Curso da juventude Sem Terra da região Sul fortalece a luta pela educação pública

​O curso ocorreu na Vigília Lula Livre, em Curitiba, com educandos e educandas de escolas de acampamentos e assentamentos do MST

 

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1ª Escola de Férias da Juventude Sem Terra aconteceu no Espaço de Cultura e Formação Marielle Vive, na Vigília Lula Livre. Fotos: Valmir Fernandes 

 

Por Fernanda Almeida, Sirlene Rodrigues e Ednubia Ghisi
Da Página do MST

 
A 1ª Escola de Férias da Juventude Sem Terra da região Sul do Brasil reuniu mais de 70 educandos e educandas no Espaço Marielle Vive de Formação e Cultura, que faz parte da Vigília Lula Livre, em Curitiba. Os jovens vieram de 13 escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná e do Rio Grande do Sul – 9 delas são Itinerantes, localizadas em acampamentos do movimento. 
 

Ao longo de uma semana de curso – entre os dias 15 e 23 de julho –,  os educandos passaram por um intenso processo de formação política a partir da metodologia de educação popular. Juliana Cristina de Mello, da direção do Coletivo de Juventude do MST e da Coordenação Político Pedagógica (CPP) do curso, explica que a “intenção é potencializar a formação humana e instigar a auto-organização da juventude nas escolas, comunidades camponesas e na luta política”. As atividades foram organizadas em “tempos formativos”, com espaço para formações teóricas, oficinas de arte e comunicação, atividades organizativas e de trabalho prático, vivências culturais. 
 

A interação com a Vigília Lula Livre tornou o dia a dia do curso ainda mais marcantes: “Nesse espaço a gente tem contato com diversos sujeitos, de outras organizações, e a gente consegue manter viva a mística junto à classe trabalhadora, o sentimento de indignação, e cultivar o valor da solidariedade que é tão importante nesse contexto de prisão política do presidente Lula”, afirmou Mello.  
 

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O riso também ganhou a cena durante a programação. Os palhaços Mínima (Luz Medeiros) e Pituim (Ronaldo Pituim), integrantes da Companhia Mirabólica, apresentaram a peça o “Circo é nosso”. O humor não preconceituoso mexeu com toda a turma, e foi um dos momentos fortes de sensibilidade e formação humana. 

 

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Para o estudante Maison Moreira, do assentamento Valmir Motta, em Cascavel (PR), a formação é um reforço para as matérias vistas em sala de escola, mas com recorte especial: “A gente está reforçando essa matérias com um olhar para o povo trabalhador, olhando para a classe trabalhadora. É essencial esse tipo de curso e que o MST nos proporciona isso. A gente tem que se sentir privilegiado por estar fazendo”. 

“O curso foi importante para minha formação como militante, pois adquiri muito conhecimento e fiquei muito feliz de conhecer a Vigília Lula Livre. E o passeio foi bom, porque tivemos a oportunidade de conhecer melhor a história de Curitiba e trabalhar em grupo, o que é muito importante e o MST é isso, é trabalhar no coletivo”, relata a jovem educanda Milena Marcon, do Rio Grande do Sul.
 

Em defesa da educação pública 
 

O curso se constituiu como um espaço para debater formas de enfrentar os ataques que a educação pública e a educação do campo tem sofrido no último período. “A juventude vai assumir o seu protagonismo e dever histórico e vai se posicionar e constituir essa trincheira de defesa da educação”, explica Juliana Mello. “Para nós, a educação não é uma mercadoria, é um direito conquistado com muita luta, não foi dada de graça. Nós não vamos recuar, e a juventude vai ser resistência nessa luta”, garante.
 

Além dos estudos e da diversidade de experiências vividas ao longo da semana de curso, as educandas e educandos levam na mala um kit pedagógico com livros da editora Expressão Popular e um jornal especial sobre a 10ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, marcada para ocorrer entre os dias 12 e 16 de agosto em todo o Brasil. O jornal é a simbologia da continuidade das ações dos jovens no retorno para casa, com a construção da Jornada.  

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Redescobrindo Curitiba 
 

A história da luta pela terra foi além da sala de aula e pode ser vista pelas ruas de Curitiba com o passeio pela Linha Preta – um roteiro por locais que apresentam a participação da população negra quilombola na construção da cidade.  
 

O trajeto inicial da Linha Preta inclui 13 pontos históricos da cidade, entre eles as Ruínas de São Francisco, a Igreja do Rosário, o Memorial de Curitiba, a Praça Tiradentes e a Sociedade 13 de Maio. O roteiro ficará em constante aperfeiçoamento e seu traçado deve abranger, em breve, museus, galerias de arte, prédios históricos e teatros.  
 

Esse projeto da Linha Preta foi inaugurado durante o 2ª Congresso de Pesquisadores/as Negros/as da Região Sul-(COPENE SUL), organizado pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
 

O que a juventude Sem Terra quer para o futuro? 

As fotolegendas a seguir são resultado de uma das oficinas de comunicação do curso:
 

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“Quero que se formem muitas pessoas e que as elas tenham acesso ao ensino superior. E que não falte oportunidade de cursos para a juventude”.

Eliedson Souza Antunes, morador do acampamento da reforma agrária Variante em Porecatu-PR

 

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“Desejo conquistar um pedaço de terra para produzir alimentos saudáveis e comercializar no meu próprio município, para ter renda própria”. 

Caique Botelho Lopes, estudante no acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, Norte do Paraná
 

 

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Desejo que as leis democráticas sejam verdadeiramente cumpridas, porque na maioria das vezes as pessoas que deveriam fazerem as leis serem  cumpridas, estão corrompidas pelo poder”. 

Verônica de Almeida, Agricultora sem terra, mora no Acampamento 1º de agosto, Cascavel (PR)

 

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“O que espero para o futuro é Lula Livre. Não há prova alguma contra ele, e na realidade Lula é um preso político, pois sua liberdade pode mudar muita coisa, irá melhorar a conjuntura pela qual a classe trabalhadora vem sofrendo, principalmente se for aprovada a reforma da previdência”. 

Fernanda Almeida Padilha, moradora do acampamento 1° de Agosto, em Cascavel (PR) 

 

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“Minha preocupação com o futuro da educação é com as reformas que ainda poderão acontecer no ensino médio, pois acho que isso vai prejudicar o aprendizado político e histórico sobre a sociedade em que vivemos”. 

Mateus Bráz Werner, do assentamento Santa Rita de Cássia II, em Porto Alegre (RS)

Versos da luta

A poesia a seguir também é fruto de produção coletiva em uma das oficinas do curso: 

Mais um grito

Em grito por liberdade
O homem negro luta por seus direitos 
Choro, raiva, vazio
Acabaremos com o tal preconceito 
Sabemos que neste mundo
Temos muito da direita

Em grito por liberdade 
Levantaremos nossas bandeiras
Pelo fim da manipulação 
Sempre lutaremos em forma de manifestação

 

*Editado por Fernanda Alcântara