Por mais representatividade, mulheres negras lançam pré-candidaturas ao legislativo
Por Jaqueline Deister
Do Brasil de Fato
Dados da União Interparlamentar apontam que o Brasil ocupa a 154° posição entre 193 países no ranking de presença feminina nos parlamentos. Com menos de 10% das cadeiras na Câmara dos Deputados ocupadas por mulheres, o Brasil amarga o posto de país com menor representação parlamentar feminina na América do Sul.
Mudar esses números está entre as metas de muitas mulheres que irão se candidatar à uma vaga no legislativo nas eleições de 2018. No Rio de Janeiro, as candidatas do campo progressista que estão no pleito para uma vaga na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), têm em comum a bandeira dos direitos humanos e da igualdade social.
Mônica Francisco é pesquisadora e há anos atua em movimentos populares de favelas, economia solidária e rádios comunitárias na cidade do Rio. A integrante da equipe do mandato da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) conta que a sua candidatura já estava sendo debatida com Marielle e que após a sua morte, Mônica decidiu levar adiante a ideia, principalmente por entender a necessidade de grupos historicamente silenciados ocuparem o parlamento.
“Quando uma mulher negra se movimenta, como diz Angela Davis, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. As mulheres negras não têm um projeto para as mulheres negras, têm um projeto de sociedade”, ressalta a pré-candidata à deputada estadual pelo PSOL.
Movida também pelo sentimento de “mudar a estrutura”, Tainá de Paula irá se candidatar à uma vaga na Alerj pelo PCdoB. A arquiteta e urbanista tem debatido nos últimos anos a inserção da mulher na política a partir de uma perspectiva feminista. Tainá integra o movimento PartidA, que está presente em 16 cidades e promove debates sobre a importância das mulheres ocuparem mais espaços de poder.
“A eliminação das desigualdades seja ela de raça, gênero e classe precisa ser transversal em todos os setores da sociedade, inclusive entre os homens, é fundamental ampliar esse debate e que na hora do voto a gente consiga acionar a vontade política de mudança radical nesta estrutura patriarcal que a gente tem”, ressalta .
A luta das mulheres por mais representatividade nos espaços políticos no Brasil já dura cerca de 140 anos. Apenas em 1965 os direitos e obrigações eleitorais foram igualados entre homens e mulheres e somente em 1990 o Senado veria suas primeiras parlamentares mulheres ocuparem um lugar na casa.
Para Verônica Lima que é pré-candidata à deputada federal pelo PT e foi a primeira mulher negra da cidade de Niterói a assumir uma cadeira na Câmara dos Vereadores, já passou da hora de corrigir a desigualdade histórica entre homens e mulheres.
“Eu acho que em função da instituições brasileiras estarem sendo duramente questionadas sobretudo neste último período. Acho que nesse momento é muito importante que a gente tenha candidatura de mulheres, quanto maior o número de candidatas melhor, mas que isso também venha com estratégias e compromissos”, afirma a vereadora.
Mônica, Tainá e Verônica têm em comum o fato de serem mulheres, negras e com desejo de transformação social. Elas não estão sozinhas. Outros nomes do campo progressista fazem coro à voz feminista de ocupar a política brasileira e construir um país socialmente mais justo.
*Editado pelo Brasil de Fato