Escola Sem Terra conquista medalhas e troféus em jogos escolares no Paraná
Estudantes atletas da Reforma Agrária participam dos jogos escolares municipais de Cascavel (PR)

Por Geani Paula de Souza
Da Página do MST
Estudantes do Colégio Estadual do Campo Aprendendo com a Terra e com a Vida, do assentamento Valmir Mota de Oliveira, município de Cascavel, região oeste do Paraná, marcaram participação nos jogos escolares municipais, que aconteceu na semana de 26/04 a 03/05, na modalidade de atletismo, tênis de mesa e futsal, rendendo uma conquista de 14 medalhas e três troféus.
Mesmo com toda ausência de condições estruturais para o treinamento, o esforço coletivo e disposição dos estudantes converteram-se em bons resultados nos jogos escolares. Ao todo foram 14 medalhas, sendo quatro de ouro, quatro de prata e seis de bronze, além de dois troféus de campeões e um de vice.
Por questões estruturais e de distância, o colégio muitas vezes ficou de fora dos jogos. Mas este ano eles conseguiram realizar as inscrições em abril e, a partir daí, se organizaram para treinar e encontrar os talentos na escola.
“Com o apoio da equipe escolar, nós fomos olhar o individual de cada aluno. Planejamos primeiro um torneio de tênis de mesa na escola, para descobrir os talentos, para então colocarmos nos jogos escolares”, descreve o educador de educação física, Adroaldo Klock.
Para a direção da escola a participação nos jogos é de suma importância, pois é uma maneira de motivar os educandos na questão dos estudos.
“Desde quando a escola foi inscrita, em abril, e os educadores vêm trabalhando e preparando os estudantes, e isto surtiu efeito na sala de aula com a questão do comprometimento. A gente faz este trabalho de compreensão sobre a importância do estudo na vida deles, e o esporte vem a contribuir”, disse o diretor Gilson Gonçalves.
Ao todo foram 19 educandos inscritos na modalidade do atletismo, 13 na modalidade de tênis de mesa e três equipes de futsal masculino e feminino.

Cascavel vai além do futebol
Silvonei Borba da Silva, 12 anos, 1° lugar em salto á distância, relatou com emoção poder participar do torneio foi experiência única. “É um orgulho estar aqui, porque muitas escolas não participam destes evento. A nossa dá essa oportunidade de participar”, enfatiza ele.
A educanda Leticia Lissaraça, 12 anos, participou há dois anos na modalidade de futsal, e este ano ficou 1° lugar na modalidade de arremesso de peso. “Quando eu soube que a nossa escola estava nos jogos eu fiquei muito feliz, pois eu ia poder participar novamente, e eu gosto de participar das atividades na escola”, disse com entusiasmo.
O diretor reforça também o significado para estes participantes. “Nós alcançamos resultados positivos nos jogos escolares em questão de aprendizado dos nossos estudantes, tanto em rendimento quanto na participação. Isso é resultado do esforço dos professores e dos próprios estudantes”, afirmou o educador.
Motivação para o atletismo
Uma das motivações para o atletismo é a Maratona Valmir Mota, que já acontece a três anos no assentamento com a organização do professor Adroaldo, que sempre incentiva os educandos e a comunidade a participarem.
A maratona é uma corrida realizada no assentamento juntamente com os adolescentes do colégio estadual, a escola municipal, e também a comunidade para motivar não só o interesse no esporte, mas também de interação entre os públicos envolvidos.
Desde 2016, ano em que teve início a maratona, muitos jovens se motivaram a praticar outros esportes além do futebol. Segundo o professor Adroaldo, foram as maratonas que despertaram o desejo pelo atletismo.
“O esporte é fundamental tanto para as questões da saúde física dos estudantes, quanto para as relações sociais que são construídas no espaço da escola. Para eles, participar dos jogos é motivador até para a questão dos estudos”, diz Klock.
Estrutura do Colégio
O Colégio Estadual do Campo Aprendendo com a Terra e com a Vida existe desde o ano de 2013, e atende hoje 99 estudantes desde o 6° ano do ensino fundamental ao 3° do ensino médio. Toda a estrutura que existe é de madeira e foi construída pela comunidade.

conquistados troféus
Além das salas de aula, secretaria, biblioteca e refeitório serem todos de madeira, no colégio não existem laboratórios e nem quadra para os estudantes poderem treinar. O espaço de campo de grama que se tem foi construído com ajuda doações de grama, e hoje os educandos que organizam a manutenção através dos núcleos setoriais.
“Somos privilegiados na escola através dos núcleos setoriais, e eu enquanto professor de educação física dentro da proposta da escola procuro aproveitar ao máximo estes grupos. Eles dão um grande suporte organizando a escola, já que o campo estava com a grama morrendo, enfatiza o professor.
Segundo a direção, a construção do colégio está parada e não tem data para iniciar. “Estas estruturas estão paradas desde 2013, quando foi pedida a construção do prédio, mas por questões burocráticas e políticas travaram esse processo não caminhou”, esclarece Gonçalves.
Neste caso, o impasse entre o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), e o Estado têm sido a fonte dos problemas burocráticos para a melhoria da escola. “Para a construção do colégio, precisamos de um documento de cessão de uso do terreno, que segundo o Estado é o Incra que disponibiliza. Entretanto, o Incra alega que não tem profissionais para vir fazer a topografia e medição do terreno, para somente depois deliberar o documento”, explica o diretor.
Enquanto isso, estudantes, professores e comunidade aguardam e se organizam para resolver os problemas na estrutura do colégio, e assim dar continuidade na vida escolar desses jovens.
Editado por Fernanda Alcântara