“É preciso equilibrar o consumo, a produção e a relação com a natureza”, explica dirigente do MST

Na semana do Dia Mundial de Alimentação Saudável, a dirigente do setor de produção fala sobre a necessidade na massificação da Agroecologia
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Antônia Ivoneide, dirigente do setor de produção do MST

 

Por Solange Engelmann
Para Página do MST

Na semana do Dia Mundial de Alimentação Saudável, comemorada no último dia 16 de outubro, a assentada do Ceará e dirigente do setor de produção do MST, Antônia Ivaneide, a Neném, ensina sobre a necessidade na massificação da Agroecoloa nos assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária, para avançar na produção de alimentos saudáveis.

“A agroecologia está diretamente vinculada à produção, na relação com a sociedade, e no processo de produção e distribuição dessa produção. As feiras agroecológicas e as feiras da Reforma Agrária são fundamentais para mostrar que produzir alimentos não é um ato de produção de mercadorias, mas de produção de comida e de vida”, explica Antônia.

O Dia Mundial da Alimentação Saudável foi criado em novembro de 1979 pelos países membros na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura. A data chama atenção para a importância da alimentação saudável, acessível e de qualidade para a população, além de denunciar a fome, a desigualdade e a desnutrição no mundo.

A luta pela Reforma Agrária Popular é também a luta pelo direito das camponesas e camponeses de produzirem alimentos saudáveis para a mesa do povo! 

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Confira:

Qual a importância da Agroecologia para a alimentação saudável da população e a soberania alimentar?

É fundamental porque a alimentação saudável não é somente uma questão do que se come, mas também de se educar, do ponto de vista da produção, da relação com os bens da natureza: terra, água, floresta. E nas relações de gênero, em relações mais humanas na sociedade.

A agroecologia também ajuda a pensar o consumo. O que estou comprando para comer? Qual minha prioridade no atual momento, sobre a alimentação? Vou consumir uma alimentação saudável, que sei de onde vem ou vou consumir algo que não sei a origem?

Por isso, no MST pensamos que a agroecologia está diretamente vinculada à produção de alimentos, na relação com a sociedade, e no processo de produção e distribuição dessa produção. As feiras agroecológicas e as feiras da Reforma Agrária são fundamentais para mostrarmos às pessoas que produzir alimentos não é um ato
de produção de mercadorias, mas de produção de comida e de vida.

A soberania alimentar é baseada no fato de não sermos dependentes. É parte da agroecologia porque se relaciona a todo o processo de não dependermos de insumos (adubos, fungicidas, pesticidas, etc.). Há uma carga de produtos químicos, agroquímicos e agrotóxicos que são vendidos pelas empresas e deixam o agricultor
dependente.

Para que haja soberania alimentar temos que desenvolver outras formas de criar os nossos próprios defensivos naturais. A soberania alimentar também se vincula à semente, que precisamos guardar. Com a terra e a luta pela Reforma Agrária Popular.

Portanto, a agroecologia e a soberania alimentar estão vinculadas aos processos de garantirmos nossa autonomia, sair da dependência e definirmos o que vamos fazer com a nossa produção.

Qual o papel da Reforma Agrária Popular na massificação da Agroecologia?

A Reforma Agrária Popular se vincula à produção de alimentos saudáveis. Quando o MST propõe a proposta é dar uma função social para a terra conquistada. O objetivo central é superar o modelo tradicional de agricultura, em que a função social da terra passa a ser produzir alimentos saudáveis para alimentar as famílias assentadas e
acampadas, mas também para alimentar a população, principalmente nos municípios mais próximos aos assentamentos.

A Reforma Agrária Popular cria um processo de articulação e relação com a sociedade para fomentar um outro projeto para agricultura, voltado à agroecologia, na garantia da soberania alimentar e de uma alimentação saudável.

Nesse projeto repensamos a nossa relação com a terra e com os bens da natureza. E apresentamos outra alternativa com relação à alimentação, voltada para a qualidade, ser saudável. E na quantidade, em como vamos recuperar o solo para termos capacidade de aumentar a produtividade em nossas áreas e produzir alimentos mais baratos e saudáveis.

Qual a intensão do dia Mundial da Alimentação? Por que a data foi criada?

Para chamar atenção sobre o consumo e pensar em que alimentação a gente esta comendo e distribuindo para as nossas famílias?

Num período em que a produção está globalizada, a alimentação perde o efeito da relação com a terra. Hoje na sociedade, muitos jovens e crianças que vivem na cidade, não sabem de onde vem o leite, assim como as verduras e as frutas. O Dia Mundial da Alimentação pretende estimular esse debate sobre a necessidade da alimentação saudável e a relação do ser humano com a terra e a natureza.

É muito comum hoje com o agronegócio, que traz uma ampla produção de mercadoria, dizer que o “Agro é tech, que o agro é tudo”. Contrário à isso nós dizemos: “o que é tudo, é a vida, é as pessoas, é a alimentação, e termos uma relação equilibrada com a natureza”.

Não adianta reunir milhares de estoques de produção que destrói a nossa natureza. Estamos com dificuldade de respirar, bebendo água contaminada… É preciso que a gente equilibre o consumo, a produção e a relação das pessoas com a natureza.