Um ano depois, Vigília Lula Livre segue sendo a base de apoio em Curitiba
Por Maura Silva
Da Página do MST
“Esse país tem milhões e milhões de Lulas”, essa frase dita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha um significado especial quando vemos – mais de um ano depois de sua prisão – a Vigília Lula Livre permanecer firme no propósito de levar apoio e resistência à Lula.
Pouco ou nada se sabia na noite daquele 7 de abril. Naquele momento limite era preciso fazer alguma coisa, os sonhos não poderiam ser aprisionados junto ao corpo físico de Lula em uma sala de 15m² na sede Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.
E, assim, às 23h30, logo depois de consolidada a prisão do ex-presidente, decidiu-se organizar o espaço de resistência Lula Livre. O tempo passou e a mobilização criada em um momento de emergência virou pólo central das manifestações pela liberdade de Lula em Curitiba.
Programação
A programação começa logo pela manhã às 9h com o “Bom dia, presidente Lula”; seguido do “Boa tarde, presidente Lula” (14h30) e do “Boa noite, presidente Lula” (19h).
Além disso, todas as sextas-feiras acontece o “Luzes para Lula”, uma celebração que acontece às 18h e que tem como objetivo emanar boas vibrações para fortalecer o ex-presidente no cárcere. Ao domingos também às 18h um ato inter-religioso é celebrado com intuito de captar as diversas formas de fé, crença e espiritualidade para potencializar a resistência de Lula e de todos os militantes.
Para o coordenador estadual do MST e um dos organizadores da Vigília, Roberto Baggio, o espaço é símbolo do que a força e a vontade popular é capaz de fazer.
“Um ano depois nós seguimos estruturados e mobilizados potencializando a resistência de todo país pela liberdade do Lula e pela garantia de um Brasil mais justo e igualitário. Lula é um refém político da elite brasileira e do aparelho judiciário. Diante desse processo, a Vigília cumpre o papel de ser um pólo de poio e resistência. As milhares de pessoas que passam por aqui se conectam; se conhecem e se reconhecem como classe no conjunto de iniciativas, cursos, rodas de conversa, plenárias, mística atividades culturais, políticas e de formação que temos aqui. Tudo é feito e pensado para que as pessoas possam ser lapidadas na perspectiva da luta social, assim, quando voltarem para as suas cidades estimularão o processo organizativo e formativo de solidariedade em conexão com a liberdade de Lula e com a agenda da classe e trabalhadora”, diz.
Ao longo dos meses, a Vigília Lula Livre se transformou em um espaço de convívio, de reza, de relações e de formação. O local que também recebe a imprensa, artistas, políticos e pensadores, respira política e solidariedade. “Porque somente o povo organizado poderá através de muita luta e pressão propiciar a liberdade de luta”, arremata Baggio.
Formação
Como já dito anteriormente a formação é presente na Vigília Lula Livre desde o início. No Espaço de Formação e Cultura Marielle Vive, centenas de pessoas de todo país participam das atividades.
Segundo Luana Lustosa, integrante da coordenação político-pedagógica do MST, o centro de formação, que conta com praça de alimentação e plenária, já recebeu três cursos básicos de formação, música, comunicação popular, política e economia.
Além disso, um muro com desenhos de pensadores históricos contribui com o enriquecimento político e histórico do espaço.
“Aqui recebemos caravas de diversas cidades do país. Esse processo formador é parte da experiência concreta de quem visita a Vigília”, pondera Lustosa.
Saúde
Auriculoterapia, massagem, chás, tratamentos naturais, um cuidado, uma conversa. Um carinho que faz com que dezenas de pessoas dia após dia mantenham viva a chama da esperança em um momento em que a democracia escapa por entre nossos dedos.
Assim é o espaço de saúde da Vigília Lula Livre que atende os militantes, as caravanas e também a vizinhança do entorno da Polícia Federal.
Maria Natividade, do assentamento Contestado na (Lapa) é integrante do setor de saúde do MST e uma das responsáveis pelo espaço. Ela fala sobre a importância de nos mantermos atentos e fortes.
“Cada dia aqui é aprendizado. Não é só dar remédio, nós conversamos, orientamos e tentamos fazer com que quem vem até aqui entenda a importância de se cuidar, se proteger e se valorizar. Esse é um espaço coletivo em que todos os dias as pessoas se juntam para resolver os problemas que aparecem. É uma partilha, uma troca, a solidariedade materializada”, diz.
Sem distinção
“Tem gente que vem xingar, outros pedir ajuda e agradecer, não fazemos distinção no cuidado. É preciso ter equilíbrio para ouvir as necessidades do outro e acolher quem vem procurar por ajuda nesses momentos difíceis pelo qual estamos passando. Mente sã em corpo são para nos mantermos resistentes e vigilantes no propósito de libertar o ex-presidente Lula”, conclui Natividade.
Em tempos de incertezas e, sobretudo, de injustiças, é preciso olhar também para outro lugar e compreender que o futuro nos constitui tanto quanto o passado e que aprisioná-lo não é uma opção.
Assim, a Vigília Lula Livre e todos que por ali passam ressignificam diariamente os sentidos através da solidariedade e do apoio, mostrando que não há cárcere capaz de fazer a esperança em dias melhores morrer.