Em manifesto, mulheres negras denunciam violência do Estado
Da Página do MST
Neste 25 de julho, dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americano e Caribenha, o Coletivo Marcha das Mulheres Negras se manifesta contra o racismo e o machismo e em defesa do bem viver.
Entendendo que para uma mulher negra todos os dias são de luta, o 25 de julho se configura como mais um momento simbólico de luta e resistência no Brasil, na América Latina e no Caribe, principalmente no atual momento em que atravessamos uma grave crise política, econômica e social.
É um dia fundamental para que coletivos, organizações e movimentos que fortalecem e legitimam a luta destas mulheres, exijam do Poder Público ações mais eficazes que garantam seus direitos. Nesta data também é comemorado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Líder do Quilombo Quariterê no Mato Grosso, após assumir a liderança da comunidade depois do marido, José Piolho, morrer. Tereza viveu no século 18 e foi morta por homens brancos numa emboscada.
“Neste 25 de julho, nós mulheres negras e indígenas estamos nas ruas com a força das nossas ancestrais e de milhares de lutadoras anônimas para gritar bem alto que seguimos em marcha… Celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e o Dia Nacional Tereza de Benguela, marcos da luta das mulheres negras em todo o Brasil e no Continente.Somos o coletivo Marcha das Mulheres Negras de São Paulo que ajudou a construir a Marcha das Mulheres”, afirma o Coletivo em trecho do manifesto.
Em 2015, a luta contra o Racismo, a Violência e a reivindicação pelo direito do Bem Viver, levou cerca de 50.000 mulheres negras a Brasília. Desde então, o Coletivo Marcha das Mulheres Negras já realizou duas marchas em São Paulo, colocando nas ruas mais de 5 mil mulheres negras no dia 25 de julho de 2016 e 2017.
Confira o Manifesto na íntegra
No manifesto, as mulheres negra ressaltam a importância da unidade no enfrentamento as opressões que sofrem diariamente.”Vamos garantir o direito de sermos livres e donas de nossos corpos, sem nenhuma interferência de fundamentalistas de qualquer natureza. Marchamos pela construção de um novo marco civilizatório que seja antirracista, anticapitalista e que contemple as mulheres negras de forma estrutural. Não há mudança real que não passe por nós, mulheres negras!”, ressaltam.
Vivemos em uma sociedade estruturalmente racista, onde os índices da violência são extremamente altos. O Atlas da Violência 2018, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que entre 2006 e 2016 a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras. Em relação aos dez anos da série, a taxa de homicídios para cada 100 mil mulheres negras aumentou 15,4%, enquanto que entre as não negras houve queda de 8%.
Ou seja, os dados demonstram que os homicídios, feminicídios e estupros, podem ser fruto de processos anteriores de violências visíveis e não visíveis, como violência psicológica, patrimonial, física ou sexual, que revela como a violência doméstica e familiar também tem crescido, pois os agressores são, em maioria, pessoas do convívio próximo. Além das violências serem recorrentes e comumente acontecerem nas casas e lares das menores.
Nesse sentido, a marcha das mulheres negras é colocada como um espaço central para se exigir de formulação de políticas direcionadas e que evidencie o papel do Estado, que ao negar essas políticas mantém o círculo do racismo institucional e a lógica estrutural de opressão que nos perpassa como sociedade desde sua formação.
*Editado por Iris Pacheco