Coordenador da chacina de Felisburgo (MG) é condenado a 195 anos de prisão
Por Rafaella Dotta
Do Brasil de Fato
Ocorreu nesta segunda-feira (13) o julgamento de um dos responsáveis pela chacina de Felisburgo (MG). Calixto Luedy Filho foi apontado como coordenador do assassinato de cinco pessoas do acampamento Terra Prometida, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na cidade de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Em decisão de um júri popular, Calixto foi condenado a 195 anos e nove meses de prisão. Mais de 150 integrantes do MST lotaram o auditório do 2º Tribunal no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte (MG), onde acompanharam o julgamento que durou 13 horas.
Para Kelly Gomes Soares, filha de uma as vítimas fatais e moradora do acampamento Terra Prometida, a condenação de Calixto significa diminuir o medo que as famílias continuam sentindo. “Se ele fosse absolvido, a gente sentiria uma impunidade e continuaria com medo de um novo massacre. Nossa região é de coronelismo. Ele ou outro poderia voltar e fazer alguma coisa”, explica.
O deputado estadual André Quintão (PT), também presente no julgamento, comenta que a condenação de Calixto e dos outros assassinos significa um progresso para diminuir a violência no campo. “A chacina de Felisburgo é uma das páginas mais tristes e violentas de nossa história. Esperamos romper com esse ciclo de impunidade”, confia.
Kelly lembra que, mesmo com a condenação, a jornada não termina e os sem-terra continuarão a lidar com os demais resultados da chacina. “Depois do massacre, as pessoas criaram um trauma. A gente tem um estudo com psicólogos que constatou um estado de depressão e problemas com álcool muito grandes. Hoje as famílias tentam se reinventar”, explica.
Reconstrução do crime
Segundo o depoimento das vítimas, Calixto era o braço direito e primo do fazendeiro Adriano Chafik Luedy, o mandante do crime. “Era ele que representava o Adriano na região”, declarou uma testemunha. Diversas vítimas o apontaram como o coordenador do grupo de capangas que executou a chacina, assim como promotor de ameaças anteriores, e afirmam ainda que o reconheceram no momento dos assassinatos.
Testemunhas declaram que, por mais de uma vez, presenciaram Calixto fazendo ameaças verbais e físicas contra lideranças sem-terra e portando armas de fogo. Em uma das intimidações, registrada em boletim de ocorrência, um membro da Polícia Militar de Felisburgo, conhecido como Sargento Elias, foi quem conteve Calixto enquanto ele agarrava um dos coordenadores do acampamento pela camisa em um posto de gasolina.
Foguetes para reunir os sem-terra e massacrá-los
Um agravante conta na condenação de Calixto. Quando ele e os capangas entraram no acampamento Terra Prometida, encontraram a guarita vazia. Calixto teria ordenado, segundo as vítimas, que os capangas soltassem um foguete, pois aquela era a “senha” dos sem-terra para que todos se reunissem no centro do acampamento, onde os assassinos já estavam. “Não teve tempo de nada. Talvez foi até a sorte, porque senão tinha morrido mais”, afirmou uma das testemunhas.
Os advogados do réu tentaram provar a tese de que houve confronto entre sem-terra e capangas, o que as vítimas negam. Nos autos do processo, segundo o promotor de justiça Christiano Leonardo Gonzaga Gomes, do Ministério Público de Minas Gerais, constam declarações de oficiais de justiça e policiais de que sempre adentraram no acampamento e nunca foram ameaçados. “Eles portavam os instrumentos de trabalho (foice, facão, enxada), mas nunca de forma ameaçadora”, declarou o promotor.
Gomes ainda destacou que, antes da chacina, foram feitos quatro registros do Sargento Elias sobre denúncia de armas de fogo na fazenda Nova Alegria, de Adriano Chafik. Neste local, a polícia teria encontrado uma espingarda e 20 cartuchos. No acampamento sem-terra nenhuma arma foi encontrada.
Histórico
Este é o terceiro julgamento de Calixto Luedy Filho. Outros quatro homens já foram julgados e condenados: o fazendeiro Adriano Chafik Luedy (115 anos de prisão), Washington Agostinho da Silva (97 anos de prisão), Francisco de Assis Rodrigues de Oliveira (102 anos de prisão) e Milton Francisco de Souza (102 anos de prisão). As condenações aconteceram entre 2013 e 2014, todas em regime fechado. Com o julgamento de Calixto, restarão nove réus a serem julgados.
Edição: Joana Tavares/ Brasil de Fato