Assentados do MST discutem igualdade de gênero em seminário do arroz agroecológico

Depois de 17 anos de existência, grupo gestor debate pela primeira vez essa temática no evento estadual
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Assentados do MST discutem igualdade de gênero

 

Por Maiara Rauber
Da Página do MST

Os espaços que as discussões sobre relações de gênero vêm alcançando são os mais diversos, entre eles o seminário estadual do arroz agroecológico, promovido anualmente pelo MST no Rio Grande do Sul. Em sua 17ª edição, realizada no dia 30 de agosto no Assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul, na região Metropolitana de Porto Alegre, Karen Lose, coordenadora executiva do movimento gaúcho ElesPorElas, palestrou sobre formas de combater o machismo.

Essa é a primeira vez que o assunto foi incluído na agenda dos assentados que produzem arroz orgânico no estado. A pauta, determinada por orientação do MST Nacional, teve o intuito de colocar em debate as relações de gênero tanto para as mulheres quanto para os homens Sem Terra.

HeForShe, que é o movimento de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero, se soma à luta feminista travada há décadas pelas trabalhadoras camponesas e urbanas. As suas bandeiras buscam alcançar a igualdade de gênero, direitos humanos das mulheres e o seu empoderamento. Durante o seminário, Karen ressaltou que a Assembleia Legislativa do RS, por meio do deputado Edegar Pretto (PT), criou em abril de 2017 o Comitê Gaúcho Impulsor do Movimento ElesPorElas, tornando-se o primeiro parlamento brasileiro a aderir a essa iniciativa.

O movimento cria compromissos institucionais e corporativos para incentivar e incorporar em empresas, governos e universidades a igualdade de gênero. Inclusive, o MST também faz parte da iniciativa. 

O comitê já realiza várias ações a nível estadual, entre elas o envolvimento dos clubes da dupla Grenal (Grêmio e Internacional) para atividades em seus estádios de futebol; e a campanha Fim da Linha para a Violência contra a Mulher, em parceria com a Trensurb. O objetivo é evitar o assédio sexual contra a mulher dentro do metrô.

A coordenadora executiva do ElesPorElas enfatizou a necessidade de envolver os homens na luta pela igualdade entre os gêneros. Ela ainda afirmou que “o feminismo não é o oposto do machismo”, pois o primeiro luta, entre outras questões, pela igualdade entre os gêneros e o empoderamento econômico das mulheres. Já o segundo busca exercer o poder sobre a mulher, também conhecido como patriarcado.

Segundo Karen, nesta luta pela igualdade é importante destacar as conquistas das mulheres trabalhadoras rurais. Há pouco tempo elas tiveram direito a aposentadoria, à documentação e de ter a concessão de uso de terras destinadas à Reforma Agrária em seu nome. “Para que mais destas conquistas sejam alcançadas pelas mulheres, é preciso também ter o engajamento dos homens nesta luta”, acrescentou.

 

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Karen Lose, coordenadora executiva do movimento gaúcho ElesPorElas

Violência contra a mulher

Existem vários tipos de violências exercitadas por homens contra as mulheres. Como forma de difundir a luta delas contra iniciativas machistas existe o 25 de novembro, que é o Dia Internacional da Não-violência Contra a Mulher.

Conforme Karen, a primeira forma de estar junto nessa luta com as mulheres é não julgá-las caso sofram algum tipo de violência e ainda permanecem com seus companheiros. De acordo com ela, uma forma de enfrentar esse tipo de situação é não se calar ao saber de um caso de violência contra a mulher.

Para sensibilizar sobre o tema, os assentados assistiram ao vídeo que conta a história da jovem Barbara Penna, vítima de violência doméstica em Porto Alegre. Em 2013, ela foi queimada e espancada pelo ex-namorado, jogada do terceiro andar de um prédio. Teve seus dois filhos mortos por asfixia e já passou por mais de 220 cirurgias. Hoje, luta por igualdade de gênero e é um dos exemplos no combate à violência contra a mulher.

Por fim, Karen convidou os participantes do Seminário do Arroz Agroecológico a contribuírem para a transformação da sociedade machista em que estão inseridos. Um dos passos é continuar apostando na formação de homens para fortalecer nos acampamentos e assentamento o debate de gênero. “Não haverá revolução se ela não for feminista”, concluiu.