociais entre os homens e as mulheres”, apontou.

Maria Isabel reforçou que os homens também são vítimas do sistema capitalista, por isso se faz tão necessário debater o tema da violência contra as mulheres. “A iniciativa das assembleias separadas é muito importante, porque as mulheres criam uma maior liberdade em falar e creio que os homens também”, complementa.