Movimentos populares demonstram preocupação com rumos do Brasil
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Integrantes de movimentos populares do Rio Grande do Sul estão preocupados com os rumos do Brasil. Manifestações sobre as situações política, social e econômica do país foram feitas nessa segunda-feira (29) na 6ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (Jura). O evento, que se encerra nesta terça-feira (30), é promovido pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.
As análises ocorreram durante a mesa “A questão agrária na atual conjuntura brasileira”, que contou com as participações de Roberta Coimbra, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Maister da Silva, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); e Nelson Araújo, chefe substituto da Divisão de Desenvolvimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Silva denunciou a ofensiva do capital financeiro internacional contra as riquezas brasileiras. Segundo ele, a burguesia está de olho nas terras do Brasil não para produzir, mas para sequestrar a biodiversidade, os minérios, o petróleo e, principalmente, a água. “O sonho deles é transformar a água no principal ativo de riqueza para o agronegócio internacional. Eles querem liberdade total para sequestrar o que resta do Estado, por isso induzem candidaturas como a de Jair Bolsonaro”, declarou.
Para Silva, nesse governo de extrema direita, uma das primeiras batalhas da classe trabalhadora é contra a reforma da previdência. Ele alertou que esse projeto de Bolsonaro não é para combater privilégios, mas para deixar de investir em políticas públicas aos mais pobres e aumentar a conta bancária dos mais ricos. “A reforma vai agravar ainda mais a desigualdade e acumular mais dinheiro no bolso do capital internacional”, completou.
Preocupação com o desmonte da Reforma Agrária
Roberta Coimbra destacou que, na história da humanidade, sempre houve episódios de disputa por terra e território. A assentada afirmou que essas batalhas ocorrem especialmente em países focos de exploração, como o Brasil. Por isso, nunca se conseguiu efetivar a Reforma Agrária, uma vez que essa política vai de encontro a interesses do capital. “Esse governo [Bolsonaro] se propôs a entregar nossos territórios para o capital financeiro internacional. O que está em jogo é a soberania nacional”, alertou.
Roberta emendou que “não existe coisa mais nacionalista que a Reforma Agrária”, pois o MST faz questão de que a terra conquistada permaneça pública e cumpra sua função social. Também enfatizou que o próximo período será de extrema criminalização dos movimentos populares, o que evidencia a necessidade de expandir esse debate em escolas e universidades.
Ataque orçamentário
O ataque à Reforma Agrária vem de vários lados. De acordo com Nelson Araújo, o desmonte dessa política nacional e do próprio Incra ganhou intensidade após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando o orçamento passou a sofrer cortes drásticos e a titulação dos lotes passou a ser prioridade. “Tivemos um desmonte de todas as políticas públicas, especialmente daquelas fundamentais e estruturantes ao Incra, como a assistência técnica”, complementou.
Conforme Araújo, sobrou de herança do governo de Michel Temer (MDB) o pior orçamento ao Incra dos últimos anos: pouco mais de R$ 700 milhões para todo o país – R$ 1,8 milhão a menos que em 2015. Ele lembrou que Bolsonaro, após vai-e-vem, decidiu ao final de março suspender todas as vistorias de áreas que poderiam ser destinadas à Reforma Agrária, além de colocar coronéis e generais no comando da autarquia. “Começamos o mês de maio, e só estamos conseguindo orçamento para atender demandas judiciais. Não temos grana nem para gasolina. Consideramos 2019 um ano perdido”, lamentou.
Como se não bastasse, a situação dos assentamentos no Rio Grande do Sul piora com o avanço de projetos de mineração. Segundo Araújo, a Mina Guaíba, que a empresa Copelmi está tentando implantar entre os municípios de Charqueadas e Eldorado do Sul, compromete grande parte das áreas de Reforma Agrária que produzem arroz orgânico e abastecem cerca de 50 feiras na região Metropolitana de Porto Alegre. “Conseguimos ver o tamanho da ganância dos nossos gestores, porque a oferta de impostos é absurda aos municípios diretamente envolvidos. Há uma necessidade de reação urgente da nossa parte”, concluiu.
Editado por Fernanda Alcântara