“O Acampamento Nacional insere a Juventude Sem Terra na luta política”, destaca dirigente do MST
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
Entre os dias 6 e 8 de agosto, cerca de 500 jovens dos diversos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária do MST, em todo o Brasil realizam em Corumbá, no estado de Goiás, o Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra.
A atividade é em preparação à Marcha Nacional Lula Livre, que acontece de 10 a 15 agosto, em Brasília. Os jovens constroem o Acampamento debatendo o momento político que vive o país e as tarefas da juventude na conjuntura, a partir de uma programação que envolve rodas de conversas, oficinas e atividades culturais.
De acordo com Paulo Henrique Campos, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, o Acampamento é fruto do processo de trabalho de base e organização dos jovens em seus territórios. “O Acampamento é a culminância de um processo de intensa mobilização com a Juventude dos acampamentos e assentamentos do MST”, reforçou o jovem.
Durante entrevista para a Página do MST, Paulo Henrique reforçou o caráter do Acampamento, bem como os desafios gerais da juventude camponesa na luta política.
Confira entrevista completa:
Na conjuntura que vivemos, o que representa o Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra?
Estamos vivendo um momento complexo da conjuntura onde, por um lado, avança o Golpe no Brasil e, por outro, avança a resistência da classe trabalhadora. A juventude sempre foi importante nos momentos históricos de saídas políticas para o Brasil e o nosso Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra se coloca nessa conjuntura com o objetivo de inserir a Juventude Sem Terra na luta política da classe trabalhadora.
O Acampamento cumpre ainda um papel histórico, anterior à Marcha Nacional Lula Livre, mas também é resultado de um grande processo de organização da Juventude do MST.
Fruto de um amplo processo de trabalho de base, de organização e de formação política com a nossa juventude Sem Terra. O Acampamento é a culminância de um processo de intensa mobilização com a Juventude dos acampamentos e assentamentos do MST.
Uma das tarefas do Acampamento é preparar a Juventude Sem Terra para a Marcha Nacional Lula Livre, como será esse processo?
As Marchas Nacionais que o MST historicamente realizou, desde 1997, depois em 1999 e em 2005 são marcas na história das gerações do Movimento. A Marcha de 2005, por exemplo, funda o Coletivo de Juventude do MST, onde cerca de 60% dos marchantes eram jovens. Após 2005, tivemos uma série de atividades que vai desenvolvendo e preparando essa geração de militantes do Movimento.
A Marcha Lula Livre tem um processo de construção internamente em nossas bases, há muito tempo, mas também resulta da construção coletiva da classe trabalhadora, a partir da prisão do companheiro Lula. A Juventude do MST tem uma tarefa fundamental, que é conduzir politicamente essa Marcha Nacional.
O segundo papel da Juventude Sem Terra é de tornar a Marcha um grande momento de agitação e propaganda com a sociedade, debatendo a Reforma Agrária Popular, trazer a nossa simbologia da luta e apresentar para a sociedade uma saída política de um Projeto Popular para o Brasil.
Com nosso lema “Juventude Sem Terra: organizando a rebeldia para o Projeto Popular”, apontamos que todo esse processo de preparação e realização da Marcha culmine na construção de um projeto de país, que passa pelas eleições, com a candidatura de Lula, mas também de apresentar para a sociedade uma alternativa.
Quais seriam então as principais tarefas da Juventude Sem Terra na construção do Projeto Popular?
A primeira tarefa é a organização da juventude em nossos territórios. Essa deve ser a nossa primeira tarefa, organizar os jovens nos acampamentos e assentamentos em todo o país. Para a construção do Projeto Popular, nós precisamos acumular força social e isso significa estarmos organizados.
A segunda tarefa é construir um novo modelo de produção no campo, que está baseado na produção de alimentos saudáveis, na agroecologia e na cooperação agrícola. A tarefa de produzir alimentos saudáveis deve ser histórica para a Juventude do MST.
O terceiro desafio é o da construção de uma Revolução Cultural, em que a juventude precisa impulsionar a mudança de uma cultura política no campo, mas também de ir transformando a cultura política da esquerda e da sociedade de forma geral.
Para além disso, temos diversas tarefas essenciais na construção de um projeto de país e do nosso projeto de Reforma Agrária Popular, como a massificação, a formação política, o trabalho de base e a agitação e propaganda, bem como a necessidade de construir a unidade entre as forças populares.
Como o Acampamento pretende avançar no debate das tarefas da Juventude Sem Terra na luta e construção da Reforma Agrária Popular?
A Reforma Agrária Popular depende do que a juventude se propõe a fazer nesse momento histórico, com um conjunto de tarefas que estão colocadas não só para o MST, mas para o conjunto dos camponeses e camponesas, desde a produção agroecológica, mas também de produzir novas relações sociais e econômicas.
O debate da Reforma Agrária Popular em nosso Acampamento servirá para que a nossa juventude entenda o momento que estamos vivendo e os desdobramentos dessa conjuntura na agricultura brasileira, entendendo quais são os nossos inimigos, compreender a totalidade do nosso projeto e o papel da juventude na construção do mesmo.
Os jovens da nossa base acampada e assentada têm uma tarefa fundamental nessa construção, localizada na necessidade de debater o projeto político para o país, mas aliado ao nosso horizonte de construção para o campo.
Em sintonia com as bandeiras de luta da classe trabalhadora, o Acampamento apresenta em seu ato político a unidade em defesa da liberdade e candidatura de Lula, o que esse simboliza para as organizações de juventude do campo?
A unidade das forças populares nessa conjuntura é uma condição de existência, fazendo-se cada vez mais necessário, entre as organizações da juventude esse desafio é ainda maior, pois sabemos da nossa tarefa de condução e aprofundamento das lutas.
A juventude camponesa, que não representa a maioria da juventude brasileira, mas representa uma parcela significativa, cumpre uma tarefa de apresentar diretrizes comuns em torno dos principais desafios da juventude que vive no campo.
Em conjunto com as organizações da Via Campesina e nossos aliados da Frente Brasil Popular, vamos pautar que a nossa unidade nesse período é extremamente necessária, pois o jovem é um dos sujeitos mais atacados pelas ideias conservadoras e pela retirada de direitos.
Além de reforçar coletivamente que precisamos construir um programa unitário de lutas, pautas e formação política, reafirmamos a nossa defesa da candidatura do companheiro Lula. Pois, temos consciência de que o avanço nas várias políticas públicas para a juventude do campo foi em detrimento desse período de avanço que vivemos nos últimos anos, com acesso à universidade e de diminuição do êxodo rural.
*Editado por Solange Engelmann