Povo em Luta!

Marchar é uma forma de luta da classe trabalhadora em todo o mundo

As marchas que ocorrem na América Latina e em todo o mundo, são realizadas pela classe trabalhadora e tem acontecido ao longo da história

Foto: Júlia Dolce

Por Antonia Ivoneide*
Da Página do MST 
 

Historicamente o povo, ou seja, a classe trabalhadora tem feito marchas, como tática de luta para mostrar o que ocorre no países e chamar atenção da sociedade para a realidade em que vivem e reivindicar direitos básicos em todo o mundo.

Várias marchas marcam a história, lembramos algumas, como a marcha dos Hebreus, do povo que era escravo no Egito, marchou no deserto em busca da libertação. A marcha de Jesus sobre Jerusalém “se calarem as pedras gritaram”. Marcha do “Sal” na Índia, iniciada com Gandhi contra o monopólio britânico que cessava a autonomia do povo, viviam como colônia da Inglaterra e que impedia o povo até de extrair sal, o povo marchou durante 25 dias ate o litoral. A Marcha do Silêncio feita pelos Zapatistas, onde milhares de indígenas marcharam em silencio exigindo “democracia, justiça e liberdade”. 

As marchas que acontecem em todo o mundo e principalmente na América Latina, são marchas da classe trabalhadora e que tem sido realizadas ao longo da história. 

No entanto, muitas vezes a direita tem se apropriado do nome marcha, porém o que eles fazem é passeata. As  marchas, nas ruas, nas estradas, praças, pertencem ao povo, a classe trabalhadora.

Marchar é mais que andar, é tornar visível as pessoas e a situação de um povo que busca transformação social. É denunciar e anunciar. É construir a unidade e diálogo entre as pessoas que marcham, mas também com a sociedade por onde passam as colunas de marchantes.

O MST recupera a marcha como uma forma de luta em todos os espaços, nos municípios, nos estados, onde se organiza. No contexto nacional, o Movimento tem marchado em momentos importantes da sua existência. A marcha de 1997, um momento decisivo para os Sem Terra, período de muita repreensão e isolamento, com a necessidade de afirmação de políticas para os assentamentos e o reconhecimento do MST em todas as regiões, além da denúncia do Massacre de Eldorados do Carajás (PA), em que foram assassinados 21 trabalhadores, pela Política Militar do estado, no dia 17 de abril do ano anterior.

Em 2005, marchamos para propor ao governo e a sociedade uma pauta dos trabalhadores/as do campo, principalmente para os assentados e para as famílias acampadas as margens das Rodovias. Realizamos a marcha para denunciar a paralisação da Reforma Agrária e a necessidade de avançar com a estruturação dos assentamentos. Também convocamos a sociedade para se organizar e intervir no governo. E propomos politicas de créditos, educação e proposta de várias políticas públicas e sociais de interesse da classe trabalhadora. 

Em 2018, passamos por um momento crucial de luta. O golpe que o país sofreu em 2016, retirou do poder a presidenta eleita pelo voto do popular, Dilma Rousseff (PT), assumindo um governo ilegítimo. Que retirou os direitos da classe trabalhadora e avançou nas privatização das empresas públicas, das estruturas públicas, (aeroportos, estradas, terminais rodoviários), e dos serviços públicos.

A retirada de direitos aprovadas pelo legislativo e legalizada pelo judiciário, propagada pela mídia golpista refletiram nos gastos das políticas públicas, influenciando no processo de desmantelamento da educação, da saúde e da assistência. As reformas como a trabalhista, destruiu a CLT e legalizou o trabalho precarizado, o risco eminente da reforma da previdência que retira o direito dos trabalhadores se aposentarem e outros benefícios, abrindo espaço para a previdência privada, os fundos de pensões.

A Reforma Agrária ficou completamente parada, sem nenhuma área desapropriada. Além de enfrentar projetos de legalização da grilagem de terra em todo país, e a privatização dos assentamentos através da lei 13.465. Diante disso, vários foram os motivos para nos pôr em marcha, principalmente pela retomada da democracia, as eleições não podem ser uma forma de legitimar o golpe e o retrocesso no país. Por isso, em 2018 foi fundamental marchar pela democracia e pelo direito de Lula ser candidato e correr às eleições.

Diante disso, neste ano, mesmo com Lula na Presidência da República, nas Jornadas Nacionais de Luta de março e no Abril de Lutas, o MST seguiu em marcha para o cobrar o assentamento de pelo menos 65 mil famílias acampadas, que há décadas seguem à espera da Reforma Agrária; a estruturação dos assentamentos, recursos para o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), políticas públicas para a agroindustrialização e o desenvolvimento do campo.

Entendemos que as saídas só serão encontradas junto com o povo. E que a impunidade e a violência cometida aos povos do campo e da cidade, principalmente contra as mulheres, sobretudo, as negras e LGBTs.

Vocês nos escutaram! Pois somos os pés que pisam sobre a dor e a morte, a vós abafada pela a fome e a ameaça. Os mesmos braços que produzem nos erguem rompendo as correntes das opressões e das prisões. Somos como a água do mar, a força que não pode ser detida.  

*Dirigente do Setor de Produção e assentada do MST no Ceará. 

**Texto publicado pela primeira vez em 2018. / ***Editado por Solange Engelmann