Nota de esclarecimento sobre o acampamento Luís Maranhão, em Campos dos Goytacazes
Da Página do MST
A luta do MST/RJ pela desapropriação do complexo Cambaíba, um conjunto de sete grandes usinas há muito tempo improdutivas, vem de longa data. Desde 1998, nós, trabalhadores Sem Terra, tentamos efetivar aquilo que a Constituição de 1988 definiu como uma política pública constitucional: a Reforma Agrária.
Esbarramos durante essas duas décadas no total descompromisso do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e numa ação ofensiva do Poder Judiciário local, cujo papel vem sendo impedir o acesso à terra e à dignidade para milhares de trabalhadores.
O descaso dos poderes públicos gesta um reflexo direto na violência da luta pela terra. Uma violência que se demonstra nas decisões de reintegração de posse, nos abusos das autoridades do campo da segurança e também no avanço sobre as áreas de acampamento e assentamentos das mazelas urbanas.
Sem nenhuma perspectiva de verem sua luta por terra se efetivar diante do verdadeiro abandono em que se encontram, é comum muitas desistências durante o processo de luta debaixo das lonas pretas. Sem mencionar o assédio de grupos que mantem viva a trajetória histórica no mundo rural. O coronelismo não é apenas uma posição social, mas também um valor social, uma ideologia que impregna a visão de mundo das elites agrárias, do universo político e, porque não dizer, de muitos trabalhadores que acreditam ser a expressão do poder de mando do senhor feudal.
Nossa luta quando ocupamos uma terra improdutiva, não é apenas para realizar a distribuição de terra, mas é também para romper com a tradição de dominação e opressão que persiste historicamente no campo.
No entanto, a luta travada contra esses poderes dominantes às vezes nos obriga ao recuo. É o que ocorre nesse momento com o acampamento Luís Maranhão.
O acampamento luís Maranhão foi formado em 2013 com a retomada da luta pelas terras na região da Cambaíba. O INCRA estava, nesse momento, totalmente inerte e o Judiciário ativo suspendendo todos os prazos em favor do proprietário, demonstrando uma aliança também histórica entre o poder judiciário e latifundiários.
No decorrer de nossa luta, perdemos um grande e inestimável companheiro, Cicero Guedes. Não temos dúvidas de que o assassinato de Cicero reflete o descaso dos poderes públicos, quando em causa estão os trabalhadores que lutam pelo acesso democrático à terra: sem terra, indígenas, quilombolas.
Após seis anos de sua morte, ninguém foi julgado. Os que foram na época suspeitos, incluindo o mandante, acabaram impronunciados pela justiça, logo, não foram inocentados, mas também não se prosseguiu com o julgamento.
Os suspeitos de tal ação agora se encontram no Luís Maranhão. Invadiram, de forma silenciosa, paulatinamente, e trouxeram consigo uma série de trabalhadores precarizados, mas que não refletem a mística e nossos princípios.
Acreditamos que algumas dessas famílias seduziram-se pelo discurso irresponsável que comumente grupos que atuam na clandestinidade fazem para amealhar trabalhadores em estágio de extrema necessidade. Esses grupos longe de promoverem o acesso aos direitos, reproduzem a lógica da dominação no campo: o medo e a busca por efetivação do poder pela violência e intimidação.
Repudiamos veementemente essas práticas que não expressam nossos valores e nossa trajetória de luta pela Reforma Agrária nesses 35 anos.
Entendemos que o acampamento Luís Maranhão não reflete mais nossa organização, razão pela qual vimos a público esclarecer que não mais se trata de uma ocupação do MST/RJ.
Reafirmamos aqui aos parceir@s e amig@s, sem jamais esquecer nosso companheiro Cicero Guedes e sua história, nossa disposição de permanecer na luta pela reforma agrária e pela desapropriação da Cambaíba para tod@s @s trabalhador@s que realmente expressam o desejo de construir uma sociedade sem as cercas do latifúndio. Não abandonaremos nossa convicção de que só a LUTA MUDA A VIDA!
REFORMA AGRARIA, UMA LUTA DE TODOS!
CICERO GUEDES, PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE!