Acampamento de luta pela água do FAMA se inicia em Brasília
Por Webert da Cruz
Da Página do MST
Iniciou nesta segunda-feira (19), o Acampamento do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) no Pavilhão do Parque da Cidade em Brasília (DF). A abertura foi celebrada com uma mística que manifestou o levante dos povos pelo direito à água e uma plenária unificada de análise de conjuntura. O Fórum, que iniciou em 17/03 na Universidade de Brasília (UnB), com atividades autogestionadas, agora segue com uma programação de assembleias, plenárias e luta pela água.
“Enfrentar contra o avanço do capitalismo” foi o tema central da primeira plenária. Na mesa sobre elementos do contexto nacional e internacional participaram a militante Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres; Ivan Emiliano Manzo, do movimento Pátria Grande da Argentina; e Renato Di Nicola, do European Water Moviment (Movimento Europeu pela Água).
De acordo com as análises da plenária, o capital passou a se reestruturar em todo o mundo a partir de 2009, em busca do aumento de lucros e com a exploração como saída para a sua crise. A retirada de direitos dos trabalhadores e a apropriação dos recursos naturais, incluindo a água, fazem parte dessa estratégia.
Para Renato Di Nicola, da European Water Movement, “a luta pela água unifica povos de todo o mundo”. O ativista aponta a realização de mobilizações contra a mercantilização desse recurso em diversos países. Um exemplo é a Itália, que barrou o processo de privatização do saneamento a partir de um plebiscito popular que levantou 27 milhões de votos.
Na América Latina, a crise econômica do capital marcou o início de um avanço conservador de ações políticas devastadoras contra todos os povos. O primeiro golpe foi em Honduras, em 2010, e a prática se espalhou pelo continente. “Não somos mais representados enquanto povo, os próprios empresários representam o país. E essa onda neoliberal vem acompanhada de opressão e repressão àqueles que lutam”, indigna-se Ivan Emiliano Manzo.
Representante do movimento Pátria Grande, Ivan, aponta que esse avanço do capital sobre a América Latina se realiza por meio de reformas, como a trabalhista e tributária, e da privatização dos recursos naturais como água e terra.
“No Chile avançam os empreendimentos minerais, no Brasil querem privatizar a água, e na Argentina avançam as lavouras de soja transgênica e seus agrotóxicos. Em todo o continente latino-americano a exploração de petróleo e o desmatamento poluem, destroem e ameaçam a vida de camponeses, quilombolas, povos tradicionais e comunidades pobres”, relata Ivan.
“A recuperação da democracia não é a recuperação de um processo eleitoral, de votar em alguém. Isso é apenas um elemento da democracia. Não vamos avançar na democracia se não tivermos direitos, se não avançarmos nas nossas lutas. Temos o poder de construir um projeto político para isso, e vamos fazer a partir da radicalidade e da unidade”, afirma Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres.
MST acampa no FAMA
“Ao lutar pela Reforma Agrária, nós também lutamos pela água. Tanto a água que está no solo, quanto a água que está no subsolo, pois hoje elas estão em disputas por interesses das corporações”, diz Nenem, da direção do MST.
Nenem afirma que o MST encampa o FAMA para trazer a experiência de luta pela terra, contra o controle das grandes empresas do capital internacional e agronegócio no campo. Mas também “viemos pelo chamado de unidade da classe trabalhadora em defesa da água”, afirma a Sem Terra.
“Queremos a água para produzirmos alimentos saudáveis, pra gente beber e viver. Não para as grandes empresas a transformarem em mercadoria”, conta a militante do MST.
Além disso, o Movimento também pauta no FAMA as denúncias de violência no campo, criminalização, mortes, prisões e perseguições das pessoas que encaram a luta pela terra. “Convocamos todas as organizações para irmos contra a privatização e pelos nossos bens da natureza”, finaliza Nenem.
*Editado por Rafael Soriano